17 de Novembro - São Roque Gonzales
"Matastes a quem tanto vos amava. Matastes meu
corpo, mas minha alma está no céu."
Contam os escritos que estas palavras foram ouvidas pelos índios que
assassinaram o missionário jesuíta Roque Gonzalez e seus companheiros, padres
Afonso Rodrigues e João de Castillo, em 1628. As palavras foram prodigiosamente
proferidas pelo coração de padre Roque, ao ser transpassado por uma flecha,
porque o fogo não tinha conseguido consumir. Os três padres eram jesuítas
missionários na América do Sul, no tempo da colonização espanhola. Organizavam
as missões e reduções implantadas pela Companhia de Jesus entre os índios
guaranis do hoje chamado Cone Sul. O objetivo era catequizar os indígenas,
ensinando-lhes os princípios cristãos, além de formar núcleos de resistência
indígena contra a brutalidade que lhes era praticada pelos colonizadores
europeus. Elas impediam que eles fossem escravizados, ao mesmo tempo que
permitiam manter as suas culturas. Eram alfabetizados através da religião e
aprendiam novas técnicas de sobrevivência e os conceitos morais e sociais da
vida ocidental. Era um modo comunitário de vida em que todos trabalhavam e tudo
era dividido entre todos. O grande sucesso fez que os colonizadores se unissem
aos índios rebeldes, que invadiam e destruíam todas as missões e reduções,
matando os ocupantes e pondo fim à rica e histórica experiência. Roque foi um sacerdote e missionário
exemplar. Era paraguaio, filho de colonizadores espanhóis, nascido na capital,
Assunção, em 1576. A família pertencia à nobreza espanhola, o pai era
Bartolomeu Gonzales Vilaverde e a mãe era Maria de Santa Cruz, que o criaram na
virtude e piedade. Aos quinze anos, decidiu entregar sua vida a serviço de
Deus. Ingressou no seminário e, aos vinte e quatro anos de idade, foi ordenado
sacerdote. Padre Roque quis trabalhar na formação espiritual dos índios que
viviam do outro lado do rio Paraguai, nas fazendas dos colonizadores. O resultado foi tão frutífero que o bispo de
Assunção o nomeou pároco da catedral e depois vigário-geral da diocese. Mas ele
renunciou às nomeações para ingressar na Companhia de Jesus, onde vestiu o
hábito de missionário jesuíta em 1609. Depois, passou toda a sua vida a serviço
dos índios das regiões dos países do Paraguai, Argentina, Uruguai, Brasil e
parte da Bolívia. Em 1611, chefiou por quatro anos a redução de Santo Inácio
Guaçu. Em 1626, fundou quatro reduções: Candelária, Caaçapa-Mirim, Assunção do
Juí e Caaró. Foi na Redução de Caaró, atualmente pertencente ao Brasil, que os
martírios ocorreram, em 15 de novembro de 1628. Depois de celebrar a missa com
os índios, padre Roque estava levantando um pequeno campanário na capela
recém-construída, quando índios rebeldes, a mando do invejoso e feiticeiro
Nheçu, atacaram aquela e a vizinha Redução de São Nicolau. Mataram todos e
incendiaram tudo. Padre João de Castillo morreu naquela de São Nicolau,
enquanto padre Afonso Rodrigues, que ficou na de Caaró, morreu junto com padre
Roque Gonzales, esse último com a cabeça golpeada a machado de pedra.
Dois dias depois, os índios rebeldes voltaram para saquear os escombros. Viram,
então, que o corpo de padre Roque estava pouco queimado, então transpassaram
seu coração com uma flecha. Foi aí que ocorreu o prodígio citado no início
deste texto e mantido pela tradição. Eles foram beatificados pelo papa Pio XI
em 1934 e canonizados pelo papa João Paulo II em 1988, em sua visita à capital
do Paraguai. A festa de são Roque Gonzales ocorre no dia 17 de novembro.
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