A liturgia do 4º Domingo
do Tempo Comum nos garante que Deus não se conforma com os projetos de egoísmo
e de morte que desfiguram o mundo e que escravizam os homens e afirma que Ele
encontra formas de vir ao encontro dos seus filhos para lhes propor um projeto
de liberdade e de vida plena. A primeira leitura nos propõe – a partir da
figura de Moisés – uma reflexão sobre a experiência profética. O profeta é
alguém que Deus escolhe, que Deus chama
e que Deus envia para ser a sua “palavra” viva no meio dos homens. Através dos
profetas, Deus vem ao encontro dos homens e apresenta-lhes, de forma bem
perceptível, as suas propostas. O Evangelho mostra como Jesus, o Filho de Deus,
cumprindo o projeto libertador do Pai, pela sua Palavra e pela sua ação, renova
e transforma em homens livres todos
aqueles que vivem prisioneiros do egoísmo, do pecado e da morte. A segunda
leitura convida os cristãos a repensarem as suas prioridades e a não deixarem
que as realidades transitórias sejam impeditivas de um verdadeiro compromisso
com o serviço de Deus e dos irmãos.
Reflexão:
Que fazemos da Palavra?
Por duas vezes, Marcos chama a nossa atenção para o ensino de Jesus, feito “com
autoridade”. As multidões são atingidas: esta palavra é verdadeiramente
diferente das dos escribas. Estes últimos eram, na realidade, repetidores que
apenas rediziam a Lei, triturando-a de mil maneiras, disputando sobre o sentido
de cada palavra, acabando por diluir a Palavra de Deus nos seus argumentos.
Jesus anuncia uma palavra nova, uma palavra de “autoridade”. Trata-se de uma
palavra que faz crescer, que está ao serviço do crescimento do ser e da vida. É
o sentido da ordem de Jesus ao espírito mau: “Silêncio! Sai deste homem!” Jesus
veio para que os homens “tenham a vida e a tenham em abundância”. A sua
autoridade é unicamente um poder de vida e não de morte. Os escribas acabavam
por esterilizar a Lei. Jesus liberta-a de toda a casca para fazer dela uma
Palavra criadora de vida. E nós, que fazemos desta Palavra? Muitas vezes,
transformamos as palavras do Evangelho em tantos preceitos morais, jurídicos,
que adoecem as consciências culpando-as, em lugar de fazermos apelos ao
Espírito de liberdade que nos quer colocar de pé, fazer de nós seres vivos.
O “homem com um espírito impuro” representa todos os homens e mulheres, de
todas as épocas, cujas vidas são controladas por esquemas de egoísmo, de
orgulho, de auto-suficiência, de medo, de exploração, de exclusão, de
injustiça, de ódio, de violência, de pecado. É essa humanidade prisioneira de
uma cultura de morte, que percorre um caminho à margem de Deus e das suas
propostas, que aposta em valores efêmeros e escravizantes ou que procura a vida
em propostas falíveis ou efêmeras. O Evangelho de hoje nos garante, porém, que
Deus não desistiu da humanidade, que Ele não Se conforma com o fato de os
homens trilharem caminhos de escravidão,
e que insiste em oferecer a todos a vida plena. Para Marcos, a proposta de Deus torna-se realidade viva e atuante em Jesus. Ele
é o Messias libertador que, com a sua vida, com a sua palavra, com os seus
gestos, com as suas ações, vem propor aos homens um projeto de liberdade e de
vida.
- Ao egoísmo, Ele
contrapõe a doação e a partilha;
-ao orgulho e à
auto-suficiência, Ele contrapõe o serviço simples e humilde a Deus e aos
irmãos;
- à exclusão, Ele propõe a
tolerância e a misericórdia;
- à injustiça, ao ódio, à
violência, Ele contrapõe o amor sem limites;
-ao medo, Ele contrapõe a
liberdade; à morte, Ele contrapõe a vida.
O projeto de Deus, apresentado e oferecido aos
homens nas palavras e ações de Jesus, é verdadeiramente um projeto
transformador, capaz de renovar o mundo e de construir, desde já, uma nova
terra de felicidade e de paz. É essa a Boa Nova que deve chegar a todos os
homens e mulheres da terra.
Os discípulos de Jesus são as testemunhas da sua proposta libertadora. Eles têm
que continuar a missão de Jesus e de assumir a mesma luta de Jesus contra os
“demônios” que roubam a vida e a liberdade do homem, que introduzem no mundo dinâmicas criadoras de sofrimento e de morte.
