06-setembro-2015 - 23º
Domingo do Tempo Comum - Mc 7,31-37
A liturgia do 23º Domingo
do Tempo Comum nos fala de um Deus comprometido com a vida e a felicidade do
homem, continuamente apostado em renovar, em transformar, em recriar o homem,
de modo a fazê-lo atingir a vida plena do Homem Novo. Na primeira leitura, um profeta da época do
exílio na Babilônia garante aos exilados, afogados na dor e no desespero, que
Jahwéh está prestes a vir ao encontro do seu Povo para o libertar e para o
conduzir à sua terra. Nas imagens dos cegos que voltam a contemplar a luz, dos
surdos que voltam a ouvir, dos coxos que saltarão como gazelas e dos mudos que
cantarão com alegria, o profeta
representa essa vida nova, excessiva, abundante, transformadora, que Deus vai oferecer
a Judá. No Evangelho, Jesus, cumprindo o
mandato que o Pai Lhe confiou, abre os ouvidos e solta a língua de um surdo-mudo… No gesto de
Jesus, revela-se esse Deus que não Se conforma quando o homem se fecha no
egoísmo e na auto-suficiência, rejeitando o amor, a partilha, a comunhão. O
encontro com Cristo leva o homem a sair do seu isolamento e a estabelecer laços
familiares com Deus e com todos os irmãos, sem exceção. A segunda leitura dirige-se àqueles que
acolheram a proposta de Jesus e se comprometeram a segui-lo no caminho do amor,
da partilha, da doação. Convida-os a não discriminar ou marginalizar qualquer
irmão e a acolher com especial bondade os pequenos e os pobres.
Reflexão:
• O Evangelho deste
domingo nos garante, uma vez mais, que o Deus em quem acreditamos é um Deus
comprometido conosco, preocupado em renovar o homem, em transformá-lo, em
recriá-lo, em fazê-lo chegar à vida plena do Homem Novo. Este Deus que abre os
ouvidos dos surdos e solta a língua dos mudos é um Deus cheio de amor, que não
abandona os homens à sua sorte nem os deixa adormecer em esquemas de comodismo
e de instalação; mas, a cada instante, vem ao seu encontro, desafia-os a ir
mais além, convida-os a atingir a plenitude das suas possibilidades e das suas
potencialidades. Não esqueçamos esta realidade: na nossa viagem pela vida, não
caminhamos sozinhos, arrastando sem objetivo a nossa pequenez, a nossa miséria,
a nossa debilidade; mas ao longo de todo o nosso percurso pela história, o
nosso Deus vai ao nosso lado, apontando-nos, com amor, os caminhos que nos
conduzem à felicidade e à vida verdadeira.
• O surdo-mudo,
incapaz de escutar a Palavra de Deus, representa esses homens que vivem
fechados aos projetos e aos desafios de Deus, ocupados em construir a sua vida
de acordo com esquemas de egoísmo, de orgulho, de auto-suficiência, que não
precisam de Deus nem das suas propostas. O homem do nosso tempo já nem gasta
tempo em negar Deus; limita-se a ignorá-lo, surdo aos seus desafios e às suas
indicações. O que é que as propostas de Deus significam para mim? Dou ouvidos
aos apelos e desafios de Deus, ou aos valores e propostas que o mundo me
apresenta? Quando tenho que fazer opções, o que é que conta: as propostas de
Deus ou as propostas do mundo?
• O surdo-mudo
representa também aqueles que não se preocupam em comunicar, em partilhar a
vida, em dialogar, em deixar-se interpelar pelos outros… Define a atitude de
quem não precisa dos irmãos para nada, de quem vive instalado nas suas certezas
e nos seus preconceitos, convencido de que é dono absoluto da verdade. Define a
atitude daquele que não tem tempo nem disponibilidade para o irmão; define a
atitude de quem não é tolerante, de quem não consegue compreender os erros e as
falhas dos outros e não sabe perdoar. Uma vida de “surdez” é uma vida vazia,
estéril, triste, egoísta, fechada, sem amor. Não é nesse caminho que
encontramos a nossa realização e a nossa felicidade…
• O surdo-mudo
representa ainda aqueles que se fecham no egoísmo e no comodismo, indiferentes
aos apelos do mundo e dos irmãos. Somos surdos quando escutamos os gritos dos
injustiçados e lavamos as nossas mãos; somos surdos quando toleramos estruturas
que geram injustiça, miséria, sofrimento e morte; somos surdos quando pactuamos
com valores que tornam o homem mais escravo e mais dependente; somos surdos
quando encolhemos os ombros, indiferentes, face à guerra, à fome, à injustiça,
à doença, ao analfabetismo; somos surdos quando temos vergonha de testemunhar
os valores em que acreditamos; somos surdos quando nos demitimos das nossas
responsabilidades e deixamos que sejam os outros a comprometer-se e a se
arriscar; somos surdos quando calamos a nossa revolta por medo, covardia ou
calculismo; somos surdos quando nos resignamos em vegetar no nosso sofá cômodo,
sem nos empenharmos na construção de um mundo novo… Uma vida comodamente
instalada nesta “surdez” descomprometida é uma vida que vale a pena ser vivida?
