05-junho-2016 - 10º DOMINGO DO TEMPO COMUM
A dimensão profética percorre a liturgia da Palavra deste
domingo, em Elias, o profeta da esperança e da vida, em Paulo, o profeta do
Evangelho recebido de Deus, e, particularmente, em Jesus, o grande profeta que
visita o seu povo em atitude de total oblação.
A primeira leitura nos apresenta a figura da mulher de Sarepta, que
significa a perda da esperança e o sentimento de derrota e de procura de um
culpado, e a figura do profeta Elias, que acredita no Deus da vida, que não
abandona o homem ao poder da morte, ressuscitando o filho da viúva. No Evangelho, temos a revelação de Deus expressa na atitude de piedade e
compaixão de Jesus no milagre da ressurreição do filho da viúva. Deus visita o
seu povo em Jesus, “um grande profeta”, realizando o reino pela ressurreição,
oferecendo a sua vida e dando-lhe pleno sentido. Na segunda leitura, acolhemos a absoluta
gratuidade da conversão de Paulo, para quem o Evangelho é uma força vital e
criadora, que produz o que anuncia; a sua força é Deus. É uma força vital, uma
dinâmica profética que ele recebeu diretamente de Deus.
REFLEXÃO:
No episódio da ressurreição do filho de uma viúva, em
paralelo com o da primeira leitura. O milagre relatado neste texto, assim como
o dos versículos anteriores, respondem à pergunta de João de Baptista a Jesus:
“és Tu que hás de vir ou devemos esperar outro?” Jesus oferece a salvação (cf.
Lc 7,1-10) e mostra o verdadeiro triunfo da vida (cf. Lc 7,11-17). Não é o
relato em si que é o mais importante, mas o sentido que nos transmite. Antes de mais nada, temos aqui uma revelação de Deus. Diante da atitude de
piedade e compaixão de Jesus, neste milagre de ressurreição, vemos a exclamação
do povo: “Deus visitou o seu povo”. Jesus é “um grande profeta”, não apenas
porque transmite a Palavra de Deus e anuncia o reino com palavras, mas
sobretudo porque veio realizar o reino pela ressurreição, oferecendo a sua
vida. Em seguida, vemos aqui o sentido da vida. Jesus veio criar, oferecer ao homem a
alegria de uma vida aberta com todo o sentido. Percebemos ainda todo o caráter de sinal presente no milagre. A ressurreição do
filho da viúva testemunha Jesus que há de vir, cuja vida triunfa plenamente
sobre a morte. Significa que para nós, hoje como naquelermpo, Deus Se encontra onde há o
sentido da piedade, do amor vivificante. Significa ainda que, seguindo Jesus,
só podemos também suscitar vida, ter piedade dos que sofrem, oferecer a nossa
ajuda, ter uma atitude de oblação. Das duas, uma: ou fazemos da nossa vida um cortejo de morte, dos sem esperança,
que acompanham o cadáver, em atitude de choro, de luto, de desespero; ou
fazemos do nosso peregrinar um caminho de esperança, de ressurreição, de
transformação do choro e da morte em sentido de vida. Podemos escolher, é
certo. Mas se somos seguidores de Cristo e nos deixamos visitar por este grande
profeta, não temos alternativa!
A partir da liturgia de hoje, podemos percorrer algumas
interpelações sobre o sentido da profecia para os tempos atuais. Como ser
profeta hoje? Como ser profeta à luz da Palavra de Deus que ilumina os acontecimentos
das nossas vidas, da Igreja e do mundo?
1. Descobrir e propor o projeto de Deus para o mundo e
para os homens. O profeta é homem do seu tempo, marcado pelas descobertas,
conquistas, contradições e esperanças dos homens do seu tempo… É também alguém
com uma fé profunda, com uma consciência muito forte da presença de Deus na
própria vida. A vida de união e de comunhão com Deus vai impregnando a vida do
profeta, de modo que vai aprendendo a interpretar todos os acontecimentos políticos,
sociais e religiosos à luz de Deus e do seu projeto. Só deste modo ele pode
apresentar o projeto de Deus para os homens hoje.
