1º
Domingo do Tempo da Quaresma - Mc 1,12-15
No
primeiro Domingo do Tempo da Quaresma, a liturgia nos garante que Deus está
interessado em destruir o velho mundo do egoísmo e do pecado e em oferecer aos
homens um mundo novo de vida plena e de felicidade sem fim.
A
primeira leitura é um resumo da história do dilúvio. Nos diz que Jahwéh, depois
de eliminar o pecado que escraviza o homem e que corrompe o mundo, depõe o seu
“arco de guerra”, vem ao encontro do homem, faz com ele uma Aliança
incondicional de paz. A ação de Deus se destina a fazer nascer uma nova
humanidade, que percorra os caminhos do amor, da justiça, da vida verdadeira.
No
Evangelho, Jesus nos mostra como a renúncia a caminhos de egoísmo e de pecado e
a aceitação dos projetos de Deus está na origem do nascimento desse mundo novo
que Deus quer oferecer a todos os homens (o “Reino de Deus”). Aos seus
discípulos Jesus pede – para que possam fazer parte da comunidade do “Reino” –
a conversão e a adesão à Boa Nova que Ele próprio veio propor.
Na
segunda leitura, o autor da primeira Carta de Pedro recorda que, pelo Batismo,
os cristãos aderiram a Cristo e à salvação que Ele veio oferecer.
Comprometeram-se, portanto, a seguir Jesus no caminho do amor, do serviço, da
doação da vida; e, envolvidos nesse dinamismo de vida e de salvação que brota
de Jesus, tornaram-se o princípio de uma nova humanidade.
Reflexão:
São Marcos inicia o seu Evangelho proclamando a encarnação
do Filho de Deus. Jesus é plenamente homem, pois é tentado, e plenamente Deus,
ao manifestar a vitória do Amor sobre o Mal, a vitória de Deus sobre o Maligno.
Ele faz uma declaração: os tempos se cumpriram. Dirige-Se a um povo à espera de
um Messias que estabelecerá um Reino novo. Ora, este Reino está bem próximo,
afirma Jesus, que vem precisamente trazer a esperança a todo o povo. Mas Deus
não impõe a sua vinda, Ele se faz desejar. Então, duas atitudes do coração são
necessárias: a conversão, mudando de vida e voltando a Deus; e a fé, aderindo
plenamente com todo o ser à mensagem que Jesus vem anunciar. Se Jesus começa a
sua pregação por estas duas recomendações, isso significa a sua urgência e a
sua importância.
• O
quadro da “tentação no deserto” nos diz que Jesus, ao longo do caminho que
percorreu no meio dos homens, foi confrontado com opções. Ele teve que escolher
entre viver na fidelidade aos projetos do Pai e fazer da sua vida um dom de
amor, ou frustrar os planos de Deus e enveredar por um caminho de egoísmo, de
poder, de auto-suficiência. Jesus escolheu viver – de forma total, absoluta,
até a doação da vida – na obediência às propostas do Pai. Os discípulos de
Jesus são confrontados a todos os instantes com as mesmas opções. Seguir Jesus
é perceber os projetos de Deus e cumpri-los fielmente, fazendo da própria vida
uma entrega de amor e um serviço aos irmãos.
-Estou
disposto a percorrer este caminho?
• Ao se
dispor a cumprir integralmente o projeto de salvação que o Pai tinha para os
homens, Jesus começou a construir um mundo novo, de harmonia, de justiça, de
reconciliação, de amor e de paz. A esse mundo novo, Jesus chamava “Reino de
Deus”. Nós aderimos a esse projeto e nos comprometemos com ele, no dia em que
escolhemos ser seguidores de Jesus.
-O nosso
empenho na construção do “Reino de Deus” tem sido coerente e consequente?
- Mesmo
contra a corrente, temos procurado ser profetas do amor, testemunhas da
justiça, servidores da reconciliação, construtores da paz?
• Para
que o “Reino de Deus” se torne uma realidade, o que é necessário fazer? Na
perspectiva de Jesus, o “Reino de Deus” exige, antes de mais nada, a
“conversão”. “Converter-se” é, antes de tudo, renunciar a caminhos de egoísmo e
de auto-suficiência e focar a própria vida em Deus, de forma que Deus e os seus projetos sejam sempre a
nossa prioridade máxima. Implica, naturalmente, modificar a nossa mentalidade,
os nossos valores, as nossas atitudes, a nossa forma de encarar Deus, o mundo e
os outros. Exige que sejamos capazes de renunciar ao egoísmo, ao orgulho, à
auto-suficiência, ao comodismo e que voltemos a escutar Deus e as suas
propostas.
