02-agosto-2015 -18º Domingo do Tempo
Comum - Jo 6,24-35
A
liturgia do 18º Domingo do Tempo Comum repete, no essencial, a mensagem das
leituras do passado domingo. Nos assegura que Deus está empenhado em oferecer
ao seu Povo o alimento que dá a vida eterna e definitiva. A primeira leitura nos
dá conta da preocupação de Deus em oferecer ao seu Povo, com solicitude e amor,
o alimento que dá vida. A ação de Deus não vai, apenas, no sentido de
satisfazer a fome física do seu Povo; mas pretende também (e principalmente)
ajudar o Povo a crescer, a amadurecer, a superar mentalidades estreitas e
egoístas, a sair do seu fechamento e a tomar consciência de outros valores. No
Evangelho, Jesus se apresenta como o “pão” da vida que desceu do céu para dar
vida ao mundo. Aos que O seguem, Jesus pede que aceitem esse “pão” – isto é,
que escutem as palavras que Ele diz, que as acolham no seu coração, que aceitem
os seus valores, e passem a aderir a sua proposta. A segunda leitura nos diz
que a adesão a Jesus implica o deixar de ser homem velho e o passar a ser homem
novo. Aquele que aceita Jesus como o “pão” que dá vida e adere a Ele, passa a
ser uma outra pessoa. O encontro com Cristo deve significar, para qualquer
homem, uma mudança radical, um jeito completamente diferente de se situar face
a Deus, face aos irmãos, face a si próprio e face ao mundo.
Reflexão:
• O caminho que
percorremos nesta terra é sempre um caminho marcado pela procura da nossa
realização, da nossa felicidade, da vida plena e verdadeira. Temos fome de
vida, de amor, de felicidade, de justiça, de paz, de esperança, de
transcendência e procuramos, de mil formas, saciar essa fome; mas continuamos
sempre insatisfeitos, tropeçando na nossa finitude, em respostas parciais, em
tentativas frustradas de realização, em esquemas equívocados, em falsas
miragens de felicidade e de realização, em valores efêmeros, em propostas que
parecem sedutoras mas que só geram escravidão e dependência… Na verdade, o
dinheiro, o poder, a realização profissional, o êxito, o reconhecimento social,
os prazeres, os amigos são valores efêmeros que não chegam para “encher”
totalmente a nossa vida e para lhe dar um sentido pleno.
-Como podemos “encher” a
nossa vida e dar-lhe pleno significado?
-Onde encontrar o “pão”
que mata a nossa fome de vida?
• Jesus de Nazaré é o
“pão de Deus que desce do céu para dar a vida ao mundo”. É esta a questão
central que o Evangelho deste domingo nos propõe. É em Jesus e através de Jesus
que Deus sacia a fome e a sede dos homens e lhes oferece a vida em plenitude.
Isto leva-nos às seguintes questões:
que lugar é que Jesus
ocupa na nossa vida?
Ele é, verdadeiramente, a
coordenada fundamental à volta da qual construímos a nossa existência?
Para nós, Jesus é uma
figura do passado (embora tenha sido um homem excepcional) que a história absorveu
e digeriu, ou é o Deus que continua vivo e caminha ao nosso lado, oferecendo-nos vida em
plenitude?
Ele é “mais uma” das nossas referências (ao
lado de tantas outras) ou a nossa referência fundamental?
Ele é alguém a quem adoramos, com respeito e à
distância, ou o irmão que nos indica o caminho, que nos propõe valores, que
condiciona a nossa atitude face a Deus, face aos irmãos e face ao mundo?
• O que é preciso
fazer para ter acesso a esse “pão de Deus que desce do céu para dar a vida ao
mundo”? De acordo com o Evangelho deste domingo, a resposta é clara: é preciso
aderir (“acreditar”) a Jesus, o “pão” que o Pai enviou ao mundo para saciar a
fome dos homens. Aderir a Jesus é escutar o seu chamamento, acolher a sua
Palavra, assumir e interiorizar os seus valores, segui-lo no caminho do amor,
da partilha, do serviço, da entrega da vida a Deus e aos irmãos. Trata-se de
uma adesão que deve ser consequente e traduzir-se em obras concretas. Não bastam
declarações de boas intenções, ou atos institucionais que nos fazem constar dos
livros de registro da nossa paróquia; aderir a Jesus é assumir o seu estilo de
vida e fazer da própria vida um dom de amor, até à morte.
• No Evangelho deste
domingo, Jesus mostra-Se profundamente incomodado quando constata que a
multidão o procura pelas razões erradas e, sem preâmbulos, se apressa em
desfazer os equívocos. Ele não quer, de forma nenhuma, que as pessoas O sigam
por engano, ou iludidas. Há, aqui, um convite implícito a repensarmos as razões
porque nos envolvemos com Cristo… É um equívoco procurar o Batismo porque é uma
tradição da nossa cultura; é um equívoco celebrar o matrimônio na Igreja
porque, assim, a cerimônia é mais espetacular e proporciona fotografias mais
bonitas; é um equívoco assumir tarefas na comunidade cristã para nos
auto-promovermos ou para resolvermos os nossos problemas materiais; é um
equívoco receber o sacramento da Ordem porque o sacerdócio nos proporciona uma
vida cômoda e tranquila; é um equívoco praticarmos certos atos de piedade para
que Jesus nos recompense, nos livre de desgraças, nos pague resolvendo algumas
das nossas necessidades materiais… A nossa adesão a Jesus deve partir de uma
profunda convicção de que só Ele é o “pão” que nos dá vida.
• A recusa de Jesus
em realizar gestos espetaculares (como fazer o maná cair do céu), mostra que,
normalmente, Deus não vem ao encontro do homem para lhe oferecer a sua vida em
gestos portentosos, que deixam toda a gente espantada e que testemunham, de
forma inequívoca, a sua presença no mundo; mas Deus atua na vida do homem de
forma discreta, embora duradoura e permanente. Deus vem, todos os dias, ao
encontro do homem e, sem forçar nem se impor, convida-o a escutar a Palavra de
Jesus, propõe-lhe a adesão a Jesus e ao seu projeto, ensina-lhe os caminhos do
amor, da partilha, do serviço. Convém que nos familiarizemos com os métodos de
Deus, para o conseguirmos perceber e encontrar, no caminho da nossa vida.
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