13-setembro-2015 - 24º Domingo do Tempo Comum - Mc 8,27-35
A liturgia do 24º Domingo
do Tempo Comum nos diz que o caminho da realização plena do homem passa pela
obediência aos projetos de Deus e pela doação total da vida aos irmãos. Ao contrário do que
o mundo pensa, esse caminho não conduz ao fracasso, mas à vida verdadeira, à
realização plena do homem. A primeira
leitura nos apresenta um profeta anônimo, chamado por Deus a testemunhar a
Palavra da salvação e que, para cumprir essa missão, enfrenta a perseguição, a
tortura, a morte. Contudo, o profeta está consciente de que a sua vida não foi
um fracasso: quem confia no Senhor e procura viver na fidelidade ao seu projeto,
triunfará sobre a perseguição e a morte. Os primeiros cristãos viram neste
“servo de Jahwéh” a figura de Jesus. No
Evangelho, Jesus é apresentado como o Messias libertador, enviado ao mundo pelo
Pai para oferecer aos homens o caminho da salvação e da vida plena. Cumprindo o
plano do Pai, Jesus mostra aos discípulos que o caminho da vida verdadeira não
passa pelos triunfos e êxitos humanos, mas pelo amor e pela doação da vida (até
à morte, se for necessário). Jesus vai percorrer esse caminho; e quem quiser
ser seu discípulo, tem que aceitar percorrer um caminho semelhante. A segunda leitura nos lembra que o seguimento de Jesus não se concretiza com
belas palavras ou com teorias muito bem elaboradas, mas com gestos concretos de
amor, de partilha, de serviço, de solidariedade para com os irmãos.
Reflexão:
• Quem é Jesus? O que é que “os homens” dizem de Jesus? Muitos dos nossos
conterrâneos vêem em Jesus um homem bom, generoso, atento aos sofrimentos dos
outros, que sonhou com um mundo diferente; outros vêem em Jesus um admirável
“mestre” de moral, que tinha uma proposta de vida “interessante”, mas que não
conseguiu impor os seus valores; alguns vêem em Jesus um admirável condutor de
massas, que acendeu a esperança nos corações das multidões carentes e órfãs,
mas que saiu de moda quando as multidões deixaram de se interessar pelo fenômeno;
outros, ainda, vêem em Jesus um revolucionário, ingênuo e inconsequente,
preocupado em construir uma sociedade mais justa e mais livre, que procurou
promover os pobres e os marginalizados e que foi eliminado pelos poderosos,
preocupados em manter o “status quo”. Estas visões apresentam Jesus como “um
homem” – embora “um homem” excepcional, que marcou a história e deixou uma
recordação imorredoura. Jesus foi apenas um “homem” que deixou a sua pegada na
história, como tantos outros que a história absorveu e digeriu?
• “E vós, quem dizeis que Eu sou?” É uma
pergunta que deve, de forma constante, ecoar nos nossos ouvidos e no nosso
coração. Responder a esta questão não significa papaguear lições de catequese
ou tratados de teologia, mas sim interrogar o nosso coração e tentar perceber
qual é o lugar que Cristo ocupa na nossa existência… Responder a esta questão nos
obriga a pensar no significado que
Cristo tem na nossa vida, na atenção que damos às suas propostas, na
importância que os seus valores assumem nas nossas opções, no esforço que
fazemos ou que não fazemos para o seguir… Quem é Cristo para mim? Ele é o
Messias libertador, que o Pai enviou ao meu encontro com uma proposta de
salvação e de vida plena?
• Frente a frente o
Evangelho deste domingo coloca a lógica dos homens (Pedro) e a lógica de Deus
(Jesus). A lógica dos homens aposta no poder, no domínio, no triunfo, no êxito;
garante-nos que a vida só tem sentido se estivermos do lado dos vencedores, se
tivermos dinheiro em abundância, se formos reconhecidos e incensados pelas
multidões, se tivermos acesso às festas onde se reúne a alta sociedade, se
tivermos lugar no conselho de administração da empresa, se tivermos uma posição
de destaque dentro da paróquia . A lógica de Deus aposta na entrega da vida a
Deus e aos irmãos; garante-nos que a vida só faz sentido se assumirmos os
valores do Reino e vivermos no amor, na partilha, no serviço, na solidariedade,
na humildade, na simplicidade. Na minha vida de cada dia, estas duas
perspectivas confrontam-se, a par e passo… Qual é a minha escolha? Na minha
perspectiva, qual destas duas propostas apresenta um caminho de felicidade seguro
e duradouro?
