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03 junho, 2016

03-junho-2016 - Solenidade do Sagrado Coração de Jesus

A liturgia deste dia nos convida a contemplar a bondade, a ternura e a misericórdia de Deus pelos homens – por todos os homens, sem exceção. Como imagem privilegiada para exprimir esta realidade, a Palavra de Deus utiliza a figura do Pastor: Deus é o Pastor que, com amor, cuida do seu rebanho.  A primeira leitura apresenta Deus como um “bom pastor” (contraposto aos líderes de Israel, os “maus pastores” que conduziram o Povo por caminhos de egoísmo e de morte), cuja preocupação fundamental é o bem-estar do seu rebanho; nesse contexto, o profeta anuncia a obra do Pastor/Deus: libertação do rebanho/Povo, o êxodo para a terra da liberdade, a condução do rebanho para “pastagens excelentes” e os cuidados amorosos que o Pastor dispensará a cada uma das suas ovelhas. A segunda leitura nos lembra que o amor de Deus se derrama continuamente sobre os homens. A prova cabal desse imenso amor é Jesus Cristo, o Filho que o Pai enviou ao nosso encontro para nos libertar do egoísmo e do pecado e que deu a própria vida para que o projeto de amor do Pai se concretizasse e atingisse a humanidade inteira.  O Evangelho retoma a imagem do Deus/Pastor, cujo amor se derrama, de forma especial, sobre as ovelhas feridas e perdidas do rebanho. Dessa forma, sugere-se que o Pastor/Deus não só não exclui ninguém da sua proposta de salvação – nem sequer aqueles que, pelas suas atitudes “politicamente incorretas” são marginalizados pelos outros homens – mas até tem um “fraco” especial pelos excluídos: são precisamente esses os destinatários privilegiados do amor de Deus.
Reflexão:
A parábola do pastor que abandona noventa e nove ovelhas no deserto para ir à procura de uma que se perdeu e que, chegado a casa, convoca os amigos e vizinhos para celebrar o encontro da ovelha perdida, é uma parábola estranha, se olharmos para ela com critérios de coerência e de lógica. Faz sentido abandonar noventa e nove ovelhas por causa de uma? E faz sentido esse estardalhaço diante dos amigos e dos vizinhos, por causa de um fato tão banal para um pastor como é o reencontrar uma ovelha que se extraviou do grupo? Ora, são precisamente nesses exageros e nessas reações desproporcionadas que transparece a mensagem essencial da parábola.
Os relatos evangélicos põem, com frequência, Jesus em contato com gente reprovável, apontada a dedo pela sociedade, como os cobradores de impostos e as mulheres de má vida. É impossível que os discípulos tenham inventado isto: ninguém da comunidade cristã primitiva estaria interessado em atribuir a Jesus um comportamento “politicamente incorreto”, se isso não correspondesse à realidade histórica. Não há dúvida: Jesus convivia com gente duvidosa, com pessoas a quem os “justos” preferiam evitar, com pessoas que eram marginalizadas por causa dos seus comportamentos escandalosos, atentatórios da moral pública. Certamente não foram os discípulos que inventaram  para Jesus o injurioso apelido de “comilão e bêbedo, amigo de publicanos e de pecadores (Mt 11,19; cf. 15,1-2). Porque é que Jesus se dava com essas pessoas?
Porque, na perspectiva de Lucas, Jesus é o amor de Deus que Se faz pessoa e que vem ao encontro dos homens – de todos os homens – para os libertar da sua miséria e para lhes apresentar essa realidade de vida nova que é o projeto do “Reino”. A solicitude de Jesus para com os pecadores mostra-lhes que Deus os ama, que Deus não os rejeita, que Deus os convida a fazer parte da sua família e a integrar a comunidade do “Reino”. É que o projeto de salvação de Deus não é um condomínio fechado, com seguranças fardados para evitar a entrada de indesejáveis; mas é uma proposta universal, onde todos os homens e mulheres têm lugar, porque todos – maus e bons – são filhos queridos e amados do Pai/Deus. A lógica de Deus é sempre dominada pelo amor.
A “parábola da ovelha perdida” pretende, precisamente, dar conta desta realidade. A atitude desproporcionada de “deixar as noventa e nove ovelhas no deserto para ir ao encontro da que estava perdida” sublinha a imensa preocupação de Deus por cada homem que se afasta da comunidade da salvação e o “inqualificável” amor de Deus por todos os homens que necessitam de libertação. O “pôr a ovelha aos ombros” significa o cuidado e a solicitude de Deus, que trata com amor e com cuidados de Pai os filhos feridos e magoados; a alegria desmesurada do “pastor” significa a felicidade imensa de Deus sempre que o homem retorna ao caminho da felicidade e da vida plena.
Jesus anuncia, aqui, a salvação de Deus oferecida aos pecadores, não porque estes se tornaram dignos dela mediante as suas boas obras, mas porque o próprio Deus Se solidariza com os excluídos e marginalizados e lhes oferece a salvação. Encontramos aqui o cumprimento da profecia de Ezequiel que nos foi apresentada na primeira leitura: Deus vai assumir-Se (através de Jesus) como o Bom Pastor, que cuidará com amor de todas as ovelhas e, de forma especial, das desencaminhadas e perdidas.

• Antes de mais nada, o que está em causa na leitura que nos é proposta é a apresentação do imenso amor de Deus. Deus ama de forma desmesurada cada mulher e cada homem. É esta a primeira coisa que nos deve “tocar” ao celebrarmos o Coração de Jesus. Interiorizamos suficientemente esta certeza, deixamos que ela marque a nossa vida e condicione as nossas opções?
• O amor de Deus dirige-se, de forma especial, aos pequenos, aos marginalizados, aos necessitados de salvação. Os pobres e fracos que encontramos nas ruas das nossas cidades ou à porta das igrejas das nossas paróquias encontram nos “profetas do amor” a solicitude maternal e paternal de Deus? Apesar do imenso trabalho, do cansaço, do “stress”, dos problemas que nos incomodam, somos capazes de “perder” tempo com os pequenos, de ter disponibilidade para acolher e escutar, de “gastar” um sorriso com esses excluídos, oprimidos, sofredores, que encontramos todos os dias e para os quais temos a responsabilidade de tornar real o amor de Deus?
• Tornar o amor de Deus uma realidade viva no mundo significa lutar objetivamente contra tudo o que gera ódio, injustiça, opressão, mentira, sofrimento… Inquieto-me, realmente, frente a tudo aquilo que desfigura o mundo? Pactuo (com o meu silêncio, indiferença, cumplicidade) com os sistemas que geram injustiça, ou me  esforço ativamente por destruir tudo o que é uma negação do amor de Deus?

• As nossas comunidades (cristãs e religiosas) são espaços de acolhimento e de hospitalidade, oásis do amor de Deus, não só para os amigos e confrades, mas também para os pobres, os marginalizados, os sofredores que buscam em nós um sinal de amor, de ternura e de esperança?

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