29/março/2015 - Domingo de Ramos - Mc 14, 1 - 15,47
A liturgia deste último
Domingo da Quaresma nos convida a contemplar esse Deus que, por amor, desceu ao
nosso encontro, partilhou a nossa humanidade, fez-Se servo dos homens,
deixou-Se matar para que o egoísmo e o pecado fossem vencidos. A cruz (que a
liturgia deste domingo coloca no horizonte próximo de Jesus) apresenta-nos a suprema
lição, o último passo desse caminho de vida nova que, em Jesus, Deus nos
propõe: a doação da vida por amor. A primeira leitura nos apresenta um profeta anônimo, chamado por Deus a
testemunhar no meio das nações a Palavra da salvação. Apesar do sofrimento e da
perseguição, o profeta confiou em Deus e concretizou, com teimosa fidelidade,
os projetos de Deus. Os primeiros cristãos viram neste “servo” a figura de
Jesus. A segunda leitura nos apresenta o exemplo de Cristo. Ele prescindiu do orgulho
e da arrogância, para escolher a obediência ao Pai e o serviço aos homens, até
a doação da vida. É esse mesmo caminho de vida que a Palavra de Deus nos
propõe. O Evangelho nos convida a contemplar a paixão e morte de Jesus: é o momento
supremo de uma vida feita doção e serviço, a fim de libertar os homens de tudo
aquilo que gera egoísmo e escravidão. Na cruz, revela-se o amor de Deus – esse
amor que não guarda nada para si, mas que se faz doação total.
Reflexão:
Quantas vezes a multidão estava perto de Jesus! Para escutá-lo, para se beneficiar dos seus gestos,
para cruzar o seu olhar, para aprender a rezar… A mesma multidão estende os
mantos ou os ramos para a passagem de Jesus e grita: “Hosana! Bendito o que vem
em nome do Senhor! Bendito o Reino que vem! Hosana no mais alto dos céus!”
Sabiam o que diziam, todos estes pobres que esperavam o Messias? Estavam
prontos a reconhecer ainda como Rei aquele que teria como trono uma cruz e como
coroa uma coroa de espinhos? O seu grito era uma aclamação, alguns dias mais
tarde o seu grito será uma condenação: “Crucifica-O!” Chegou o tempo do
silêncio que permite acolher o mistério, o mistério do Amor.
• Celebrar a paixão e a morte de Jesus é aprofundar-se na contemplação de um
Deus a quem o amor tornou frágil… Por amor, Ele veio ao nosso encontro, assumiu
os nossos limites e fragilidades, experimentou a fome, o sono, o cansaço,
conheceu a mordida das tentações, experimentou a angústia e o pavor diante da
morte; e, estendido no chão, esmagado contra a terra, traido, abandonado,
incompreendido, continuou a amar. Desse amor resultou vida plena, que Ele quis
repartir conosco “até ao fim dos tempos”: esta é a mais espantosa história de
amor que é possível contar; ela é a boa notícia que enche de alegria o coração
dos crentes.
• Contemplar a cruz onde se manifesta o amor e a entrega de Jesus significa
assumir a mesma atitude que Ele assumiu e solidarizar-Se com aqueles que são
crucificados neste mundo: os que sofrem violência, os que são explorados, os
que são excluídos, os que são privados de direitos e de dignidade… Olhar a cruz
de Jesus significa denunciar tudo o que gera ódio, divisão, medo, em termos de
estruturas, valores, práticas, ideologias; significa evitar que os homens
continuem a crucificar outros homens; significa aprender com Jesus a entregar a
vida por amor… Viver deste jeito pode conduzir à morte; mas o cristão sabe que
amar como Jesus é viver a partir de uma dinâmica que a morte não pode vencer: o
amor gera vida nova e introduz na nossa carne os dinamismos da ressurreição.