2. Sentir-se chamado por Deus, receber de Deus uma
missão, ser enviado por Deus ao mundo. Deus chama de muitas formas… Um sonho,
uma leitura, um acontecimento, um sinal… Às vezes descobre-se o seu apelo no
rosto de um pobre ou de um escravizado; outras vezes, nas páginas dos jornais;
outras, nas necessidades da Igreja ou da sociedade; outras, nos acontecimentos
turbulentos do presente; outras, mais simplesmente, nas palavras de um amigo ou
de um mestre… Ao ser chamado, o profeta recebe de Deus uma missão.
3. Estar marcado pelas experiências de solidão, angústia,
sofrimento, crise, rejeição, incompreensão… Ser fiel à missão de Deus, mesmo
quando, com essa atitude, o profeta se sente abandonado, rejeitado,
incompreendido. No fundo, trata-se de arriscar a vida, na certeza da presença
de Deus.
4. Estar desinstalado, num território concreto… como
espaço de verificação e de rejeição da profecia anunciada. Ninguém é profeta na
sua terra, é certo. Mas é na terra, no espaço concreto, na escola, no local de
trabalho, na comunidade, na Igreja… que a profecia deve ser anunciada. Com
coragem, com desassombro.
5. Viver no quotidiano da existência, na minha situação
concreta, aqui e agora. Como ser profeta, aqui e agora, na minha situação, face
aos problemas reais que me entram pelos olhos e interpelam o meu coração aberto
ao Pai e ao próximo?
6. Anunciar as Boas Novas de sempre duma forma sempre
nova. O conteúdo do anúncio profético é sempre o mesmo. Mas esta única Palavra
de Deus deve ressoar duma forma sempre nova…
7. Assumir um modo novo e inédito de viver e anunciar o
essencial. Anunciar um modo novo de viver o essencial. E o essencial é a fé, a
esperança e a plenitude do amor, das quais os profetas foram testemunhas
vulneráveis, mas, obstinados. O Espírito sopra onde quer e como quer, com
liberdade imprevisível, não se deixando amarrar em esquemas exclusivos ou muito
estreitos…
8. Escutar, aprender, receber, acolher… o Deus do povo e
o povo de Deus.
9. Ser coerente entre a palavra anunciada e as opções
pessoais. Quantos pretensos profetas gritam diante dos microfones, ditam
sentenças nos jornais a torto e a direito, gesticulam nas praças e na
televisão… mas não dão testemunho com a sua vida. Por isso, não mudam as
coisas! Há incoerência entre pensamento e vida, entre ideal e prática.
10. Denunciar não apenas os pecados, mas as estruturas de
pecado, promover e estimular novas estruturas de virtudes e valores.
11. Testemunhar entre o silêncio intenso-pleno e o
silêncio despojado-vazio. Diante dos dramas recentes e atuais, diante das
angústias e sofrimentos, diante dos vazios e da falta de esperança, o profeta
dá testemunho, com o seu silêncio, do silêncio de Deus. Não é fácil, mas pode
ser um silêncio fecundo que fala.
12. Lutar contra os novos ídolos de hoje: deletá-los,
desmascará-los, denunciá-los…
13. Anunciar a fé e a justiça, assumir a esperança como
raiz da profecia. Não se trata de duas coisas distintas: a fidelidade ao Deus
vivo exige a defesa dos direitos do pobre. A mensagem profética, na sua
capacidade de denúncia, integra-se e aperfeiçoa-se, especificando-se, na
proposta de uma utopia, na “proposta de uma alternativa”, chamada esperança.
Sem esperança não há profecia.
14. Profetizar no século XXI, viver a profecia da
gratuidade, da sobriedade, da essencialidade: sentir a alegria de dar,
gratuitamente; experimentar a força do Amor criador de Deus; praticar
diariamente uma vida simples, sóbria; ir profeticamente contra a corrente do
domínio e do consumo; ser capaz de desmascarar as raízes do egoísmo e as suas
consequências…
15. Profetizar no século XXI, viver obediente a profecia
da multiculturalidade: descobrir a única vontade de Deus Pai; deixar os
isolamentos, os nossos planos egoístas; procurar a vontade de Deus na vontade
da comunidade; deixar de lado o escândalo da excomunhão mútua; comungar no
mesmo Deus…
fonte:
www.dehonianos.org
Nenhum comentário:
Postar um comentário