-O que é
que temos que “converter” – quer em termos pessoais, quer em termos
institucionais – para que se manifeste, realmente, esse Reino de Deus tão
esperado?
• De
acordo com a Palavra de Deus que nos é proposta, o “Reino de Deus” exige,
também, o “acreditar” no Evangelho. “Acreditar” não é, na linguagem
neo-testamentária, a aceitação de certas afirmações teóricas ou a concordância
com um conjunto de definições a propósito de Deus, de Jesus ou da Igreja; mas
é, sobretudo, uma adesão total à pessoa de Jesus e ao seu projeto de vida. Com
a sua pessoa, com as suas palavras, com os seus gestos e atitudes, Jesus propôs
aos homens – a todos os homens – uma vida de amor total, de doação
incondicional, de serviço simples e humilde, de perdão sem limites. O
“discípulo” é alguém que está disposto a escutar o chamamento de Jesus, a
acolher esse chamamento no coração e a seguir Jesus no caminho do amor e da doação
da vida.
-Estou
disposto a acolher o chamamento de Jesus e a percorrer o caminho do “discípulo”?
• O
chamamento para integrar a comunidade do “Reino” não é algo reservado a um
grupo especial de pessoas, com uma missão especial no mundo e na Igreja; mas é
algo que Deus dirige a cada homem e a cada mulher, sem exceção. Todos os batizados
são chamados a ser discípulos de Jesus, a “converter-se”, a “acreditar no
Evangelho”, a seguir Jesus nesse caminho de amor e de doação da vida. Esse
chamamento é radical e incondicional: exige que o “Reino” se torne o valor
fundamental, a prioridade, o principal objetivo do discípulo.
• O
“Reino” é uma realidade que Jesus começou e que já está, decisivamente,
implantada na nossa história. Não tem fronteiras materiais e definidas; mas
está acontecendo e se concretizar
através dos gestos de bondade, de serviço, de doação, de amor gratuito que
acontecem à nossa volta (muitas vezes, até fora das fronteiras institucionais
da “Igreja”) e que são um sinal visível do amor de Deus nas nossas vidas. Não é
uma realidade que construímos de uma vez, mas é uma realidade sempre em
construção, até à sua realização final,
no fim dos tempos, quando o egoísmo e o pecado desaparecerem para sempre. Em
cada dia que passa, temos que renovar o compromisso com o “Reino” e nos empenharmos
na sua edificação.
Meditação para a semana. .
.
A verdadeira conversão… Quaresma, tempo de
penitência, de sacrifícios de toda a espécie, de resistência às tentações, à
imitação de Jesus no deserto… Tempo não muito entusiasmante! Porém, na breve
passagem do Evangelho, S. Marcos fala duas vezes da Boa Nova. Uma Boa Nova
dilata o coração, traz alegria. Então, porque não falar de alegria durante a
Quaresma? Será que isso desvirtua o seu sentido? Trata-se de conversão. Mas
isso não quer dizer, em primeiro lugar, como pensamos muitas vezes, parar de
cometer pecados, voltar a uma vida moralmente pura e reta. A verdadeira
conversão é, antes de mais nada, “acreditar na Boa Nova”. E esta Boa Nova é a
manifestação do verdadeiro rosto de Deus em Jesus: um Pai no qual só há amor,
porque Ele é Amor em estado puro, a fonte absoluta do Amor. Às vezes, a
primeira tentação, a mais terrível, consiste em transferir para Deus as nossas
maneiras de amar, de compreender a justiça, o poder. Ora, não é Deus que é à
nossa imagem, nós é que somos à sua imagem. A verdadeira conversão consiste em
mudar todas as nossas concepções de Deus para acolher um Pai que nunca pára de
nos amar, que nunca nos rejeita. E quando recusamos o seu amor, Ele só tem um
desejo: manifestar ainda mais o seu amor, até nos dar o seu Filho, para que,
enfim, nós nos deixemos amar. A Quaresma é um tempo propício para descobrir
este Deus!
Rezar em cada manhã o Salmo 24… Ao longo da
semana, rezar em cada manhã, lentamente, este Salmo 24. Pode ser meditado,
“ruminado”. Esforçar-se também por memorizar um versículo para cada dia (“Tu és
o Deus que me salva”; “lembra-te, Senhor, da tua ternura”); repeti-lo várias
vezes ao longo do dia, como uma caminhada com o Senhor. Será uma maneira
possível de viver a exortação à oração em segredo, a exortação que ouvimos na quarta-feira
de Cinzas. Procurar também recorrer a esta oração quando tivermos que tomar uma
decisão, fazer uma escolha, um
discernimento (“guiai-me na verdade”,
“ensinai-me”…).
fonte:
www.dehonianos.org
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