23-agosto-2015 - 21º
Domingo do Tempo Comum - Jo 6,60-69
A liturgia do 21º Domingo
do Tempo Comum nos fala de opções.
Recorda-nos que a nossa existência pode ser gasta perseguindo valores efêmeros e estéreis, ou
apostando nos nesses valores eternos que nos conduzem à vida definitiva, à
realização plena. Cada homem e cada mulher têm, dia a dia, de fazer a sua
escolha. Na primeira leitura, Josué convida as tribos de Israel reunidas em
Siquém a escolherem entre “servir o Senhor” e servir outros deuses. O Povo
escolhe claramente “servir o Senhor”, pois viu, na história recente da
libertação do Egito e da caminhada pelo deserto, como só Jahwéh pode
proporcionar ao seu Povo a vida, a liberdade, o bem estar e a paz. O Evangelho
coloca diante dos nossos olhos dois grupos de discípulos, com opções diferentes
diante da proposta de Jesus. Um dos grupos, prisioneiro da lógica do mundo, tem
como prioridade os bens materiais, o poder, a ambição e a glória; por isso,
recusa a proposta de Jesus. Outro grupo, aberto à ação de Deus e do Espírito,
está disponível para seguir Jesus no caminho do amor e do dom da vida; os
membros deste grupo sabem que só Jesus tem palavras de vida eterna. É este
último grupo que é proposto como modelo aos crentes de todos os tempos. Na segunda leitura, Paulo diz aos cristãos de Éfeso que a opção por Cristo tem
consequências também ao nível da relação familiar. Para o seguidor de Jesus, o
espaço da relação familiar tem que ser o lugar onde se manifestam os valores de
Jesus, os valores do Reino. Com a sua partilha de amor, com a sua união, com a
sua comunhão de vida, o casal cristão é chamado a ser sinal e reflexo da união
de Cristo com a sua Igreja.
Reflexão:
¨ O Evangelho deste
domingo põe claramente a questão das opções que nós, discípulos de Jesus, somos
convidados a fazer… Todos os dias somos desafiados pela lógica do mundo, no
sentido de alicerçarmos a nossa vida nos valores do poder, do êxito, da
ambição, dos bens materiais, da moda, do “politicamente correto”; e todos os
dias somos convidados por Jesus a construir a nossa existência sobre os valores
do amor, do serviço simples e humilde, da partilha com os irmãos, da
simplicidade, da coerência com os valores do Evangelho… É inútil esconder a
cabeça na areia: estes dois modelos de existência nem sempre podem coexistir e,
frequentemente, excluem-se um ao outro. Temos que fazer a nossa escolha,
sabendo que ela terá consequências no nosso estilo de vida, na forma como nos
relacionamos com os irmãos, na forma como o mundo nos vê e, naturalmente, na
satisfação da nossa fome de felicidade e de vida plena. Não podemos tentar
agradar a Deus e ao diabo e viver uma vida “morna” e sem exigências, procurando
conciliar o inconciliável. A questão é esta: estamos ou não dispostos a aderir
a Jesus e a segui-lo no caminho do amor e do dom da vida?
¨ Os “muitos
discípulos” de que fala o texto que nos é proposto não tiveram a coragem para
aceitar a proposta de Jesus. Amarrados aos seus sonhos de riqueza fácil, de
ambição, de poder e de glória, não estavam dispostos a trilhar um caminho de
doação total de si mesmos em benefício dos irmãos. Este grupo representa esses
“discípulos” de Jesus muito comprometidos com os valores do mundo, que até
podem frequentar a comunidade cristã, mas que no dia a dia vivem obcecados com o
aumento da sua conta bancária, com o êxito profissional a todo o custo, com a
pertença à elite que frequenta as festas sociais, com o aplauso da opinião
pública… Para estes, as palavras de Jesus “são palavras duras” e a sua proposta
de radicalidade é uma proposta inadmissível. Esta categoria de “discípulos” não
é tão rara como parece… Em diversos graus, todos nós sentimos, por vezes, a
tentação de atenuar a radicalidade da proposta de Jesus e de construir a nossa
vida com valores mais condizentes com uma visão “light” da existência. É
preciso estarmos continuamente numa atitude de vigilância sobre os valores que
nos norteiam, para não corrermos o risco de “virar as costas” à proposta de
Jesus.
