26-julho-2015 - Tema do 17º Domingo do
Tempo Comum Jo 6,1-5
A liturgia do 17º domingo
Comum nos dá conta da preocupação de Deus em saciar a “fome” de vida dos
homens. De forma especial, as leituras deste domingo nos dizem que Deus conta
conosco para repartir o seu “pão” com todos aqueles que têm “fome” de amor, de
liberdade, de justiça, de paz, de esperança.
Na primeira leitura, o profeta Eliseu, ao partilhar o pão que lhe foi
oferecido com as pessoas que o rodeiam, testemunha a vontade de Deus em saciar
a “fome” do mundo; e sugere que Deus vem ao encontro dos necessitados através
dos gestos de partilha e de generosidade para com os irmãos que os “profetas”
são convidados a realizar. O Evangelho
repete o mesmo tema. Jesus, o Deus que veio ao encontro dos homens, dá conta da
“fome” da multidão que O segue e se propõe a libertá-la da sua situação de miséria e
necessidade. Aos discípulos (aqueles que vão continuar até ao fim dos tempos a
mesma missão que o Pai lhe confiou), Jesus convida a despirem a lógica do
egoísmo e a assumirem uma lógica de partilha, concretizada no serviço simples e
humilde em benefício dos irmãos. É esta lógica que permite passar da escravidão
à liberdade; é esta lógica que fará nascer um mundo novo. Na segunda leitura,
Paulo lembra aos crentes algumas exigências da vida cristã. Recomenda-lhes,
especialmente, a humildade, a mansidão e a paciência: são atitudes que não combinam
com esquemas de egoísmo, de orgulho, de auto-suficiência, de preconceito em
relação aos irmãos.
Reflexão:
• Jesus é o Deus que
Se revestiu da nossa humanidade e veio ao nosso encontro para nos revelar o seu
amor. O seu projeto – projeto que Ele concretizou em cada palavra e em cada
gesto enquanto percorreu, com os seus discípulos, as vilas e aldeias da
Palestina – consiste em libertar os homens de tudo aquilo que os oprime e lhes
rouba a vida. O texto mostra Jesus
atento às necessidades da multidão, empenhado em saciar a fome de vida dos
homens, preocupado em apontar-lhes o caminho que conduz da escravidão à
liberdade. A atitude de Jesus é, para nós, uma expressão clara do amor e da
bondade de um Deus sempre atento às necessidades do seu Povo. Garante que, ao
longo do caminho da vida, Deus vai ao nosso lado, atento aos nossos dramas e
misérias, empenhado em satisfazer as nossas necessidades, preocupado em dar-nos
o “pão” que sacia a nossa fome de vida. A nós, compete abrir o coração ao seu
amor e acolher as propostas libertadoras que Ele nos faz.
• A “fome” de pão que
a multidão sente e que Jesus quer saciar é um símbolo da fome de vida que faz
sofrer tantos dos nossos irmãos… Os que têm “fome” são aqueles que são
explorados e injustiçados e que não conseguem libertar-se; são os que vivem na
solidão, sem família, sem amigos e sem amor; são os que têm que deixar a sua
terra e enfrentar uma cultura, uma língua, um ambiente estranho para poderem
oferecer condições de subsistência à sua família; são os marginalizados,
abandonados, segregados por causa da cor da sua pele, por causa do seu estatuto
social ou econômico, ou por não terem acesso à educação e aos bens culturais de
que a maioria desfruta; são as crianças vítimas da violência e da exploração;
são as vítimas da economia global, cuja vida dança ao sabor dos interesses das
multinacionais; são as vítimas do imperialismo e dos interesses dos grandes do
mundo… É a esses e a todos os outros que têm “fome” de vida e de felicidade,
que a proposta de Jesus se dirige.
• No Evangelho, Jesus dirige-se aos seus discípulos
e diz-lhes: “dai-lhes vós mesmos de comer”. Os discípulos de Jesus são
convidados a continuar a missão de Jesus e a distribuírem o “pão” que mata a
fome de vida, de justiça, de liberdade, de esperança, de felicidade de que os
homens sofrem. Depois disto, nenhum discípulo de Jesus pode olhar
tranquilamente os seus irmãos com “fome” e dizer que não tem nada com isso… Os
discípulos de Jesus são convidados a se responsabilizarem pela “fome” dos
homens e a fazerem tudo o que está ao seu alcance para devolver a vida e a
esperança a todos aqueles que vivem na miséria, no sofrimento, no desespero.
