18-outubro-2015 - 29º Domingo do
Tempo Comum - Mc 10,35-45
A liturgia do 29º Domingo
do Tempo Comum nos lembra, mais uma vez, que a lógica de Deus é diferente da
lógica do mundo. Convida-nos a prescindir dos nossos projetos pessoais de poder
e de grandeza e a fazer da nossa vida um serviço aos irmãos. É no amor e na
entrega de quem serve humildemente os irmãos que Deus oferece aos homens a vida
eterna e verdadeira. A primeira leitura nos
apresenta a figura de um “Servo de Deus”, insignificante e desprezado pelos
homens, mas através do qual se revela a vida e a salvação de Deus. Lembra-nos
que uma vida vivida na simplicidade, na humildade, no sacrifício, na entrega e
na doação de si mesmo não é, aos olhos de Deus, uma vida maldita,
perdida, fracassada; mas é uma vida fecunda e plenamente realizada, que trará
libertação e esperança ao mundo e aos homens.
No Evangelho, Jesus convida os discípulos a não se deixarem manipular
por sonhos pessoais de ambição, de grandeza, de poder e de domínio, mas a
fazerem da sua vida um dom de amor e de serviço. Chamados a seguir o Filho do
Homem “que não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida”, os
discípulos devem dar testemunho de uma nova ordem e propor, com o seu exemplo,
um mundo livre do poder que escraviza. Na
segunda leitura, o autor da Carta aos Hebreus nos fala de um Deus que ama o
homem com um amor sem limites e que, por isso, está disposto a assumir a
fragilidade dos homens, a descer ao seu nível, a partilhar a sua condição. Ele
não Se esconde atrás do seu poder e da sua onipotência, mas aceita descer ao
encontro dos homens para lhes oferecer o seu amor.
REFLEXÃO:
• No centro deste
episódio está Jesus e o modelo que Ele propõe, com o exemplo da sua vida. A
frase “o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida
em resgate por todos” (Mc 10,45) resume admiravelmente a existência humana de
Jesus… Desde o primeiro instante, Ele recusou as tentações da ambição, do
poder, da grandeza, dos aplausos das multidões; desde o primeiro instante, Ele
fez da sua vida um serviço aos pobres, aos desclassificados, aos pecadores, aos
marginalizados, aos últimos. O ponto culminante dessa vida de doação e de
serviço foi a morte na cruz – expressão máxima e total do seu amor aos homens.
É preciso que tenhamos a consciência de que este valor do serviço não é um
elemento acidental ou acessório, mas um elemento essencial na vida e na
proposta de Jesus… Ele veio ao mundo para servir e colocou o serviço simples e
humilde no centro da sua vida e do seu projeto. Trata-se de algo que não pode
ser ignorado e que tem que estar no centro da experiência cristã. Nós,
seguidores de Jesus, devemos estar plenamente conscientes desta realidade.
• O episódio que hoje
nos é proposto como Evangelho mostra, contudo, a dificuldade que os discípulos
têm em entender e acolher a proposta de Jesus. Para Tiago, para João e para os
outros discípulos, o que parece contar é a satisfação dos próprios sonhos
pessoais de grandeza, de ambição, de poder, de domínio. Não os preocupa fazer
da vida um serviço simples e humilde a Deus e aos irmãos; preocupa-os ocupar os
primeiros lugares, os lugares de honra… Jesus, de forma simples e direta,
avisa-os de que a comunidade do Reino não pode funcionar segundo os modelos do
mundo. Aqui não há meio-termo: quem não for capaz de renunciar aos esquemas de
egoísmo, de ambição, de domínio, para fazer da própria vida um serviço e uma doação
de amor, não pode ser discípulo desse Jesus que veio para servir e para dar a
vida.
• Ao apresentar as
coisas desta forma, o texto nos convida
a repensar a nossa forma de nos situarmos, quer na família, quer na escola,
quer no trabalho, quer na sociedade, quer na Igreja. A instrução de Jesus aos discípulos que o
Evangelho deste domingo nos apresenta é uma denúncia dos jogos de poder, das
tentativas de domínio sobre aqueles que vivem e caminham a nosso lado, dos
sonhos de grandeza, das manobras patéticas para conquistar honras e
privilégios, da ânsia de protagonismo, da busca desenfreada de títulos, da caça
às posições de prestígio… O cristão tem, absolutamente, que dar testemunho de
uma ordem nova no seu espaço familiar, colocando-se numa atitude de serviço e
não numa atitude de imposição e de exigência; o cristão tem que dar testemunho
de uma nova ordem no seu espaço laboral, evitando qualquer atitude de injustiça
ou de prepotência sobre aqueles que dirige e coordena; o cristão tem sempre que
encarar a autoridade que lhe é confiada como um serviço, cumprido na busca
atenta e coerente do bem comum…
• Na comunidade
cristã encontramos também, com muita frequência, a tentação de nos organizarmos
de acordo com princípios de poder, de autoridade, de predomínio, à boa maneira
do mundo. Sabemos, pela história, que sempre que a Igreja tentou esses caminhos,
afastou-se da sua missão, deu um testemunho pouco credível e tornou-se
escândalo para tantos homens e mulheres bem intencionados… Por outro lado,
testemunhamos todos os dias, nas nossas comunidades cristãs, como os
comportamentos prepotentes criam divisões, rancores, invejas, afastamentos… Que
não restem dúvidas: a autoridade que não é amor e serviço é incompatível com a
dinâmica do Reino. Nós, os seguidores de Jesus, não podemos, de forma alguma,
pactuar com a lógica do mundo; e uma Igreja que se organiza e estrutura tendo
em conta os esquemas do mundo não é a Igreja de Jesus.
