A
liturgia do 15º Domingo do Tempo Comum nos recorda que Deus atua no mundo
através dos homens e mulheres que Ele chama e envia como testemunhas do seu
projeto de salvação. Esses “enviados” devem ter como grande prioridade a
fidelidade ao projeto de Deus e não a defesa dos seus próprios interesses ou
privilégios. A primeira leitura nos apresenta o exemplo do profeta Amós. Escolhido, chamado
e enviado por Deus, o profeta vive para propor aos homens – com verdade e
coerência – os projetos e os sonhos de Deus para o mundo. Atuando com total
liberdade, o profeta não se deixa manipular pelos poderosos nem amordaçar pelos
seus próprios interesses pessoais. A segunda leitura nos garante que Deus tem um projeto de vida plena, verdadeira
e total para cada homem e para cada mulher – um projeto que desde sempre esteve
na mente do próprio Deus. Esse projeto, apresentado aos homens através de Jesus
Cristo, exige de cada um de nós uma resposta decidida, total e sem
subterfúgios. No Evangelho, Jesus envia os discípulos em missão. Essa missão – que está no
prolongamento da própria missão de Jesus – consiste em anunciar o Reino e em
lutar objetivamente contra tudo aquilo que escraviza o homem e que o impede de
ser feliz. Antes da partida dos discípulos, Jesus lhes dá algumas instruções
acerca da forma de realizar a missão… Convida-os especialmente à pobreza, à
simplicidade, ao despojamento dos bens materiais.
Reflexão:
• Como é que Deus
age, hoje, no mundo? A resposta que o Evangelho deste domingo dá é: através
desses discípulos que aceitaram responder positivamente ao chamamento de Jesus
e embarcaram na aventura do “Reino”. Eles continuam hoje no mundo a obra de
Jesus e anunciam – com palavras e com gestos – esse mundo novo de felicidade
sem fim que Deus quer oferecer aos homens.
• Atenção: Jesus não
chama apenas um grupo de “especialistas” para segui-lo e para dar testemunho do
“Reino”. Os “doze” representam a totalidade do Povo de Deus. É a totalidade do
Povo de Deus (os “doze”) que é enviada, a fim de continuar a obra de Jesus no
meio dos homens e anunciar-lhes o “Reino”. Tenho consciência de que isto me diz
respeito e que eu pertenço à comunidade que Jesus envia em missão?
• Qual é a missão dos
discípulos de Jesus? É lutar objetivamente contra tudo aquilo que escraviza o
homem e que o impede de ser feliz. Hoje há estruturas que geram guerra,
violência, terror, morte: a missão dos discípulos de Jesus é contestá-las e
desmontá-las; hoje há “valores” (apresentados como o “último grito” da moda, do
avanço cultural ou científico) que geram escravidão, opressão, sofrimento: a
missão dos discípulos de Jesus é recusá-los e denunciá-los; hoje há esquemas de
exploração (disfarçados de sistemas econômicos geradores de bem estar) que
geram miséria, marginalização, debilidade, exclusão: a missão dos discípulos de
Jesus é combatê-los. A proposta libertadora de Jesus tem que estar presente
(através dos discípulos) em qualquer lado onde houver um irmão vítima da
escravidão e da injustiça. É isso que eu procuro fazer?
• As advertências de
Jesus para que os discípulos se apresentem sempre numa atitude de sobriedade e
de despojamento significam, em primeiro lugar, que o discípulo nunca deve fazer
dos bens materiais a sua prioridade fundamental. Se o discípulo estiver
obcecado pelo “ter”, tornar-se-á escravo dos bens, acomodar-se-á e não terá
espaço nem disponibilidade para se lançar na aventura do anúncio do Reino. Por
outro lado, o discípulo que elege os bens materiais como a prioridade da sua
vida sentirá sempre a tentação de se calar, de não incomodar os poderosos, a
fim de preservar os seus interesses econômicos e os seus benefícios
particulares.
• As advertências de
Jesus para que os discípulos se apresentem sempre numa atitude de sobriedade e
de despojamento significam também o desapego das idéias e preconceitos, dos
hábitos e costumes, das paixões e afetos que podem constituir um obstáculo para
a missão de anunciar o Reino.
