15/março/2015 - 4º
Domingo da Quaresma - Jo 3, 14-21
A liturgia do 4º Domingo
da Quaresma nos garante que Deus oferece, de forma totalmente gratuita e
incondicional, a vida eterna. A primeira leitura nos diz que, quando o homem prescinde de Deus e
escolhe caminhos de egoísmo e de auto-suficiência, está construindo um futuro marcado por horizontes
de dor e de morte. No entanto, diz o autor do Livro das Crônicas, Deus dá
sempre ao seu Povo outra possibilidade de recomeçar, de refazer o caminho da
esperança e da vida nova. A segunda
leitura ensina que Deus ama o homem com um amor total, incondicional,
desmedido; é esse amor que levanta o homem da sua condição de finitude e
debilidade e que lhe oferece esse mundo novo de vida plena e de felicidade sem
fim que está no horizonte final da nossa existência. No Evangelho, João nos recorda
que Deus nos amou de tal forma que enviou o seu Filho único ao nosso encontro
para nos oferecer a vida eterna. Somos convidados a olhar para Jesus, a
aprender com Ele a lição do amor total, a percorrer com Ele o caminho da
entrega e da doação da vida. É esse o caminho da salvação, da vida plena e
definitiva.
Reflexão:
Depois da sua saída do Egito,
o povo de Deus sabe que o seu Deus é um Deus libertador. Toda a história do
povo eleito é a história de uma aliança entre um libertador e um povo
libertado. E Jesus vem ao mundo não para o julgar mas para o salvar. Deus toma
então, sempre, a iniciativa do encontro, mas o homem tem que fazer a sua
parte... Outrora, para conhecer o país onde corria leite e mel, foi preciso que
os hebreus deixassem o Egito, terra da escravidão, e atravessassem o mar
Vermelho, depois o deserto, lugar de provação. Para serem salvos da mordida da
serpente venenosa, foi preciso que erguessem os olhos para a serpente de
bronze. Jesus será também elevado, e os homens são convidados a erguer os olhos
para O olhar, O escutar, seguir o seu exemplo, acolher a sua paz e a sua vida.
• João é o evangelista abismado na contemplação do amor de um Deus que não
hesitou em enviar ao mundo o seu Filho, o seu único Filho, para apresentar aos
homens uma proposta de felicidade plena, de vida definitiva; e Jesus, o Filho,
cumprindo o mandato do Pai, fez da sua vida uma doação, até à morte na cruz,
para mostrar aos homens o “caminho” da vida eterna… O Evangelho deste domingo
nos convida a contemplar, com João, esta incrível história de amor e nos surpreende com o peso que nós – seres
limitados e finitos, pequenos grãos de pó na imensidão das galáxias –
adquirimos nos esquemas, nos projetos e no coração de Deus.
• O amor de Deus traduz-se em oferecer ao homem a vida plena e definitiva. É
uma oferta gratuita, incondicional, absoluta, válida para sempre e que não
discrimina ninguém. Aos homens – dotados de liberdade e de capacidade de opção
– compete decidir se aceitam ou se rejeitam o dom de Deus. Às vezes, os homens
acusam Deus pelas guerras, pelas injustiças, pelas arbitrariedades que trazem
sofrimento e morte que pintam as paredes do mundo com a cor do desespero… O texto, contudo, é claro: Deus ama o homem e
oferece-lhe a vida. O sofrimento e a morte não vêm de Deus, mas são o resultado
das escolhas erradas feitas pelo homem que se prende na auto-suficiência e que
prescinde dos dons de Deus.
• Neste texto, João define claramente o caminho que todo o homem deve seguir
para chegar à vida eterna: trata-se de “acreditar” em Jesus. “Acreditar” em
Jesus não é uma mera adesão intelectual ou teórica a certas verdades da fé; mas
é escutar Jesus, acolher a sua mensagem e os seus valores, segui-lo nesse
caminho do amor e da entrega ao Pai e aos irmãos. Passa pelo ser capaz de
ultrapassar a indiferença, o comodismo, os projetos pessoais e pelo empenho em
concretizar, no dia a dia da vida, os apelos e os desafios de Deus; passa por
despir o egoísmo, o orgulho, a auto-suficiência, os preconceitos, para realizar
gestos concretos de doação, de entrega, de serviço que tragam alegria, vida e
esperança aos irmãos que caminham lado a lado conosco. Neste tempo de caminhada
para a Páscoa, somos convidados a nos converter a Jesus e a percorrer o mesmo
caminho de amor total que Ele percorreu.
• Alguns cristãos vivem obcecados e assustados com esse momento final em que
Deus vai julgar o homem, depois de pesar na balança as suas ações boas e as
suas ações más… João nos garante que Deus não é um contabilista, somando os débitos e os créditos do homem para
lhes pagar em conformidade… O cristão não vive no medo, pois ele sabe que Deus
é esse Pai cheio de amor que oferece a todos os seus filhos a vida eterna. Não
é Deus que nos condena; somos nós que escolhemos entre a vida eterna que Deus
nos oferece ou a eterna infelicidade.
O grande amor de Deus por nós… Estranha palavra de Jesus que se refere a uma
também estranha história de serpente de bronze erguida por Moisés no deserto!
As serpentes mordiam os Hebreus na sua travessia do deserto. Então, Deus diz a
Moisés para fazer uma serpente de bronze. Olhando-a, os Hebreus eram salvos da
morte. Um remédio de certo modo homeopático! Mas nos diz Jesus que «a minha
morte vai tornar-se o remédio que vos salvará da vossa morte». Como? Porque o
Pai depositou em Jesus a plenitude do seu amor: «Deus amou de tal modo o mundo
que lhe deu o seu único Filho». Então, quando Jesus entra na morte que os
homens esvaziaram de qualquer traço de amor – a morte na cruz –, Ele vive esta
plenitude de amor. Ele preenche o vazio da morte com este amor infinito. Não há
mais vazio, a morte explode na Ressurreição. Apenas Deus, porque é Amor, era
capaz de cumprir esta admirável alquimia, muito mais extraordinária que a
serpente de bronze no deserto: fazer da morte mais atroz o lugar onde se
manifestaria o poder do seu amor. Isso continua verdadeiro hoje. Ele é sempre
capaz de pôr no mais profundo de todas as mortes, mesmo as mais atrozes, a
presença do seu amor. Não o vemos ainda, tal como os discípulos só viram ao
princípio um cadáver na cruz. Mas, graças a este imenso amor de Deus por nós,
todas as nossas mortes renascerão na vida eterna.
Meditação para a semana. .
.
Somos dignos da missão, da confiança que Jesus põe em nós?
Isso não é assim tão
difícil, na realidade. Basta, muitas vezes, a atenção a pequenas coisas.
Comportar-se à maneira de Jesus junto de cada um destes pequenos que são os
seus irmãos: por uma palavra de acolhimento, um serviço prestado, um pouco de
entre-ajuda, um gesto de partilha, um momento de escuta…
Empreender também, ao
nível de responsabilidade que é a nossa, atitudes para mudar o que pode ser
mudado, para que haja menos injustiça e exclusão.
Preparar a Páscoa com os mais
esquecidos…
fonte:
www.dehonianos.org
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