08/junho/2014 -
Solenidade de Pentecostes
O tema deste domingo é,
evidentemente, o Espírito Santo. Dom de Deus a todos os crentes, o Espírito dá
vida, renova, transforma, constrói comunidade e faz nascer o Homem Novo. O Evangelho apresenta-nos a comunidade
cristã, reunida à volta de Jesus ressuscitado. Para João, esta comunidade passa
a ser uma comunidade viva, recriada, nova, a partir do dom do Espírito. É o
Espírito que permite aos crentes superar o medo e as limitações e dar
testemunho no mundo desse amor que Jesus viveu até às últimas consequências. Na
primeira leitura, Lucas sugere que o Espírito é a nova lei que orienta a
caminhada dos crentes. É Ele que cria a nova comunidade do Povo de Deus, que
faz com que os homens sejam capazes de ultrapassar as suas diferenças e
comunicar, que une numa mesma comunidade de amor, povos de todas as raças e
culturas. Na segunda leitura, Paulo
avisa que o Espírito é a fonte de onde brota a vida da comunidade cristã. É Ele
que concede os dons que enriquecem a comunidade e que fomenta a unidade de
todos os membros; por isso, esses dons não podem ser usados para benefício
pessoal, mas devem ser colocados ao serviço de todos.
REFLEXÃO:
A Igreja deve ser uma
comunidade de irmãos reunidos por causa de Jesus, animada pelo Espírito do
Senhor ressuscitado e que testemunha na história o projeto libertador de Jesus.
Desse testemunho resulta a comunidade universal da salvação, que vive no amor e
na partilha, apesar das diferenças culturais e étnicas. A Igreja de que fazemos
parte é uma comunidade de irmãos que se amam, apesar das diferenças? Está
reunida por causa de Jesus e à volta de Jesus? Tem consciência de que o
Espírito está presente e que a anima? Testemunha, de forma efetiva e coerente,
a proposta libertadora que Jesus deixou?
•
Nunca será demais realçar o papel do Espírito na tomada de consciência da
identidade e da missão da Igreja… Antes do Pentecostes, tínhamos apenas um
grupo fechado dentro de quatro paredes, incapaz de superar o medo e de
arriscar, sem a iniciativa nem a coragem do testemunho; depois do Pentecostes,
temos uma comunidade unida, que ultrapassa as suas limitações humanas e se
assume como comunidade de amor e de liberdade. Temos consciência de que é o
Espírito que nos renova, que nos orienta e que nos anima? Damos espaço suficiente à ação do Espírito, em nós e
nas nossas comunidades?
•
Para se tornar cristão, ninguém deve ser espoliado da própria cultura: nem os
africanos, nem os europeus, nem os sul-americanos, nem os negros, nem os
brancos; mas todos são convidados, com as suas diferenças, a acolher esse projeto
libertador de Deus, que faz os homens deixarem de viver apartados, para viverem
no amor. A Igreja de que fazemos parte é esse espaço de liberdade e de
fraternidade? Nela todos encontram lugar e são acolhidos com amor e com
respeito – mesmo os de outras raças, mesmo aqueles de quem não gostamos, mesmo
aqueles que não fazem parte do nosso círculo, mesmo aqueles que a sociedade
marginaliza e afasta?
• Temos todos consciência
de que somos membros de um único “corpo” – o corpo de Cristo – e é o mesmo
Espírito que nos alimenta, embora desempenhemos funções diversas (não mais
dignas ou mais importantes, mas diversas). No entanto, encontramos, com alguma
frequência, cristãos com uma consciência viva da sua superioridade e da sua
situação “à parte” na comunidade (seja em razão da função que desempenham, seja
em razão das suas “qualidades” humanas), que gostam de mandar e de fazer-se
notar. Às vezes, vêem-se atitudes de prepotência e de autoritarismo por parte
daqueles que se consideram depositários de dons especiais; às vezes, a Igreja
continua a dar a impressão – mesmo após o Vaticano II – de ser uma pirâmide no
topo da qual há uma elite que preside e toma as decisões e em cuja base está o
rebanho silencioso, cuja função é obedecer.
• Os “dons” que recebemos
não podem gerar conflitos e divisões, mas devem servir para o bem comum e para
reforçar a vivência comunitária. As nossas comunidades são espaços de partilha
fraterna, ou são campos de batalha onde se digladiam interesses próprios,
atitudes egoístas, tentativas de afirmação pessoal?
• É preciso ter
consciência da presença do Espírito: é Ele que alimenta, que dá vida, que
anima, que distribui os dons conforme as necessidades; é Ele que conduz as
comunidades na sua marcha pela história. Ele foi distribuído a todos os crentes
e reside na totalidade da comunidade. Temos consciência da presença do Espírito
e procuramos ouvir a sua voz e perceber as suas indicações? Temos consciência
de que, pelo fato de desempenharmos esta ou aquela função, não somos as únicas
vozes autorizadas a falar em nome do Espírito?
• A comunidade cristã só
existe de forma consistente, se está centrada em Jesus. Jesus é a sua
identidade e a sua razão de ser. É n’Ele que superamos os nossos medos, as
nossas incertezas, as nossas limitações, para partirmos à aventura de
testemunhar a vida nova do Homem Novo. As nossas comunidades são, antes de mais
nada, comunidades que se organizam e estruturam à volta de Jesus? Jesus é o
nosso modelo de referência? É com Ele que nos identificamos, ou é num ídolo qualquer de pés de barro que procuramos
a nossa identidade? Se Ele é o centro, a referência fundamental, têm algum
sentido as discussões acerca de coisas não essenciais, que às vezes dividem os
crentes?
•
Identificar-se como cristão significa dar testemunho diante do mundo dos
“sinais” que definem Jesus: a vida doada, o amor partilhado. É esse o
testemunho que damos? Os homens do nosso tempo, olhando para cada cristão ou
para cada comunidade cristã, podem dizer que encontram e reconhecem os “sinais”
do amor de Jesus?
•
As comunidades construídas à volta de Jesus são animadas pelo Espírito. O
Espírito é esse sopro de vida que transforma o barro inerte numa imagem de
Deus, que transforma o egoísmo em amor partilhado, que transforma o orgulho em
serviço simples e humilde… É Ele que nos faz vencer os medos, superar as covardias
e fracassos, derrotar o ceticismo e a desilusão, reencontrar a orientação,
readquirir a audácia profética, testemunhar o amor, sonhar com um mundo novo. É
preciso ter consciência da presença contínua do Espírito em nós e nas nossas
comunidades e estar atentos aos seus apelos, às suas indicações, aos seus
questionamentos.
Meditação
para a semana. . .
Tempestade! Fogo! Portas arrombadas! O Pentecostes é a irrupção do Espírito
Santo na vida dos discípulos que vão se deixar transformar em todas as
dimensões do seu ser. O Pentecostes continua! Mas não estamos muitas vezes,
face a este Espírito Santo, como que diante de uma ameaça nuclear? Ousamos,
enfim, nos deixar irradiar por Ele sem qualquer proteção?
fonte:
www.dehonianos.org
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