02/novembro/2014 - Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos
A liturgia da Comemoração
dos Fiéis Defuntos nos convida a
descobrir que o projeto de Deus para o homem é um projeto de vida. No horizonte
final do homem não está a morte, o fracasso, o nada, mas está a comunhão com
Deus, a realização plena do homem, a felicidade definitiva, a vida eterna. No
Evangelho, Jesus deixa claro que o objetivo final da sua missão é dar aos
homens o “pão” que conduz à vida eterna. Para ter acesso a essa vida, os
discípulos são convidados a “comer a carne” e a “beber o sangue” de Jesus –
isto é, a aderir à sua pessoa, a assimilar o seu projeto, a interiorizar a sua
proposta. A Eucaristia cristã (o “comer a carne” e beber o sangue” de Jesus) é,
ao longo da nossa caminhada pela terra, um momento privilegiado de encontro e
de compromisso com essa vida nova e definitiva que Jesus veio oferecer. Na
segunda leitura, Paulo garante aos cristãos de Tessalônica que Cristo virá de
novo, um dia, para concluir a história humana e para inaugurar a realidade do
mundo definitivo; todo aquele que tiver aderido a Jesus e se tiver identificado
com Ele irá ao encontro do Senhor e permanecerá com Ele para sempre. Na primeira leitura, Isaías anuncia e descreve o “banquete” que Deus, um dia,
vai oferecer a todos os Povos. Com imagens muito sugestivas, o profeta sugere
que o fim último da caminhada do homem é o “sentar-se à mesa” de Deus, o
partilhar a vida de Deus, o fazer parte da família de Deus. Dessa comunhão com
Deus resultará, para o homem, a felicidade total, a vida definitiva.
Reflexão:
• A liturgia da comemoração dos Fiéis Defuntos
nos assegura que Deus tem um projeto de vida definitiva para oferecer aos
homens: o caminho que percorremos nesta terra não termina no fracasso e na
morte, mas no encontro com a vida verdadeira e eterna. Ora, o Evangelho que
hoje nos é proposto confirma e garante esse ensinamento fundamental: cumprindo
o seu projeto de salvação, Deus enviou Jesus ao mundo (Jesus se apresenta como
“o pão que desceu do céu”) para que os homens pudessem chegar à vida eterna. A
liturgia deste dia nos convida, antes de mais nada, a contemplar o amor de Deus
por nós, a constatar a sua incrível preocupação com a nossa felicidade e com a
nossa realização plena, a descobrir que não estamos perdidos e abandonados face
à nossa fragilidade, debilidade e finitude. Esta constatação deve nos levar a
encarar, com serenidade e confiança, a nossa caminhada pela terra, com a
certeza de que nos espera, para lá do horizonte deste mundo imperfeito, a vida
verdadeira e definitiva.
• Como é que chegamos a adquirir essa vida verdadeira e definitiva? O Evangelho
deste domingo afirma, categoricamente, que quem aceita comer a carne e beber o
sangue de Jesus viverá eternamente. Ora, comer a carne e beber o sangue de
Jesus é, antes de mais nada, acolher, assimilar e interiorizar essa proposta de
vida que Jesus nos fez (com a sua Palavra, com o seu exemplo, com os seus
gestos, com o seu amor); é, como Jesus, colocar a própria vida ao serviço dos
projetos de Deus e fazer da própria existência um dom de amor aos irmãos. Este
programa de vida não é, como é notório para qualquer um de nós, muito apreciado
numa cultura como a nossa, fortemente marcada pelo egoísmo, pelo individualismo
e pela auto-suficiência. Que não restem, contudo, dúvidas: só encontraremos
essa vida plena e eterna a que aspiramos, seguindo Jesus, assimilando os seus
valores, fazendo da nossa vida um serviço a Deus e aos irmãos com quem cruzamos nos caminhos do mundo. Se aceitarmos
conduzir a vida de acordo com esses parâmetros, o horizonte final da nossa caminhada
por esta terra não é a morte, mas a vida eterna.
• A Eucaristia é um momento privilegiado de encontro com esse Cristo que Se faz
“dom” e que vem ao nosso encontro para nos oferecer a vida plena e definitiva.
Participar no encontro eucarístico, comer a carne e beber o sangue de Jesus é
encontrar-se, hoje, com esse Cristo que veio ao encontro dos homens e que
tornou presente na sua “carne” (na sua pessoa física) uma vida feita amor,
partilha, entrega, até ao dom total de Si mesmo na cruz (“sangue”). Para nós,
os crentes, a Eucaristia – mais do que um rito que cumprimos por obrigação ou
por tradição – tem que ser um momento privilegiado de encontro e de compromisso
com Jesus e com essa vida nova e eterna que Ele continuamente nos oferece.
• Sentar-se à mesa da Eucaristia é identificar-se com Jesus, aceitar viver em
união com Ele. Na Eucaristia, o alimento servido é o próprio Cristo. Por isso,
é a própria vida de Cristo que passa a circular nos crentes. Quem acolhe essa
vida que Jesus oferece torna-se um com Ele. Comer cada domingo (ou cada dia) à
mesa com Jesus desse alimento que Ele próprio dá e que é a sua pessoa, leva os
crentes a uma comunhão total de vida com Jesus e a fazer parte da família do
próprio Jesus. Convém termos consciência desta realidade: celebrar a Eucaristia
é aprofundarmos os laços familiares que nos unem a Jesus, identificarmo-nos com
Ele, deixarmos que a sua vida circule em nós. O crente, alimentado pela
Eucaristia, identificado com Jesus, transformado num homem novo, transporta consigo
dinamismos de vida eterna.
• Na concepção judaica, a partilha do mesmo alimento à volta da mesa gera entre
os convivas familiaridade e comunhão. Assim, os crentes que participam da
Eucaristia passam a ser irmãos: todos partilham a mesma vida, a vida do Cristo
do amor total. Dessa forma, a participação na Eucaristia tem que resultar no
reforço da comunhão dos irmãos. Uma comunidade que celebra a Eucaristia é uma
comunidade que aceitou banir do seu próprio seio tudo o que é divisão, ciúme,
conflito, orgulho, auto-suficiência, indiferença para com as dores e as
necessidades dos irmãos… A comunidade que se alimenta da Eucaristia deve ser,
portanto, um anúncio vivo desse mundo novo de fraternidade, de justiça e de paz
que nos espera para além desta terra.
• Finalmente, o comer a carne e beber o sangue de Jesus implica um compromisso
com esse mesmo projeto que Jesus procurou concretizar em toda a sua vida, em
todos os seus gestos, em todas as suas palavras. O crente que celebra a
Eucaristia tem que levar ao mundo e aos homens essa vida que aí recebe… Tem que
lutar, como Jesus, contra a injustiça, o
egoísmo, a opressão, o pecado; tem que esforçar-se, como Jesus, por eliminar
tudo o que prejudica o mundo e causa sofrimento e morte; tem que construir, como Jesus, um mundo de liberdade,
de amor e de paz; tem que testemunhar, como Jesus, que a vida verdadeira é
aquela que se faz amor, serviço, partilha, doação até às últimas consequências.
O crente que come a carne e que bebe o sangue de Jesus torna-se uma fonte de
onde brota, para o mundo e para os homens, a vida eterna.
fonte:
www.dehonianos.org
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