1
de Novembro -SOLENIDADE DE TODOS OS SANTOS - – Mt 5,1-12
Primeira
leitura: Como descrever a felicidade dos mártires e dos santos na sua condição
celeste, invisível? Para isso, o profeta recorre a uma visão. Salmo
responsorial: O salmo de hoje proclama as condições de entrada no Templo de
Deus. Ele anuncia também a bem-aventurança dos corações puros. Nós somos este
povo imenso que marcha ao encontro do Deus santo. Segunda leitura: Desde o nosso batismo, somos
chamados filhos de Deus e o nosso futuro tem a marcada da eternidade. Evangelho:
Que futuro reserva Deus aos seus amigos, no seu Reino celeste? Ele próprio é
fonte de alegria e de felicidade para eles.
Reflexão:
–
CELEBRAR OS SANTOS NA RESSURREIÇÃO
As
Bem-aventuranças revelam a realidade misteriosa da vida em Deus, iniciada no Batismo.
Aos olhos do mundo, o que os servidores de Deus sofrem, são efetivamente formas
de morte: ser pobre, suportar as provas (os que choram) ou as privações (ter fome
e sede) de justiça, ser perseguido, ser partidário da paz, da reconciliação e
da misericórdia, num mundo de violência e de lucro, tudo isso aparece como não
rentável, voltado ao fracasso, consequentemente, à morte. Mas que pensa Cristo?
Ele, ao contrário, proclama felizes todos os seus amigos que o mundo despreza e
considera como mortos, os consola, os alimenta,
os chama de filhos de Deus, os introduz
no Reino e na Terra Prometida. A Solenidade de Todos os Santos nos abre o espírito e o coração às consequências da
Ressurreição. O que se passou em Jesus realizou-se também nos seus bem amados,
os nossos antepassados na fé, e nos diz igualmente respeito: sob as folhas
mortas, sob a pedra do túmulo, a vida continua, misteriosa, para se revelar no
Grande Dia, quando chegar o fim dos tempos. Para Jesus, foi o terceiro dia;
para os seus amigos, isso será mais tarde.
O
EVANGELHO NO PRESENTE.
Os
membros de uma mesma família têm traços do rosto comuns… As pessoas que
partilham toda uma vida juntos acabam por se parecerem…
Esta festa anual de Todos os Santos reúne inúmeros rostos que trazem em si a
imagem e a semelhança de Deus. Um rosto de humanidade transfigurada. Enquanto
vivos, os santos não se consideravam como tais, longe disso! Eles não esculpiam
a sua efígie num fundo de auto-satisfação… Contrariamente àquilo que geralmente
aparece nas imagens ditas piedosas e nas biografias embelezadas, eles não foram
perfeitos, nem à primeira vista , nem totalmente, nem sobretudo sem esforço.
Eles tinham fraquezas e defeitos contra os quais lutaram toda a vida. Alguns,
como S. Agostinho, vieram de longe, transfigurados pelo amor de Deus que
acolheram na sua existência. Quanto mais se aproximaram da luz de Deus, tanto
mais viram e reconheceram as sombras da sua existência.
Peregrinos do quotidiano, a maior parte deles não realizaram feitos heróicos
nem fizeram prodígios. É certo que alguns fizeram realizações espetaculares, no
plano humanitário, no plano espiritual, ou ainda na história da Igreja. Mas muitos
outros, a maioria, são os santos da simplicidade e do quotidiano! Um rosto com
traços de Cristo. Encontramos em cada um dos santos e das santas um mesmo
perfil. Poderíamos mesmo desenhar o seu retrato-robô comum. Por muito
frequentar Cristo, deixaram-se modelar pelos seus traços. Como Jesus, os santos
tiveram que viver muitas vezes em sentido contrário às idéias recebidas e aos
comportamentos do seu tempo. Viver as Bem-aventuranças não é evidente: ser pobre de coração num mundo
que glorifica o poder e o ter; ser doce num mundo duro e violento; ter o
coração puro face à corrupção; fazer a paz quando outros declaram a guerra… Os santos foram pessoas “em marcha” (segundo
uma tradução hebraizante de “bem-aventurado”), isto é, pessoas ativas,
apaixonadas pelo Evangelho… Os santos foram homens e mulheres corajosos,
capazes de reagir e de afirmar a todo o custo aquilo que os fazia viver. Eles
mostram-nos o caminho da verdade e da liberdade. Aqueles que conviveram com os
santos – aqueles que convivem hoje –
afirmam que, junto deles, sentimos que nos tornamos melhores. O seu exemplo
ilumina. A sua alegria é o seu testemunho mais belo. A sua felicidade é
contagiosa.
