Na liturgia do 5º Domingo
Comum ecoa, com insistência, a preocupação de Deus no sentido de apontar ao
homem o caminho da salvação e da vida definitiva. A Palavra de Deus nos garante
que a salvação passa por uma vida vivida na escuta atenta dos projetos de Deus
e na doação total aos irmãos. Na primeira leitura, Jahwéh apresenta a Israel a proposta de uma nova Aliança.
Essa Aliança implica que Deus mude o coração do Povo, pois só com um coração
transformado o homem será capaz de pensar, de decidir e de agir de acordo com
as propostas de Deus. A segunda leitura nos apresenta Jesus Cristo, o sumo-sacerdote da nova Aliança,
que Se solidariza com os homens e lhes aponta o caminho da salvação. Esse
caminho (e que é o mesmo caminho que Jesus seguiu) significa viver no diálogo
com Deus, na descoberta dos seus desafios e propostas, na obediência radical
aos seus projetos. O Evangelho nos convida a olhar para Jesus, a aprender com Ele, a segui-lo no
caminho do amor radical, da doação da vida, da entrega total a Deus e aos
irmãos. O caminho da cruz parece, aos olhos do mundo, um caminho de fracasso e
de morte; mas é desse caminho de amor e de doação que brota a vida verdadeira e
eterna que Deus quer nos oferecer.
Reflexão:
Se o grão de trigo quer dar fruto, é preciso que ele passe pela terra onde vai
apodrecer, mas o seu percurso não pára aí, o fruto brotará. Jesus quer dar a
vida, Ele escolhe passar pela morte, dando então a maior prova de amor. Mas a
sua missão não pára aí, a vida brotará: a sua própria vida é a ressurreição; e
a vida da humanidade é a salvação. “Não era necessário que Cristo sofresse tudo
isto para entrar na sua glória?”, dirá Ele aos discípulos no caminho de Emaús.
Se queremos que os outros vivam, é preciso que passemos por um certo número de
renúncias, de esquecimentos de nós próprios, e isto através do serviço, do
acolhimento, do perdão. Mas a nossa relação com os outros não pára aí, a
alegria brota nos rostos e no nosso próprio rosto. A morte é uma passagem
obrigatória para aquele que ama e quer amar até ao fim.
• A primeira leitura nos mostrou a preocupação de Deus no sentido de propor aos
homens uma nova Aliança, capaz de gerar um Homem Novo. Como é que chegamos a
essa realidade do Homem Novo, de coração transformado (isto é, com um coração
que pensa, que decide e que age segundo os esquemas e a lógica de Deus)? O
Evangelho responde: é olhando para Jesus, aprendendo com Ele, seguindo-O no
caminho do amor, acolhendo essa vida que Ele nos propõe. Jesus tem que ser o
modelo, a referência, o exemplo de quem quer aceitar o desafio de Deus e viver
na comunidade da nova Aliança. Na verdade, o que é que Jesus representa, para
nós? Uma pequena nota no rodapé da história humana? Um idealista com boas
intenções que fracassou no seu sonho de um mundo melhor? Um pensador original,
mas cujas idéias e perspectivas parecem defasadas face às novas realidades do
mundo? Ou é o Deus que veio ao encontro dos homens com um projeto de vida nova,
capaz de dar um novo sentido à nossa vida e de nos encaminhar para a vida
plena, para a felicidade sem fim?
• O caminho que Jesus aponta aos homens é o caminho do amor radical, da doação
da vida, da entrega total a Deus e aos irmãos. Este caminho pode parecer, por
vezes, um caminho de fracasso, de cruz; pode ser um caminho que nos coloca à
margem desses valores que o mundo admira e consagra; pode parecer um caminho de
perdedores e de fracos, reservado a quem não tem a coragem de se impor, de
vencer a todo o custo, de conquistar o mundo… No entanto, Jesus nos garante: a
vida plena e definitiva nasce da doação de si mesmo, do serviço simples e
humilde prestado aos irmãos (sobretudo aos pequenos e aos pobres), da
disponibilidade para nos esquecermos de nós próprios e para irmos ao encontro
das necessidades dos outros, da capacidade para nos solidarizarmos com os
irmãos que sofrem, da coragem com que enfrentamos tudo aquilo que gera
sofrimento e morte.
