HOMILIA 30-AGOSTO-2015
Padre Marcos Daniel de moraes Ramalho
30-agosto-2015 - 22º
Domingo do Tempo Comum
A liturgia do 22º Domingo
do Tempo Comum nos propõe uma reflexão sobre a “Lei”. Deus quer a realização e
a vida plena para o homem e, nesse sentido, propõe-lhe a sua “Lei”. A “Lei” de
Deus indica ao homem o caminho a seguir. Contudo, esse caminho não se esgota
num mero cumprimento de ritos ou de práticas vazias de significado, mas num
processo de conversão que leve o homem a comprometer-se cada vez mais com o
amor a Deus e aos irmãos. A primeira
leitura nos garante que as “leis” e
preceitos de Deus são um caminho seguro para a felicidade e para a vida em
plenitude. Por isso, o autor dessa catequese recomenda insistentemente ao seu
Povo que acolha a Palavra de Deus e se deixe guiar por ela. No Evangelho, Jesus denuncia a atitude
daqueles que fizeram do cumprimento externo e superficial da “lei” um valor
absoluto, esquecendo que a “lei” é apenas um caminho para chegar a um
compromisso efetivo com o projeto de Deus. Na perspectiva de Jesus, a
verdadeira religião não se centra no cumprimento formal das “leis”, mas num
processo de conversão que leve o homem à comunhão com Deus e a viver numa real
partilha de amor com os irmãos. A segunda leitura nos convida a escutar e acolher a Palavra de Deus; mas avisa que essa
Palavra ouvida e acolhida no coração tem que tornar-se um compromisso de amor,
de partilha, de solidariedade com o mundo e com os homens.
Reflexão:
¨ O que é que é
decisivo na experiência religiosa? Será o estrito cumprimento das leis
definidas pela Igreja? Serão as manifestações exteriores de religiosidade que
definem quem é bom ou mau, santo ou pecador, amigo ou inimigo de Deus?
¨ As “leis” têm o seu
lugar numa experiência religiosa, enquanto sinais indicadores de um caminho a
percorrer. No entanto, é preciso que tenhamos o discernimento suficiente para
dar à “lei” um valor justo, vendo-a apenas como um meio para ir além no
compromisso com Deus e com os irmãos. A finalidade da nossa experiência
religiosa não é cumprir leis, mas aprofundar a nossa comunhão com Deus e com os
outros homens sendo, eventualmente, ajudados nesse processo por “leis” que nos
indicam o caminho a seguir.
¨ Se fizermos das
leis algo absoluto, elas podem tornar-se
para nós um fim e não um caminho. Nesse caso, as “leis” serão, em última
análise, uma forma de acalmar a nossa consciência, de nos julgarmos em paz com
Deus, de sentirmos que Deus nos deve algo porque nós cumprimos todas as regras
estabelecidas. Tornamo-nos orgulhosos e auto-suficientes, pois sentimos que
somos nós que, com o nosso esforço em seguir a regra, conquistamos a nossa
salvação. Deixamos de precisar de Deus, ou só precisamos dele para apreciar o
nosso esforço e para nos dar aquilo que julgamos ser uma “justa recompensa”. O
culto que prestamos a Deus pode tornar-se, nesse caso, um processo interesseiro
de compra e venda de favores e não uma manifestação do amor que nos enche o
coração. A nossa religião será, nesse caso, uma mentira, uma negociata, que
Deus não aprecia nem pode assegurar.
¨ De acordo com os
ensinamentos de Jesus, não é muito religioso ou muito cristão quem aceita todas
as “leis” propostas pela Igreja, ou quem cumpre escrupulosamente todos os
ritos; mas é cristão verdadeiro aquele que, no seu coração, aderiu a Jesus e
procura segui-lo no caminho do amor e da entrega, que aceita integrar a
comunidade dos discípulos, que acolhe com gratidão os dons de Deus, que celebra
a fé em comunidade, que aceita fazer com os irmãos uma experiência de amor
partilhado.