• Na nossa sociedade,
os primeiros são os que têm dinheiro, os que têm poder, os que frequentam as
festas badaladas nas revistas da sociedade, os que vestem segundo as exigências
da moda, os que têm sucesso profissional, os que sabem colar-se aos valores
politicamente corretos… E na comunidade cristã? Quem são os primeiros? As
palavras de Jesus não deixam qualquer dúvida: “quem quiser ser o primeiro, será
o último de todos e o servo de todos”. Na comunidade cristã, a única grandeza é
a grandeza de quem, com humildade e simplicidade, faz da própria vida um
serviço aos irmãos. Na comunidade cristã não há donos, nem grupos
privilegiados, nem pessoas mais importantes do que as outras, nem distinções
baseadas no dinheiro, na beleza, na cultura, na posição social… Na comunidade
cristã há irmãos iguais, a quem a comunidade confia serviços diversos em vista
do bem de todos. Aquilo que nos deve mover é a vontade de servir, de partilhar
com os irmãos os dons que Deus nos concedeu.
• A atitude de
serviço que Jesus pede aos seus discípulos deve manifestar-se, de forma
especial, no acolhimento dos pobres, dos doentes, dos humildes, dos
marginalizados, dos sem direitos, daqueles que não nos trazem o reconhecimento
público, daqueles que não podem retribuir-nos… Seremos capazes de acolher e de
amar os que levam uma vida pouco exemplar, os marginalizados, os estrangeiros,
os doentes incuráveis, os idosos, os difíceis, os que ninguém quer e ninguém ama?
É normal que toda a pessoa
procure ser reconhecida; a sua dignidade depende disso. Mas será necessário,
para ser reconhecido, procurar passar à frente dos outros, sem qualquer
escrúpulo? Jesus não vem dar conselhos, começa por oferecer o seu testemunho.
Ele, que era de condição divina, tomou o lugar de escravo. Deus elevou-O e
deu-Lhe um Nome que ultrapassa todo o nome. Quem escolhe o serviço é elevado
por Deus ao lugar de “grande”, Deus dá o primeiro lugar a quem escolheu o
último. É Deus que altera as situações que o homem, na sua liberdade, escolhe
para ser verdadeiro cidadão do Reino de Deus.
A tentação dos discípulos
é recorrente: quem é o maior? Eles pedem a Jesus para se sentarem um à direita
e outro à esquerda na sua glória! A glória de Jesus, para Tiago e João, só
podia ser a glória temporal do Messias. Eles pedem-Lhe para lhes dar os
melhores ministérios no futuro governo! Mas Jesus pensa noutra glória: o cálice
da Paixão, depois de ter mergulhado no batismo da sua morte. É evidente que os
dois discípulos não podiam compreender isso. O trono de Jesus é a sua cruz. Na
cruz raiará em supremo grau o amor do Pai por todos os homens. Na cruz, Jesus
está rodeado por dois ladrões, um à direita e outro à esquerda. Eles simbolizam
a humanidade, ao mesmo tempo mergulhada nas trevas e acolhedora da luz. É toda
a humanidade que é chamada a entrar no Reino, a partilhar a glória do Rei: a
parte da humanidade que reconhece Jesus e a parte que O rejeita. Deus quer que
todos os homens se salvem. Jesus cumpriu perfeitamente a vontade do seu Pai:
veio para servir e dar a vida pela humanidade! Cabe aos discípulos, a nós
também seus discípulos, sermos também
servidores da salvação para todos os homens!
MEDITAÇÃO PARA A SEMANA …
Como servir? Este Dia Mundial das Missões nos recorda a nossa vocação a sermos
servidores do Evangelho… Concretamente, como fazer passar o Evangelho antes dos
nossos próprios desejos? Fazer passar o respeito pelo outro antes da nossa
própria vantagem? De que maneira vamos poder servir nesta semana? Ousaremos
fazê-lo em nome de Cristo Servidor?
Como rezar? Isso diz respeito também à qualidade da nossa oração… A maior parte
das vezes, somos como os filhos de Zebedeu: prontos a pedir, e a pedir os
melhores lugares. Mas se nos esforçamos por amar e servir como Cristo nos pede,
então, melhor que pedir, poderemos oferecer-Lhe aquilo que, graças a Ele, faremos
pelos nossos irmãos.
fonte:
www.dehoianos.org
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