Ser discípulo de Jesus é percorrer o mesmo caminho que Ele percorreu e lutar,
se necessário até a doação total da vida, por um mundo mais humano, mais livre,
mais solidário, mais justo, mais fraterno. Os seguidores de Jesus não podem
ficar de braços cruzados, olhando para o
céu, enquanto o mundo é construído e dirigido por aqueles que propõem uma
lógica de egoísmo e de morte; mas têm a grave responsabilidade de lutar, objetivamente,
contra tudo aquilo que rouba a vida e a liberdade ao homem. O texto refere o incômodo do “homem com um espírito impuro”, diante da presença
libertadora de Jesus. O pormenor nos faz pensar nas reações agressivas e
intolerantes – por parte daqueles que pretendem perpetuar situações de
injustiça e de escravidão – diante do testemunho e do anúncio dos valores do
Evangelho. Apesar da incompreensão e da intolerância de que são, por vezes,
vítimas, os discípulos de Jesus não devem deixar-se encerrar nas sacristias,
mas devem assumir corajosamente e de forma bem visível o seu empenho na
transformação das realidades políticas, econômicas, sociais, laborais,
familiares.
A luta contra os “demônios” que desfiguram o mundo e que escravizam os homens
nossos irmãos é sempre um processo doloroso, que gera conflitos, divisões,
sofrimento; mas é, também, uma aventura que vale a pena ser vivida e uma luta
que vale a pena travar. Embarcar nessa aventura é tornar-se cúmplice de Deus na
construção de um mundo de homens livres. Os ouvintes de Jesus
estavam habituados a receber ensinamentos. A diferença que fazem entre o ensino
de Jesus e o dos escribas e fariseus é que Jesus ensina como homem que tem
autoridade. Eles sentem que a sua palavra não é dita de cor, mas pronunciada do
coração para atingir o coração. Será necessário tempo para que eles descubram
que esta palavra vem do coração de Deus. O espírito impuro sabe quem é Jesus – o Santo de Deus – e
reconhece a sua autoridade: Jesus veio para vencer as forças do Mal.
Compreendemos a admiração da multidão, que já não tem mais medo porque, no seu
meio, ergue-se o Salvador que fala e age. Tal é a sua verdadeira autoridade:
Ele vem fazer uma nova criação: como na manhã do mundo, Ele diz e tudo é
criado. Compreendemos então que o seu nome se espalhe em toda a Galiléia. E se
nós espalhássemos o seu nome? Com efeito, ainda hoje Ele diz e Ele age.
Que fazemos da Palavra? Por duas vezes, Marcos chama a nossa atenção para o
ensino de Jesus, feito “com autoridade”. As multidões são atingidas: esta
palavra é verdadeiramente diferente das dos escribas. Estes últimos eram, na
realidade, repetidores que apenas rediziam a Lei, triturando-a de mil maneiras,
disputando sobre o sentido de cada palavra, acabando por diluir a Palavra de
Deus nos seus argumentos. Jesus anuncia uma palavra nova, uma palavra de
“autoridade”. Trata-se de uma palavra que faz crescer, que está ao serviço do
crescimento do ser e da vida. É o sentido da ordem de Jesus ao espírito mau:
“Silêncio! Sai deste homem!” Jesus veio para que os homens “tenham a vida e a
tenham em abundância”. A sua autoridade é unicamente um poder de vida e não de
morte. Os escribas acabavam por esterilizar a Lei. Jesus liberta-a de toda a casca
para fazer dela uma Palavra criadora de vida. E nós, que fazemos desta Palavra?
Muitas vezes, transformamos as palavras do Evangelho em tantos preceitos
morais, jurídicos, que adoecem as consciências culpando-as, em lugar de
fazermos apelos ao Espírito de liberdade que nos quer colocar de pé, fazer de
nós seres vivos.
Meditação para a semana. . .
Encontros com o Senhor… Os nossos dias, a nossa
semana, podem ser marcados com encontros, mesmo curtos, com o Senhor: momentos
de oração (sozinhos, em casal, em família, em comunidade), celebrações na
paróquia, momentos de meditação da Palavra de Deus; e gestos e encontros para
servir os mais necessitados, solitários, enfermos.
Agradar ao Senhor,
colocando o nosso quotidiano sob o seu olhar: fazendo um balanço da nossa situação,
todas as noites, com Ele.
fonte:
www.dehonianos.org
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