01-março/2015 -2º Domingo do Tempo da
Quaresma - Mc 9,2-10
No segundo Domingo da Quaresma, a Palavra de Deus
define o caminho que o verdadeiro discípulo deve seguir para chegar à vida
nova: é o caminho da escuta atenta de Deus e dos seus projetos, o caminho da
obediência total e radical aos planos do Pai. O Evangelho relata a
transfiguração de Jesus. Recorrendo a elementos simbólicos do Antigo
Testamento, o autor nos apresenta uma catequese sobre Jesus, o Filho amado de
Deus, que vai concretizar o seu projeto libertador em favor dos homens através
do dom da vida. Aos discípulos, desanimados e assustados, Jesus diz: o caminho
do dom da vida não conduz ao fracasso, mas à vida plena e definitiva. Segui-o,
vós também. Na primeira leitura apresenta-se a figura de Abraão como paradigma
de uma certa atitude diante de Deus.
Abraão é o homem de fé, que vive numa constante escuta de Deus, que aceita os
apelos de Deus e que lhes responde com a obediência total (mesmo quando os
planos de Deus parecem ir contra os seus sonhos e projetos pessoais). Nesta
perspectiva, Abraão é o modelo do crente que percebe o projeto de Deus e o
segue de todo o coração. A segunda leitura lembra aos crentes que Deus os ama
com um amor imenso e eterno. A melhor prova desse amor é Jesus Cristo, o Filho
amado de Deus que morreu para ensinar ao homem o caminho da vida verdadeira.
Sendo assim, o cristão nada tem a temer e deve enfrentar a vida com serenidade
e esperança.
Reflexão:
Jesus
se encontra com o seu Pai. O monte é o
lugar de encontro com Deus: Moisés e Elias encontram Deus no monte Horeb, Jesus
retira-Se muitas vezes para o monte para rezar. Naquele dia, Deus toma a
palavra para reconhecer Jesus como seu Filho bem-amado, e pede para O escutar.
Jesus se encontra com Moisés e Elias, estes porta-vozes cheios do poder de Deus
libertador junto do seu povo. A sua presença no monte da transfiguração revela
que Jesus veio cumprir tudo o que os profetas tinham anunciado. Enfim, Jesus se encontra no monte das Oliveiras com as
testemunhas adormecidas da Paixão. E se Jesus Se transfigura a seus olhos, é
para lhes fazer ver a glória que Lhe vem de seu Pai. Mas para conhecer esta
glória, é preciso passar pelo sofrimento e pela morte. Ainda não chegou o
momento para nos sentarmos, é preciso retomar o caminho para “passar” com o
Mestre.
• A questão fundamental expressa no episódio da transfiguração está na
revelação de Jesus como o Filho amado de Deus, que vai concretizar o projeto
salvador e libertador do Pai em favor dos homens através do dom da vida, da
entrega total de Si próprio por amor. Pela transfiguração de Jesus, Deus
demonstra aos crentes de todas as épocas e lugares que uma existência feita doação
não é fracassada – mesmo se termina na cruz. A vida plena e definitiva espera,
no final do caminho, todos aqueles que, como Jesus, forem capazes de pôr a sua
vida ao serviço dos irmãos.
• Na verdade, os homens do nosso tempo têm alguma dificuldade em perceber esta
lógica… Para muitos dos nossos irmãos, a vida plena não está no amor levado até
às últimas consequências (até a doação total da vida), mas sim na preocupação
egoísta com os seus interesses pessoais, com o seu orgulho, com o seu pequeno
mundo privado; não está no serviço simples e humilde em favor dos irmãos
(sobretudo dos mais fracos, dos mais marginalizados, dos mais infelizes), mas
no assegurar para si próprio uma dose generosa de poder, de influência, de
autoridade, de domínio, que dê a sensação de pertencer à categoria dos
vencedores; não está numa vida vivida como doação, com humildade e
simplicidade, mas numa vida feita um jogo complicado de conquista de honras, de
glórias, de êxitos. Na verdade, onde é que está a realização plena do homem?
Quem tem razão: Deus, ou os esquemas humanos que hoje dominam o mundo e que nos
impõem uma lógica diferente da lógica do Evangelho?
• Por vezes somos tentados pelo desânimo, porque não percebemos o alcance dos
esquemas de Deus; ou então, parece que, seguindo a lógica de Deus, seremos
sempre perdedores e fracassados, que nunca integraremos a elite dos senhores do
mundo e que nunca chegaremos a conquistar o reconhecimento daqueles que
caminham ao nosso lado… A transfiguração de Jesus grita-nos, do alto daquele
monte: não desanimeis, pois a lógica de Deus não conduz ao fracasso, mas à
ressurreição, à vida definitiva, à felicidade sem fim.
• Os três discípulos, testemunhas da transfiguração, parecem não ter muita
vontade de “descer à terra” e enfrentar o mundo e os problemas dos homens.
Representam todos aqueles que vivem de olhos postos no céu, alienados da
realidade concreta do mundo, sem vontade de intervir para o renovar e
transformar. No entanto, ser seguidor de Jesus obriga a “regressar ao mundo”
para testemunhar aos homens – mesmo contra a corrente – que a realização
autêntica está na doação da vida; obriga a atolarmo-nos no mundo, nos seus problemas
e dramas, a fim de dar o nosso contributo para o aparecimento de um mundo mais
justo e mais feliz. A religião não é um ópio que nos adormece, mas um
compromisso com Deus, que se faz compromisso de amor com o mundo e com os
homens.
Meditação
para a semana . . .
A
sua Palavra como uma semente de vida… “Mestre, como é bom estarmos aqui!
Façamos três tendas: uma para Ti, outra para Moisés, outra para Elias”. Dizendo
de outro modo: instalemo-nos, fiquemos aqui para sempre, estamos tão bem contemplando
a tua glória! Como seria tão bom se nós tivéssemos podido guardar Jesus
glorioso no meio de nós! Ele manifestaria desde agora a sua vitória sobre todas
as forças do mal e sobre a própria morte. Ele curaria todas as doenças, Ele
estabeleceria a justiça, Ele apaziguaria todas as tempestades, Ele suprimiria
todas as violências. Jesus estaria sempre ao nosso serviço, à nossa disposição!
Seria verdadeiramente o paraíso na terra! Mas Jesus não se deixou apanhar na
armadilha. “Olhando em redor, não viram mais ninguém, a não ser Jesus, sozinho
com eles”. Foi necessário retomar o caminho quotidiano. Será preciso que
atravessem a noite do Gólgota, depois os seus próprios sofrimentos e a sua
própria morte. Jesus não veio tirar-nos da nossa condição humana com uma
varinha mágica. Mas Ele vem juntar-se a nós nos nossos caminhos pedregosos,
dando-nos o seu Espírito para que nos tornemos capazes de O escutar, no mais íntimo
de nós mesmos. Então a sua Palavra pode enraizar-se cada vez mais profundamente
em nós, como uma semente de vida. Não a percebemos sempre… mas ela brotará na
plenitude da luz, na Ressurreição com Jesus.
fonte:
www.dehonianos.org
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