¨ Os “Doze” ficaram
com Jesus, pois estavam convictos de que só Ele tem “palavras que comunicam a
vida definitiva”. Eles representam aqueles que não se conformam com a
banalidade de uma vida construída sobre valores efêmeros e que querem ir mais
além; representam aqueles que não estão dispostos a gastar a sua vida em
caminhos que só conduzem à insatisfação e à frustração; representam aqueles que
não estão dispostos a conduzir a sua vida ao sabor da preguiça, do comodismo,
da instalação; representam aqueles que aderem sinceramente a Jesus, se
comprometem com o seu projeto, acolhem no coração a vida que Jesus lhes oferece
e se esforçam por viver em coerência com a opção por Jesus que fizeram no dia
do seu Batismo. Atenção: esta opção pelo seguimento de Jesus precisa ser
constantemente renovada e constantemente vigiada, a fim de que o nível da
coerência e da exigência se mantenha.
¨ Na cena que o
Evangelho de hoje nos traz, Jesus não parece estar tão preocupado com o número
de discípulos que continuarão a segui-lo, quanto com o manter a verdade e a
coerência do seu projeto. Ele não faz renúncias fáceis para ter êxito e para captar a
benevolência e os aplausos das multidões, pois o Reino de Deus não é um
concurso de popularidade… Não adianta escamotear a verdade: o Evangelho que
Jesus veio propor conduz à vida plena, mas por um caminho que é de radicalidade
e de exigência. Muitas vezes tentamos “suavizar” as exigências do Evangelho, a
fim de que ele seja mais facilmente aceito pelos homens do nosso tempo… Temos que
ter cuidado para não desvirtuarmos a proposta de Jesus e para não despojarmos o
Evangelho daquilo que ele tem de verdadeiramente transformador. O que deve
preocupar-nos não é tanto o número de pessoas que vão à Igreja; mas é,
sobretudo, o grau de radicalidade com que vivemos e testemunhamos no mundo a
proposta de Jesus.
¨ Um dos elementos
que aparece nitidamente no texto é a serenidade com que Jesus encara o “não” de
alguns discípulos ao projeto que Ele veio propor. Diante desse “não”, Jesus não
força as coisas, não protesta, não ameaça, mas respeita absolutamente a
liberdade de escolha dos seus discípulos. Jesus mostra, neste episódio, o
respeito de Deus pelas decisões (mesmo erradas) do homem, pelas dificuldades
que o homem sente em comprometer-se, pelos caminhos diferentes que o homem
escolhe seguir. O nosso Deus é um Deus que respeita o homem, que o trata como
adulto, que aceita que ele exerça o seu direito à liberdade. Por outro lado, um
Deus tão compreensivo e tolerante nos convida a dar mostras de misericórdia, de
respeito e de compreensão para com os irmãos que seguem caminhos diferentes,
que fazem opções diferentes, que conduzem a sua vida de acordo com valores e
critérios diferentes dos nossos. Essa “divergência” de perspectivas e de
caminhos não pode, em nenhuma circunstância, afastar-nos do irmão ou servir de
pretexto para o marginalizarmos e para o excluirmos do nosso convívio.
Meditação para a semana…
Qual é a minha fé?
Cada um de nós pode
interrogar-se: posso sinceramente proclamar a minha fé ?
Terei, nos próximos dias,
a força de a testemunhar junto de uma pessoa que duvida, que procura, ou que
contesta a fé cristã?
Quais são os meios que
tenho para alimentar a minha fé?
fonte:
www.dehonianos.org
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