• Jesus tornou-se um
de nós para concretizar os planos do Pai e propor aos homens – através do amor,
do serviço, do dom da vida – o caminho da salvação, da vida verdadeira. Neste
texto (como, aliás, em muitos outros), fica claramente expressa a fidelidade
radical de Jesus a esse projeto. Por isso, Ele não aceita que nada nem ninguém
O afastem do caminho da doação da vida: dar ouvidos à lógica do mundo e
esquecer os planos de Deus é, para Jesus, uma tentação diabólica que Ele
rejeita duramente. Que significado e que lugar ocupam na minha vida os projetos
de Deus? Esforço-me por descobrir a vontade de Deus a meu respeito e a respeito
do mundo? Estou atento a esses “sinais dos tempos” através dos quais Deus me
interpela? Sou capaz de acolher e de viver com fidelidade e radicalidade as
propostas de Deus, mesmo quando elas são exigentes e vão contra os meus
interesses e projetos pessoais?
• Quem são os
verdadeiros discípulos de Jesus? Muitos de nós receberam uma catequese que
insistia em ritos, em fórmulas, em práticas de piedade, em determinadas
obrigações legais, mas que deixou para segundo plano o essencial: o seguimento
de Jesus. A identidade cristã constrói-se à volta de Jesus e da sua proposta de
vida. Que nenhum de nós tenha dúvidas: ser cristão é bem mais do que ser batizado,
ter casado na igreja, organizar a festa do santo padroeiro da paróquia, ou
dar-se bem com o padre… Ser cristão é, essencialmente, seguir Jesus no caminho
do amor e da doação da vida. O cristão é aquele que faz de Jesus a referência
fundamental à volta da qual constrói toda a sua existência; e é aquele que
renuncia a si mesmo e que toma a mesma cruz de Jesus.
• O que é “renunciar
a si mesmo”? É não deixar que o egoísmo, o orgulho, o comodismo, a
auto-suficiência dominem a vida. O seguidor de Jesus não vive fechado no seu
cantinho, olhando para si mesmo,
indiferente aos dramas que se passam à sua volta, insensível às necessidades
dos irmãos, alienado das lutas e reivindicações dos outros homens; mas vive
para Deus e na solidariedade, na partilha e no serviço aos irmãos.
• O que é “tomar a
cruz”? É amar até às últimas consequências, até à morte. O seguidor de Jesus é
aquele que está disposto a dar a vida para que os seus irmãos sejam mais livres
e mais felizes. Por isso, o cristão não tem medo de lutar contra a injustiça, a
exploração, a miséria, o pecado, mesmo que isso signifique enfrentar a morte, a
tortura, as represálias dos poderosos.
Como qualquer ser humano,
Pedro é uma mistura muito complexa de sombra e de luz. À questão de Jesus “para vós, quem sou Eu?”, ele responde:
“Tu és o Messias”. Mateus diz que é por uma revelação do Pai que Pedro pôde
reconhecer que Jesus era o Messias. Daí a necessidade que Pedro estivesse
aberto e acolhedor, na escuta do Pai! É o lado-luz do apóstolo… E logo depois,
quando Jesus anuncia a sua paixão e morte, Pedro muda. Aos seus olhos, é o
Mestre que se engana. Pedro aqui não escuta o Pai, fecha-se. É o lado-sombra de
Pedro… Pedro ficará sempre o mesmo. Conhecemos bem as suas declarações de
fidelidade incondicional, seguidas, alguns horas depois, pela sua tríplice
negação. Ele terá a mesma atitude após o Pentecostes. Em Antioquia, segundo os
Atos dos Apóstolos, ele não hesitava em comer com os pagãos convertidos a
Jesus, o que um bom judeu não podia aceitar. Eis que pessoas que andavam com
Tiago chegam. Pedro tem medo: vão contestá-lo. Então, retira-se. Através de
Pedro, vemos como Deus age. Jesus escolheu Pedro para que fosse o primeiro
servidor da unidade dos discípulos. Ele teve nele uma confiança ainda maior
após a sua negação. Jesus não muda! Ele continua a escolher e a enviar
discípulos para que sejam, ao serviço da unidade da comunidade, pastores que
prolongam a ação do único Pastor. Mas estes homens guardam o seu lado-luz e o
seu lado-sombra. S. Paulo dirá que Deus confia o seu tesouro a vasos de argila,
“para que a vossa fé repouse, não na sabedoria dos homens, mas no poder de
Deus”. Apesar dos limites e dos defeitos dos pastores, o Espírito Santo
continua fazendo crescer o Reino! Que
Ele fortaleça a nossa fé e a nossa esperança!
Meditação para a semana…
Em nome de Jesus Cristo… Nesta semana, através de alguns pequenos “atos”
(gestos de gentileza, de serviço, de perdão, de partilha, etc.), procuremos
seguir o caminho de Cristo, mas tendo consciência de faze-lo em seu nome, em nome do amor com que
nos ama. E ofereçamos-Lhe estes pequenos testemunhos na nossa oração diária.
fonte:
www.dehonianos.org