• A missão de Cristo
consistiu precisamente em abrir os olhos aos cegos e desatar a língua dos
mudos… Ele veio nos abrir à relação com Deus, ao amor dos irmãos, ao
compromisso com o mundo. Quem adere a Cristo e quer segui-lo no caminho do amor
a Deus e da entrega aos irmãos, não pode resignar-se a viver fechado a Deus e
ao mundo. O encontro com Cristo tira-nos da mediocridade e desperta-nos para o
compromisso, para o empenho, para o testemunho. Leva-nos a sair do nosso
isolamento e a estabelecer laços familiares com Deus e com todos os nossos
irmãos, sem exceção.
• O surdo-mudo da
nossa história foi trazido e apresentado a Jesus por outras pessoas. O pormenor
nos lembra o nosso papel no sentido de
fazer a ponte entre os irmãos que vivem prisioneiros da “surdez” e a proposta
libertadora de Jesus Cristo. Não podemos ficar de braços cruzados quando algum
dos nossos irmãos se instala em esquemas de fechamento, de egoísmo, de
auto-suficiência; mas, com o nosso testemunho de vida, temos que lhe apresentar
essa proposta libertadora que Cristo quer oferecer a todos os homens.
• Antes de curar o
surdo-mudo, Jesus “ergueu os olhos ao céu”. O gesto de Jesus nos recorda que é
preciso manter sempre, no meio da ação, a referência a Deus. É necessário
dialogarmos continuamente com Deus para descobrir os seus projetos, para
perceber as suas propostas, para ser fiel aos seus planos; é preciso tomar
continuamente consciência de que é Deus que age no mundo através dos nossos
gestos; é preciso que toda a nossa ação encontre em Deus a sua razão última: se
isso não acontecer, rapidamente a nossa ação perde todo o sentido.
“Effata!” “Abre-te!” Esta palavra tão simples
é na realidade muito perigosa. Como diz o dicionário, abrir é fazer com que o
que está fechado não o fique mais. Óbvio, mas cheio de consequências! Os Judeus
de Jerusalém tinham consciência de serem o Povo eleito por Deus. Nem pensar em misturar-se
aos outros povos, aos pagãos, aos estrangeiros! E eis que Jesus faz o
contrário. Sai das fronteiras de Israel, vai junto dos pagãos, fazendo mesmo
milagres em seu favor. É o mundo ao contrário! Ele não teme nem mesmo ter
contacto físico com este surdo-mudo, impuro aos olhos dos Judeus fiéis. Antes
de abrir os ouvidos do infeliz, é Jesus que Se abre aos estrangeiros,
tornando-Se um impuro aos olhos dos Judeus. Evidentemente, é muito arriscado,
ainda hoje, abrir a sua porta, mas primeiro o seu coração aos estrangeiros.
Porque é preciso olhá-los ultrapassando os preconceitos, aceitando outras
maneiras de pensar e de viver. Aquele que segue Jesus não pode esquivar-se à
interrogação: E eu, onde estou quanto à minha abertura de coração? Jesus quer
sempre vir até mim, tocar os meus ouvidos para que eu ouça melhor o grito dos
meus irmãos angustiados, tocar os meus olhos para que procure encontrar o olhar
de Deus sobre os outros. A um visitante que lhe perguntava para que servia um
concílio, João XXIII respondeu: “ o concílio é a janela aberta. Ou ainda, é
tirar a poeira e varrer a casa, e pôr flores e abrir a porta dizendo a todos:
Vinde e vede, aqui é a casa do bom Deus!” Na manhã de Páscoa, já houve uma
abertura, quando a pedra que fechava o túmulo de Jesus foi retirada. E antes
ainda, tinha havido já uma abertura, quando o soldado romano tinha aberto o
lado de Jesus com um golpe de lança. Estas duas aberturas nunca foram fechadas.
Participando da Eucaristia, vimos beber a água e o sangue que brotam para que o
grito de Jesus seja eficaz também em nós: “Effata!” “Abre-te!”
Meditação para a semana …
Um tempo de meditação… Para nos impregnarmos daquilo que o Senhor deseja para
nós, encontremos um tempo para rezar e meditar estas simples palavras de Cristo:
“Abre-te”. O Salmo 145 pode ajudar-nos. Por este tempo de meditação, procuremos descobrir o que impede ainda em
nós a verdadeira libertação oferecida pelo Senhor.
Cada Eucaristia é uma
passagem de Cristo ressuscitado: deixemo-nos tocar por Ele para nos abrirmos…
fonte:
www.dehonianos.org
Nenhum comentário:
Postar um comentário