¨ É isso que Jesus
quer dizer quando convida os seus discípulos a não se preocuparem com as leis e
os ritos externos, mas a preocuparem-se com o que lhes sai do coração. É no
interior do homem que se definem os sentimentos, os desejos, os pensamentos, as
opções, os valores, as ações do homem. É daí que nascem os nossos gestos
injustos, as discórdias e violências que destroem a relação, as tentativas de
humilhar os irmãos, os rancores que nos impedem de perdoar e de aceitar os
outros, as opções que nos fazem escolher caminhos errados e que nos escravizam
a nós e àqueles que caminham ao nosso lado… A verdadeira religião passa por um
processo de contínua conversão, no sentido de nos parecermos cada vez mais com
Jesus e de acolhermos a proposta de Homem Novo que Ele veio nos trazer.
¨ É preciso nos mantermos
livres e críticos em relação às “leis” que nos são propostas, sejam elas leis
civis ou religiosas... Elas servem-nos e devem ser consideradas se nos ajudarem
a sermos mais humanos, mais fraternos, mais justos, mais comprometidos, mais
coerentes, mais “família de Deus”; elas deixam de servir se geram escravidão, dependência, injustiça, opressão,
marginalização, divisão, morte. O processo de discernimento das “leis” boas e
más não pode, contudo, ser um processo solitário; mas deve ser um processo que
fazemos, com o Espírito Santo, na partilha comunitária, no confronto fraterno
com os irmãos, numa procura coerente e interessada do melhor caminho para
chegarmos à vida plena e verdadeira.
Só Deus pode ver o
coração, enquanto os homens, esses, vêem as aparências. É, pois, com toda a
confiança filial que podemos deixar Deus nos olhar. Mas isso é exigente para
nós, porque todas as nossas palavras e todos os nossos gestos devem estar em
harmonia com o que o nosso coração quer exprimir. As nossas palavras e orações
devem ser a expressão do nosso amor filial e fraternal. A lei de Deus está
inscrita no nosso coração, conhecemos a sua vontade, sabemos muito bem o que
Lhe agrada: cabe a nós pormo-nos de acordo sobre os nossos comportamentos e
sobre esta vontade de Deus. Aliás, falta-nos pedir-Lhe: “Que a tua vontade seja
feita!” Então, talvez Deus dir-nos-á: “Honras-me com os lábios, fazes a minha
vontade, mas o teu coração está longe de Mim”.
Os escribas e fariseus
tinham enchido a Lei de Moisés com tantas interpretações que acabou por sacralizá-la e torná-la intocável,
sob o nome de “tradições dos antigos”. A lei tinha se tornado, em todos os detalhes da vida
quotidiana, um fardo insuportável denunciado pelo próprio Jesus. Assim, era
contrário à tradição dos antigos comer sem ter lavado as mãos. Regra de higiene elementar,
sem dúvida, mas que tinha se intitulado
de “purificação”. Não se submeter a essa regra era tornar-se impuro aos olhos
de Deus! O que faziam precisamente alguns discípulos de Jesus. Jesus aproveita
para dar uma lição de moral… A palavra de Jesus tem todo o seu valor e vigor.
Quantas interpretações dadas em Igreja, ao longo dos séculos, que acabamos por
identificar com a Palavra de Deus! Multiplicaram-se leis, obrigações e
proibições, dizendo: “É a tradição!” Nem pensar em mudar uma vírgula das regras
litúrgicas ou morais! É, sem dúvida, uma atitude tranquilizadora, mas esconde
muitas vezes medos e inseguranças. É a mesma reação dos escribas e dos fariseus! Ora, não é
protegendo a nossa fé com uma carapaça de leis que a tornamos mais sólida, mas
por uma escuta sem cessar nova daquilo que “o Espírito diz às Igrejas”. Mas é
verdade que o Espírito Santo sempre teve tendência para mexer com os homens e
provocá-los, para fazê-los avançar para o grande largo! O Espírito de Jesus
quer construir-nos como seres vivos, com uma coluna interior e não com uma carapaça exterior, para
que possamos manter-nos de pé, como ressuscitados!
Meditação para a semana .
. .
Ter um objetivo…
Não fiquemos apenas nas boas intenções…
Não tenhamos muitas
ambições… Cristo não nos pede grandes façanhas, Ele prefere a sinceridade do
coração e a vontade de servir o nosso próximo.
Vale mais ter um objetivo
razoável (visitar determinada pessoa que está só, ajudar outra nas suas
preocupações materiais) e tudo fazer para atingir esse irmão criado por Deus à sua
imagem e semelhança.
fonte:
www.dehonianos.org