TER
UM CORAÇÃO DE POBRE (Gérard Naslin)
Eram
quatro casais amigos à volta da mesma mesa. Os copos estavam bem cheios e os
pratos bem guarnecidos. No meio da refeição, a conversa fixa-se nos
acontecimentos da atualidade: Fala-se dos estrangeiros e imigrantes. O debate
aquece e cada um proclama o slogan tantas vezes repetido, o clichê veiculado
pela midia… Todos parecem em uníssono.
Entretanto, um dos convivas, que estava em silêncio há alguns minutos, abrindo
a boca, disse: “Não estou de acordo convosco, e vou dizer-vos porquê. Para mim,
todo o homem é uma história sagrada, eu acredito nisso, deixai-me dizê-lo”.
Imagina o tempo de silêncio que se seguiu, enquanto os olhares e os garfos
mergulharam nos pratos. Naquela noite, ao longo de uma refeição entre amigos,
passou-se qualquer coisa que nos faz ver o que é o Reino de Deus: um homem só,
ousava deixar a multidão para dizer: “Não estou de acordo!” em nome da sua fé
no homem e, no caso preciso, em nome da sua fé em Deus.
Não foi o que se passou no alto de uma montanha da Palestina, há 2000 anos,
quando um homem, Jesus de Nazaré, tendo diante de si os seus discípulos que
tinham deixado a multidão para o seguir, “abrindo a boca”, se pôs a instrui-los
e lhes falou de felicidade, mas de modo nenhum como o mundo fala dela?! São
estes discípulos que ele declara “bem-aventurados”. São Lucas, no seu
Evangelho, será ainda mais preciso, pois escreverá: “erguendo os olhos para os
discípulos…” E que ele lhes disse? “Bem-aventurados vós, os pobres de coração,
porque vosso é o Reino de Deus!”. Eis a força contestatória de Jesus. E as
outras seis bem-aventuranças estão lá para ilustrar a primeira, a da pobreza do
coração. Quanto à última, ela aparece como a conclusão: “Sim, se vós viveis
dessa vida, esperai ser perseguidos, porque isso impedirá as pessoas de dormir;
isso as deixará inquietas, e como as pessoas não gostam de ser inquietadas, vós
sereis perseguidos”. As bem-aventuranças, se as queremos levar a sério e
sobretudo vivê-las, colocam-nos em situação de contestação e nos fazem assumir
riscos. Sim, em certos momentos, nos fazem dizer, e sobretudo viver, um “Não
estou de acordo” em nome da nossa fé. Porque é que Jesus declara “felizes” os
seus discípulos? Porque eles são pobres de coração, porque eles estão libertos
de tudo o que poderia entravar a sua liberdade. Com efeito, a alegria é o fruto
da liberdade. Mas de que pobreza fala
Jesus? Fala da pobreza que permite crer, esperar e amar. O pobre é aquele que “faz crédito” em Deus. “Fazer
crédito” ou dizer “creio”, é a mesma coisa. Quando se fala de noivos, fala-se
de duas pessoas que confiam entre si, que se fiam uma na outra, que “fazem
crédito”. A desconfiança torna a pessoa infeliz. Confiar é aceitar um certo
abandono: aquele que grita em direção a Deus no meio do seu sofrimento ou da
sua confusão, é aquele que confia sempre em Deus. O pobre é também aquele que
espera. O rico não sabe esperar, está plenamente satisfeito. O pobre, esse,
está sempre virado para um futuro que espera que seja melhor; e, depois, ele
procura, porque pensa nunca ter totalmente encontrado. A sua vida é uma
procura, e todos os sinais que ele encontra enchem-no de alegria e fazem-no
avançar. O pobre é aquele que aceita ser criticado pela Palavra de Deus. Com
efeito, pôr-se em questão só é possível para aquele que espera tornar-se melhor.
O pobre é aquele que ama. Por não estar cheio de si mesmo, o pobre está
disponível para servir os seus irmãos. Não centrado em si próprio, abre os
olhos e vê aqueles que esperam os seus gestos de amor; ouve os gritos dos seus
irmãos e abre as suas mãos vazias para as estender àquele que tem necessidade. A sua
pobreza o faz receber e, ao mesmo tempo,
dar o pouco que tem. Jesus conhecia o coração do homem, e soube reconhecer no
coração dos seus discípulos esta aspiração a crer, a esperar e a amar; é a
razão pela qual ele os escolheu e chamou. As bem-aventuranças vão, em tantas situações, contra a corrente,
porque um homem, um dia, ousou abrir a boca para dizer aos seus discípulos:
“Sois do mundo, e ao mesmo tempo não sois do mundo… Vós não sois do mundo do
cada um para si, do consumo, da violência, da vingança, do comprometimento… E
face a este mundo deveis dizer: não estou de acordo! É certo que sereis
perseguidos ou, pelo menos, vão rir de vocês, ou procurarão fazer-vos calar.