• Um dos elementos mais destacados no relato marciano da paixão é a forma como
Jesus Se comporta ao longo de todo o processo que conduz à sua morte… Ele nunca
Se descontrola, nunca recua, nunca resiste, mas mantém-Se sempre sereno e
digno, enfrentando o seu destino de cruz. isso não significa que Jesus seja um
herói inconsciente a quem o sofrimento e a morte não assustam, ou que Ele Se
coloque na pele de um fraco que desistiu de lutar e que aceita passivamente
aquilo que os outros Lhe impõem… A atitude de Jesus é a atitude de quem sabe
que o Pai Lhe confiou uma missão e está decidido a cumprir essa missão, custe o
que custar. Temos a mesma disponibilidade de Jesus para escutar os desafios de
Deus e a mesma determinação de Jesus em concretizar esses desafios no mundo?
• A “angústia” e o “pavor” de Jesus diante da morte, o seu lamento pela solidão e pelo abandono, tornam-no
muito “humano”, muito próximo das nossas debilidades e fragilidades. Dessa
forma, é mais fácil identificarmo-nos com Ele, confiar nele, segui-lo no seu
caminho do amor e da entrega. A humanidade de Jesus mostra-nos, também, que o
caminho da obediência ao Pai não é um caminho impossível, reservado a
super-heróis ou a deuses, mas é um caminho de homens frágeis, chamados por Deus
a percorrerem, com esforço, o caminho que conduz à vida definitiva.
• A solidão de Jesus diante do sofrimento e da morte já anuncia a solidão do
discípulo que percorre o caminho da cruz. Quando o discípulo procura cumprir o
projeto de Deus, recusa os valores do mundo, enfrenta as forças da opressão e
da morte, recebe a indiferença e o desprezo do mundo e tem que percorrer o seu
caminho na mais dramática solidão. O discípulo tem que saber, no entanto, que o
caminho da cruz, apesar de difícil, doloroso e solitário, não é um caminho de
fracasso e de morte, mas é um caminho de libertação e de vida plena.
• A figura do jovem que, no jardim das Oliveiras, deixou o lençol que o cobria
nas mãos dos soldados e fugiu pode ser figura do discípulo que, amedrontado e
desiludido, abandonou Jesus. Alguma vez já viramos as costas a Jesus e ao seu
projeto, seduzidos por outras propostas? O que é que nos impede, por vezes, de
nos mantermos fiéis ao projeto de Jesus?.
O grito na cruz… A multidão é versátil. Basta um orientador hábil para
manipulá-la em qualquer sentido, o melhor e o pior. Houve o melhor, para Jesus,
quando da sua entrada em Jerusalém. Houve o pior, quando a multidão gritou:
“Crucifica-O!” Pregado na cruz, Jesus gritará com uma voz forte: “Meu Deus, meu
Deus, porque Me abandonaste?” É o início de um salmo, que termina com um
cântico de esperança e de louvor. Então, diz-se, Jesus crucificado rezou todo
este salmo. O seu grito não foi um grito de desespero. Foi o grito que os
evangelistas retiveram e os assistentes (os Judeus, porque os soldados romanos
não conheciam os salmos) compreenderam que Jesus chamava o profeta Elias em seu
socorro. Eles não fizeram expressamente a ligação com o salmo. Em Jesus, é o
Filho eterno do Pai que se fez homem, “em tudo semelhante aos seus irmãos, exceto
o pecado”. Ele veio habitar o todo do humano. Era preciso que Jesus fosse até
ao fim do caminho real dos homens: até à morte física, mas primeiro até à noite
interior, onde não existe mais nada. Onde o silêncio de Deus parece ser a única
resposta. Senão, os desesperos dos homens teriam escapado à presença de Deus.
Eis porque, hoje, eu posso ir até Jesus com as minhas mais profundas
obscuridades: Ele é capaz de vir com a sua presença, para que seja a vida, e
não a morte, a vencer definitivamente!
Meditação para a Semana. . .
Que esta semana seja
“santa”… fixar alguns momentos preciosos. É prudente, na vida agitada que
levamos, reservar na nossa agenda alguns encontros preciosos que desejamos ter
com o Senhor: em cada dia, viver com Ele um momento de oração, de meditação, de
adoração; fixar as celebrações nas quais poderemos participar; etc.
Que a semana seja “santa”
nos momentos quotidianos de encontro com Jesus Cristo!
fonte:
www.dehonians.org
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