• No Evangelho, os discípulos constatam que,
recorrendo ao sistema econômico vigente, é impossível responder à “fome” dos
necessitados. O sistema capitalista vigente – que, quando muito, distribui a
conta gotas migalhas da riqueza para adormecer a revolta dos explorados – será
sempre um sistema que se apóia na lógica egoísta do lucro e que só cria mais
opressão, mais dependência, mais necessidade. Não chega criar melhores
programas de assistência social ou programas de rendimento mínimo garantido, ou
outros sistemas que apenas perpetuam a injustiça… Os discípulos de Jesus têm que
encontrar outros caminhos e de propor ao mundo que adote outros valores. Quais?
• Jesus propõe algo
de realmente novo: propõe uma lógica de partilha. Os discípulos de Jesus são
convidados a reconhecer que os bens são um dom de Deus para todos os homens e
que pertencem a todos; são convidados a quebrar a lógica do ajuntamento egoísta
dos bens e a pôr os dons de Deus ao serviço de todos. Como resultado, não se
obtém apenas a saciedade dos que têm fome, mas um novo relacionamento fraterno
entre quem dá e quem recebe, feito de reconhecimento e harmonia que enriquece
ambos e é o pressuposto de uma nova ordem, de um novo relacionamento entre os
homens. É esta a proposta de Deus; e é disto que os discípulos são chamados a
dar testemunho.
• Os discípulos de
Jesus não podem, contudo, dirigir-se aos irmãos necessitados olhando-os “do
alto”, instalados nos seus esquemas de poder e autoridade, usando a caridade
como instrumento de apoio aos seus projetos pessoais, ou exigindo algo em
troca… Os discípulos de Jesus devem ser um grupo humilde (a “criança” do
Evangelho), sem pretensão alguma de poder e de domínio, e que apenas está
preocupado em servir os irmãos com “fome”.
• O que resulta da
proposta de Jesus é uma humanidade totalmente livre da escravidão dos bens. Os
necessitados tornam-se livres porque têm o necessário para viverem uma vida
digna e humana; os que repartem os bens libertam-se da lógica egoísta dos bens
e da escravidão do dinheiro e descobrem a liberdade do amor e do serviço.
• No final, os
discípulos são convidados a recolher os restos, que devem servir para outras
“multiplicações”. A tarefa dos discípulos de Jesus é uma tarefa nunca acabada,
que deverá recomeçar em qualquer tempo e em qualquer lugar onde haja um irmão
“com fome”.
Jesus não fecha os olhos
diante dos homens: não somente vê a multidão, como se percebe sua fome. Antes
de fazer o milagre, solicita a confiança dos seus apóstolos, esta confiança que
Ele põe à prova. Então faz dois gestos: vira-se para Deus seu Pai, dando
graças, e distribui o alimento. Que contraste gritante entre esta multidão que
tem fome e o alimento que lhe vai ser oferecido, cinco pães e dois peixes. E quanta abundância! Não somente a multidão está
saciada, mas sobram doze cestos. É a prodigalidade do Amor: Deus ama
infinitamente, e este sinal operado por Jesus anuncia não o poder de um rei,
mas o dom de Deus a todos os homens. Este sinal anuncia um outro sinal. Depois
de ter comido, a multidão, no dia seguinte, terá ainda fome. Mas o alimento que
Cristo ressuscitado oferecerá aos homens será a sua vida, e aqueles que comerem
este Pão de Vida jamais terão fome.
Jesus não cria pães e
peixes a partir de nada. Cria a partir dos cinco pães e dois peixes do rapazinho.
A partir do pão dos pobres! Ao multiplicar os pães e os peixes, Jesus
multiplica o dom do rapaz. Mas é ridículo alimentar uma multidão de cinco mil
homens com tão pequena quantidade. Mas uma pequena quantidade pode ter um valor
infinito. Jesus não olha como nós. O nosso olhar deve ser como o de Jesus.
Quando damos amor, amizade, um pouco do nosso tempo ou simplesmente um sorriso,
quando procuramos respeitar o outro, sem o julgar, quando fazemos um caminho de
perdão… Jesus se serve desse pequeno pouco para construir conosco,
pacientemente, dia após dia, o seu Reino.
Meditação para a semana...
Procuremos afastar-nos um pouco da vida frenética e stressante, procuremos ser
menos inquietos e mais confiantes… Confiar mais no Senhor, dispor-se para
responder às diversas missões e confiar tudo isso ao Senhor, para que Ele
multiplique…
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