Felizes sereis, porque fareis ver onde está a verdadeira felicidade.
Chamar-vos-ão santos”. Festejamos neste dia todos aqueles que levam a sério de
tal modo as bem-aventuranças que são
hoje plenamente felizes. Queremos experimentar ser felizes já ? Basta-nos ter um
coração de pobre.
A
SANTIDADE DE MUITOS
Fruto
da conversão realizada pelo Evangelho é a santidade de muitos homens e mulheres
do nosso tempo; não só daqueles que foram proclamados oficialmente santos pela
Igreja, mas também dos que, com simplicidade e no dia a dia da existência,
deram testemunho da sua fidelidade a Cristo. Como não pensar nos inumeráveis
filhos da Igreja que, ao longo da história, viveram uma santidade generosa e
autêntica no mais recôndito da vida familiar, profissional e social? «Todos
eles, como “pedras vivas” aderentes a Cristo “pedra angular”, construíram um
edifício espiritual e moral, deixando aos outros a herança mais preciosa. O
Senhor Jesus havia prometido: “Aquele que acredita em Mim fará também as obras
que Eu faço; e fará obras maiores do que estas, porque Eu vou para o Pai'' (Jo
14,12). Os santos são a prova viva da realização desta promessa, e nos ajudam a
crer que isto é possível mesmo nos momentos mais difíceis da história». [nº 14 da Exortação
Apostólica de João Paulo II]
Meditação
para a semana . . .
• Jesus diz:
“felizes os pobres em espírito”; o mundo diz: “felizes vós os que tendes
dinheiro – muito dinheiro – e sabeis usá-lo para comprar influências,
comodidade, poder, segurança, bem-estar, pois é o dinheiro que faz o mundo
girar e nos torna mais poderosos, mais livres e mais felizes”. Quem é, realmente, feliz?
• Jesus diz: “felizes os mansos”; o mundo diz: “felizes vós os que respondeis na
mesma moeda quando vos provocam, que respondeis à violência com uma violência
ainda maior, pois só a linguagem da força é eficaz para lidar com a violência e
a injustiça”. Quem tem razão?
• Jesus diz:
“felizes os que choram”; o mundo diz: “felizes vós os que não tendes motivos
para chorar, porque a vossa vida é sempre uma festa, porque vos moveis nas
altas esferas da sociedade e tendes tudo para serdes felizes: casa com piscina,
carro com telefone e ar condicionado, amigos poderosos, uma conta bancária
interessante e um bom emprego arranjado pelo vosso amigo ministro”. Onde está a verdadeira felicidade?
• Jesus diz:
“felizes os que têm ânsia de cumprir a vontade de Deus”; o mundo diz:
“felizes vós os que não dependeis de preconceitos ultrapassados e não
acreditais num deus que vos diz o que deveis e não deveis fazer, porque assim
sois mais livres”. Onde está a
verdadeira liberdade, que enche de felicidade o coração?
• Jesus diz:
“felizes os que tratam os outros com misericórdia”; o mundo diz:
“felizes vós quando desempenhais o vosso papel sem vos deixardes comover pela
miséria e pelo sofrimento dos outros, pois quem se comove e tem misericórdia
acabará por nunca ser eficaz neste mundo tão competitivo”. Qual é o verdadeiro fundamento de uma sociedade mais justa e mais
fraterna?
• Jesus diz:
“felizes os sinceros de coração”; o mundo diz: “felizes vós quando sabeis
mentir e fingir para levar a água ao vosso moinho, pois a verdade e a
sinceridade destroem muitas carreiras e esperanças de sucesso”. Onde está a verdade?
• Jesus diz:
“felizes os que procuram construir a paz entre os homens”; o mundo diz:
“felizes vós os que não tendes medo da guerra, da competição, que sois duros e
insensíveis, que não tendes medo de lutar contra os outros e sois capazes de os
vencer, pois só assim podereis ser homens e mulheres de sucesso”. O que é que torna o mundo melhor: a paz ou
a guerra?
• Jesus diz:
“felizes os que são perseguidos por cumprirem a vontade de Deus”; o mundo diz: “felizes vós os que já entendestes como é mais
seguro e mais fácil fazer o jogo dos poderosos e estar sempre de acordo com
eles, pois só assim podeis subir na vida e ter êxito na vossa carreira”. O que é que nos eleva à vida plena?
fonte:
www.dehonianos.org.
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