Estamos dispostos a seguir
a proposta de Jesus?
• Jesus rejeita totalmente o caminho da auto-suficiência, do fechamento em si
próprio, do egoísmo estéril, dos valores efêmeros. Na lógica de Deus, trata-se
de um caminho de perdedores, que produz vidas vazias e sem sentido, sofrimento
e frustração, medo e desilusão. Quem vive exclusivamente para si próprio, quem
se preocupa apenas em defender os seus interesses e perspectivas, quem se apega
excessivamente a uma realização pessoal cumprida em circuitos fechados,
“compra” uma existência vazia, estéril e que não vale a pena ser vivida. Perde
a oportunidade de chegar ao Homem Novo, à realização plena, à vida verdadeira,
à salvação. Talvez nesta Quaresma Jesus nos peça que abandonemos o nosso
egoísmo e que nos convertamos ao amor…
• É através da comunidade dos discípulos que os homens “vêem Jesus”, descobrem
o seu projeto, encontram esse caminho de amor e de doação que conduz à vida
nova do Homem Novo, à salvação. Isto nos recorda a nossa responsabilidade de
testemunhas de Jesus e da sua salvação no meio dos homens do nosso tempo…
Aqueles irmãos que se cruzam conosco nos caminhos da vida descobrem no nosso
testemunho o rosto de Jesus? Todos aqueles que vêm ao encontro de Jesus à
procura da vida plena encontram na forma como nos doamos, como servimos e como
amamos a proposta libertadora que, através de nós, Jesus quer passar a todos os
homens?.
“Queremos ver Jesus”… Em resposta ao pedido dos Gregos, Jesus anuncia a sua
próxima “glorificação”, isto é, a sua morte. Estranha associação esta, da morte
com a glória! Mas Jesus explica: “Se o grão de trigo, lançado à terra, não
morrer, fica só; mas se morrer, dará muito fruto”. Sabemos que, na realidade, o
grão enterrado na terra sofre uma profunda transformação. O seu invólucro
exterior deve rebentar e acabar desaparecendo para que o germe, até então
escondido, possa crescer e produzir novos grãos. Na morte de Jesus acontece a
“explosão” da Ressurreição. Os discípulos reconhecem em Jesus a presença
imediata de Deus. Então, Ele será glorificado. A “glória” é o “peso”, no
sentido de “densidade”, de um ser. A verdadeira glória, a verdadeira densidade
do ser de Jesus, é que a sua humanidade é o lugar da encarnação do Filho eterno
do Pai. Porque estamos ainda no tempo da germinação secreta, não vemos ainda
esta glória do Senhor. Mas acolhendo o testemunho dos apóstolos que “comeram e
beberam com Ele depois da sua ressurreição de entre os mortos”, podemos
deixar-nos atrair por Jesus, acolher e ver “já” pela fé o seu mistério de
glória, e testemunhar assim, no coração do mundo, que Ele, o Filho do homem, é
verdadeiramente o Filho de Deus, vencedor da morte.
Meditação para a semana. . .
Redescobrir a “caridade”… A palavra “caridade”, por vezes, parece não ter muito
sentido hoje, devido a deformações e incompreensões da própria palavra. A
encíclica de Bento XVI “Deus é caridade” ajuda-nos a recuperar o seu sentido
genuíno. É preciso redescobrir o verdadeiro sentido evangélico e amar os nossos
irmãos: pela escuta, pelo serviço, pela partilha, pela atenção aos mais pobres!
fonte:
www.dehonianos.org.
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