Hoje, celebraremos a
Solenidade do Sagrado Coração de Jesus. Em consonância com esta solenidade, a
Igreja, em todo o mundo, é convidada a fazer a sua jornada mundial de orações pelos sacerdotes.
O culto litúrgico ao
Sagrado Coração de Jesus na sexta-feira seguinte ao Corpus Christi teve início
no século XVII, embora a devoção remonte aos séculos XIII e XIV, recebendo a
primeira aprovação pontifícia um século mais tarde. Em 1856, o papa Pio IX
estendeu a festa a toda a Igreja, e em 1928 Pio XI lhe deu a máxima categoria
litúrgica.
Para o Papa Emérito Bento
XVI o culto ao Sagrado Coração de Jesus confunde-se com a história do
Cristianismo. Ao compreendermos que o mistério do amor de Deus sobre nós é
conhecido por meio da manifestação deste amor de forma mais profunda na
Encarnação e também na Paixão e morte de Jesus na Cruz. “Tanto amou Deus ao
mundo, que lhe deu seu Filho único, para que todo o que crer Nele não pereça,
mas que tenha vida eterna” (João 3, 16). Ensina o Papa Emérito que: “Por outro
lado, esse mistério do amor de Deus por nós não constitui só o conteúdo do
culto e da devoção ao Coração de Jesus: é, ao mesmo tempo, o conteúdo de toda
verdadeira espiritualidade e devoção cristã.
Assim, a devoção ao
Sagrado Coração de Jesus dá-se não só pelo mero cumprimento devocional, mas
como um profundo mergulhar na vivência radical do Evangelho. Inserindo-se no
coração aberto de Jesus, inseri-se na vida de Cristo e na união de vontades, e
tem como fruto uma relação viva entre Deus e o homem. “A resposta ao
mandamento do amor, ensina-nos Bento XVI, se faz possível só com a experiência
de que este amor já nos foi dado antes por Deus (cf. encíclica «Deus caritas
est», 14). O culto do amor que se faz visível no mistério da Cruz, representado
em toda celebração eucarística, constitui, portanto, o fundamento para que
possamos converter-nos em instrumentos nas mãos de Cristo: só assim podemos ser
arautos críveis de seu amor. Esta abertura à vontade de Deus, contudo, deve
renovar-se em todo momento: «O amor nunca se dá por “concluído” e completado»
(cf. encíclica «Deus caritas est», 17). A contemplação do «lado transpassado
pela lança», na qual resplandece a vontade infinita de salvação por parte de
Deus, não pode ser considerada, portanto, como uma forma passageira de culto ou
de devoção: a adoração do amor de Deus, que encontrou no símbolo do «coração
transpassado» sua expressão histórico-devocional, continua sendo imprescindível
para uma relação viva com Deus (cf. encíclica «Haurietis aquas», 62)".
O Papa Pio XII ensinou,
com propriedade, que, também a Igreja e os sacramentos são dons do sagrado
coração de Jesus. Diz o Papa: "Não se pode, pois, duvidar de que,
participando intimamente da vida do Verbo encarnado, e pelo mesmo motivo sendo,
não menos do que os demais membros da sua natureza humana, como que instrumento
conjunto da Divindade na realização das obras da graça e da onipotência
divina,(28), o caridade que moveu o nosso Salvador a celebrar, com o
derramamento do seu sangue, o seu místico matrimônio com a Igreja: Portanto, do
coração ferido do Redentor nasceu a Igreja, verdadeira administradora do sangue
da redenção, e do mesmo coração flui abundantemente a graça dos sacramentos, na
qual os filhos da Igreja bebem a vida sobrenatural, como lemos na sagrada
liturgia: "Do coração aberto nasce a Igreja desposada com Cristo... Tu,
que do coração fazes manar a graça".(30) A respeito desse símbolo, que nem
mesmo dos antigos Padres, escritores e eclesiásticos foi desconhecido, o Doutor
comum, fazendo-se eco deles, assim escreve: "Do lado de Cristo brotou água
para lavar e sangue para redimir. Por isso, o sangue é próprio do sacramento da
Eucaristia; a água, do sacramento do Batismo, o qual, entretanto, tem força
para lavar em virtude do sangue de Cristo".(31) O que aqui se afirma do
lado de Cristo, ferido e aberto pelo soldado, cumpre aplicá-lo ao seu coração,
ao qual, sem dúvida, chegou a lançada desfechada pelo soldado, precisamente
para que constasse de maneira certa a morte de Jesus Cristo. Por isso, durante
o curso dos séculos, a ferida do coração sacratíssimo de Jesus, morto já para
esta vida mortal, tem sido a imagem viva daquele amor espontâneo com que Deus
entregou seu Unigênito pela redenção dos homens, e com o qual Cristo nos amou a
todos tão ardentemente que a Si mesmo se imolou como hóstia cruenta no
Calvário.
Na linguagem bíblica, o
"coração" indica o centro da pessoa, a sede dos seus sentimentos e
das suas intenções. No coração do Cristo Redentor nós adoramos o amor de Deus
pela humanidade, a sua vontade de salvação universal, a sua misericórdia infinita.
A festa do Sagrado Coração
de Jesus é também o Dia Mundial pela Santificação dos Sacerdotes, ocasião
propícia para rezarmos a fim de que os presbíteros nada anteponham ao amor de
Cristo.
Sagrado Coração de Jesus,
nós temos confiança em vós!
† Orani João Tempesta, O.
Cist. -
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro,
RJ
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