04 de Outubro - São
Francisco de Assis
Este gigante da santidade
era fisicamente de modesta estatura, tinha barbicha rala e escura. E, no plano
cultural, ainda mais modesto. Conhecia o provençal, ensinado pelo pai, por ter
feito algumas leituras de romances de cavalaria. Era um hábil vendedor de
tecidos, ao lado de um pai que lhe enchia a bolsa de moedas. Nas alegres
noitadas com os amigos, Francisco não media despesas. Participou das lutas
entre as cidades e conheceu a humilhação da derrota e de um ano de prisão em
Perúgia. No regresso, fez-se armar
cavaleiro pelo conde Gualtério e esteve a ponto de partir para a Apúlia. Mas,
em Espoleto, “pareceu-lhe ver”, conta são Boaventura na célebre biografia, “um
palácio magnífico e belo, e dentro dele muitíssimas armas marcadas com a cruz,
e uma voz que vinha do céu: 'São tuas e dos teus cavaleiros'”. A
interpretação do sonho veio-lhe no dia seguinte: “Francisco, quem te pode fazer
mais bem, o senhor ou o servo?” Francisco compreendeu, voltou sobre seus passos,
abandonou definitivamente a alegre companhia e, enquanto estava absorto em
oração na igreja de São Damião, ouviu claramente o apelo: “Francisco, vai e
repara a minha Igreja que, como vês, está toda em ruínas”. O jovem não fez
delongas e, diante do bispo Guido — a cuja presença o pai o conduzira à força
para fazê-lo desistir —, despojou-se de todas as roupas e as restituiu ao pai. Improvisou-se
em pedreiro e restaurou do melhor modo possível três igrejinhas rurais, entre
as quais Santa Maria dos Anjos, dita Porciúncula. Uma frase iluminante do
Evangelho indicou-lhe o caminho a seguir: “Ide e pregai... Curai os enfermos...
Não leveis alforje, nem duas túnicas, nem sapatos, nem bastão”. Na primavera de
1208, 11 jovens tinham-se unido a ele. Escreveu a primeira regra da Ordem dos
Frades Menores, aprovada oralmente pelo papa Inocêncio III, depois que os 12
foram recebidos em audiência, em meio ao estupor e à indignação da cúria
pontifícia diante daqueles jovens descalços e malvestidos. Mas aquele pacífico contestador teve também a
solene aprovação do sucessor, Honório III, com a bula Solet Annuere, de 29 de
novembro de 1223. Um ano depois, na
solidão do monte Alverne, Francisco recebeu o selo da Paixão de Cristo, com os
estigmas impressos em seus membros. Depois, ao aproximar-se da “irmã Morte”,
improvisou seu “Cântico ao irmão Sol”, como hino conclusivo da pregação de seus
frades. Por fim, pediu para ser levado à sua Porciúncula e deposto sobre a
terra nua, onde se extinguiu cantando o salmo "Voce mea", nas
vésperas de 3 de outubro.
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