• As palavras de
Jesus recomendam ainda aos discípulos que atuam por um tempo prolongado num
determinado lugar, a moderação e o agradecimento para com aqueles que os
acolhem. Quem é recebido numa casa ou num lugar como hóspede, deve converter-se
numa bênção para essa casa e comportar-se com sobriedade, equilíbrio e
maturidade.
• Com frequência os
discípulos de Jesus têm que lidar com a oposição e a recusa da proposta que
eles testemunham. É um fato que deve ser visto com normalidade e compreensão.
No entanto, quando isto suceder, é missão dos discípulos alertar os implicados
para a gravidade da recusa. Quem recusa as propostas de Deus, deve estar
plenamente consciente de que está perdendo
oportunidades únicas e se afastando da sua realização plena, da vida
verdadeira.
Testemunho do “nós”… Jesus
envia os discípulos dois a dois. Ele sabe que a sua missão será difícil de
cumprir. Mesmo Ele, Jesus, esteve em companhia de uma equipe. O testemunho é
sempre um “nós” para nunca se falar em nome próprio mas, com outros, em nome
daquele que envia. Algumas recomendações a estes peregrinos da Boa Nova: contar
apenas com Deus; pôr-se a caminho para se fazer peregrino; aceitar a
hospitalidade para se apresentar como um pobre; não forçar as portas para
respeitar a liberdade. Quanto à mensagem a proclamar, é a mensagem do Mestre:
“convertei-vos!” E quanto aos atos, são os mesmos de Jesus: expulsar os demônios
e curar os doentes. Decididamente, o servo não é maior do que o seu mestre, e o
enviado faz sempre referência àquele que o envia. Hoje, o “nós” é o da Igreja.
Oxalá ela possa contar apenas com Deus, fazer-se peregrina, apresentar-se
pobre, respeitar a liberdade dos homens…
Testemunhas do amor de
Deus… “Jesus chamou os doze Apóstolos e começou a enviá-los dois a dois.
Deu-lhes poder sobre os espíritos impuros”. O apelo dos Apóstolos está ligado
ao seu envio, à sua missão. Serem os companheiros de Jesus, não para ficarem
abrigados perto d’Ele, mas para serem enviados como suas testemunhas até aos
confins da terra. Ele os envia dois a dois. Sem dúvida, porque na altura um
testemunho só era reconhecido como autêntico se levado por duas testemunhas.
Mas, mais profundamente, Jesus veio para colocar os homens no “circulo do
amor”. Deus criou os homens para serem à sua imagem. Como “Deus é Amor”, os
homens serão imagens de Deus na medida em que construírem juntos relações de
amor fraterno. Ora, eles recusaram isso. O espírito do mal é chamado de diabo,
aquele que divide em vez de unir. Jesus veio para acabar com a divisão. Ele é
aquele que reconcilia os homens com Deus e entre si. Eis porque Jesus envia os
Apóstolos dois a dois: para que sejam primeiramente, pelo seu comportamento e
pela sua vida, testemunhas desta obra de reconciliação. A salvação nunca é
individual, é colocada na relação dos homens entre si, no movimento de amor de
Deus. A missão dos Apóstolos é, pois, de lutar contra o mal que divide e
corrompe. Então, compreendemos melhor porque Jesus dá conselhos de pobreza.
Encher-se de riquezas materiais é arriscar cair na armadilha da possessão
egoísta, é entrar no círculo infernal da vontade de poder, da inveja. É
centrar-se sobre si mesmo em lugar de dar lugar aos outros. É obscurecer o seu olhar
interior e não ser mais suficientemente disponível para acolher o outro. É
sempre válido para todos os batizados cuja missão é serem testemunhas da Boa
Nova no coração do mundo!
Meditação para a semana. .
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Bendizer no quotidiano… Em cada dia desta semana, dirigir ao Senhor uma curta
oração de bênção: para a felicidade partilhada nesse dia, para um encontro
enriquecedor, para uma refeição partilhada e cheia de amizade, para a beleza da
Criação, para um nascimento ou a alegria das crianças, etc.
fonte:
www.dehonianos.org.br
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