• A liturgia da
comemoração dos Fiéis Defuntos nos assegura que Deus tem um projeto de vida
definitiva para oferecer aos homens: o caminho que percorremos nesta terra não
termina no fracasso e na morte, mas no encontro com a vida verdadeira e eterna.
Ora, o Evangelho que nos é proposto
confirma e garante esse ensinamento fundamental: cumprindo o seu projeto de
salvação, Deus enviou Jesus ao mundo (Jesus apresenta-Se como “o pão que desceu
do céu”) para que os homens pudessem chegar à vida eterna. A liturgia deste dia
nos convida, antes de mais nada, a contemplar o amor de Deus por nós, a
constatar a sua incrível preocupação com a nossa felicidade e com a nossa
realização plena, a descobrir que não estamos perdidos e abandonados face à
nossa fragilidade, debilidade e finitude. Esta constatação deve nos levar a
encarar, com serenidade e confiança, a nossa caminhada pela terra, com a
certeza de que nos espera, para lá do horizonte deste mundo imperfeito, a vida
verdadeira e definitiva.
• Como é que chegamos a adquirir essa vida verdadeira e definitiva? O Evangelho
afirma, categoricamente, que quem aceita
comer a carne e beber o sangue de Jesus viverá eternamente. Ora, comer a carne
e beber o sangue de Jesus é, antes de mais nada, acolher, assimilar e interiorizar
essa proposta de vida que Jesus nos fez (com a sua Palavra, com o seu exemplo,
com os seus gestos, com o seu amor); é, como Jesus, colocar a própria vida ao
serviço dos projetos de Deus e fazer da própria existência uma doação de amor
aos irmãos. Este programa de vida não é, como é notório para qualquer um de
nós, muito apreciado numa cultura como a
nossa, fortemente marcada pelo egoísmo, pelo individualismo e pela
auto-suficiência. Que não restem, contudo, dúvidas: só encontraremos essa vida plena
e eterna a que aspiramos, seguindo Jesus, assimilando os seus valores, fazendo
da nossa vida um serviço a Deus e aos irmãos com quem nos cruzamos nos caminhos
do mundo. Se aceitarmos conduzir a vida de acordo com esses parâmetros, o
horizonte final da nossa caminhada por esta terra não é a morte, mas a vida
eterna.
• A Eucaristia é um momento privilegiado de encontro com esse Cristo que Se faz
“dom” e que vem ao nosso encontro para nos oferecer a vida plena e definitiva.
Participar no encontro eucarístico, comer a carne e beber o sangue de Jesus é
encontrar-se, hoje, com esse Cristo que veio ao encontro dos homens e que
tornou presente na sua “carne” (na sua pessoa física) uma vida feita amor,
partilha, entrega, até ao dom total de Si mesmo na cruz (“sangue”). Para nós, a
Eucaristia – mais do que um rito que cumprimos por obrigação ou por tradição –
tem que ser um momento privilegiado de encontro e de compromisso com Jesus e
com essa vida nova e eterna que Ele continuamente nos oferece.
• Sentar-se à mesa da Eucaristia é identificar-se com Jesus, aceitar viver em
união com Ele. Na Eucaristia, o alimento servido é o próprio Cristo. Por isso,
é a própria vida de Cristo que passa a circular nos crentes. Quem acolhe essa
vida que Jesus oferece torna-se um com Ele. Comer cada domingo (ou cada dia) à
mesa com Jesus desse alimento que Ele próprio dá e que é a sua pessoa, leva os
crentes a uma comunhão total de vida com Jesus e a fazer parte da família do
próprio Jesus. Convém termos consciência desta realidade: celebrar a Eucaristia
é aprofundarmos os laços familiares que nos unem a Jesus, identificarmo-nos com
Ele, deixarmos que a sua vida circule em nós. O crente, alimentado pela
Eucaristia, identificado com Jesus, transformado num homem novo, transporta
consigo dinamismos de vida eterna.
• Na concepção judaica, a
partilha do mesmo alimento à volta da mesa gera entre os convivas familiaridade
e comunhão. Assim, os crentes que participam da Eucaristia passam a ser irmãos:
todos partilham a mesma vida, a vida do Cristo do amor total. Dessa forma, a
participação na Eucaristia tem que resultar no reforço da comunhão dos irmãos.
Uma comunidade que celebra a Eucaristia é uma comunidade que aceitou banir do
seu próprio seio tudo o que é divisão, ciúme, conflito, orgulho,
auto-suficiência, indiferença para com as dores e as necessidades dos irmãos… A
comunidade que se alimenta da Eucaristia deve ser, portanto, um anúncio vivo
desse mundo novo de fraternidade, de justiça e de paz que nos espera para além
desta terra.
• Finalmente, o comer a carne e beber o sangue de Jesus implica um compromisso
com esse mesmo projeto que Jesus procurou concretizar em toda a sua vida, em
todos os seus gestos, em todas as suas palavras. O crente que celebra a
Eucaristia tem que levar ao mundo e aos homens essa vida que aí recebe… Tem que
lutar, como Jesus, contra a injustiça, o egoísmo, a opressão, o pecado; tem que
esforçar-se, como Jesus, por eliminar tudo o que desfigura o mundo e causa
sofrimento e morte; tem que construir, como Jesus, um mundo de liberdade, de
amor e de paz; tem que testemunhar, como Jesus, que a vida verdadeira é aquela
que se faz amor, serviço, partilha, doação até às últimas consequências. O
crente que come a carne e que bebe o sangue de Jesus torna-se uma fonte de onde
brota, para o mundo e para os homens, a vida eterna.
fonte:
www.dehonianos.org
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