Festa da assunção de Nossa Senhora
A solenidade da assunção de Nossa Senhora, celebrada em 15
de agosto, é uma das principais festas marianas da Igreja. No Brasil, 15 de
agosto não é mais dia santo de guarda. Por determinação da CNBB (Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil) e autorização da Santa Sé, a solenidade é
celebrada no domingo depois do dia 15 de agosto, caso o dia 15 não caia em
domingo.
No final de sua vida, no que a tradição chama de
“dormição” de Nossa Senhora, contemplamos o dogma que é celebrado neste final
de semana: a Assunção de Maria. Ela foi levada ao céu após a sua peregrinação
terrestre, onde levou a vida acolhendo a vontade do Pai, dizendo “sim” a Deus,
mas também entre cuidados, angústias e sofrimentos. Por isso, segundo a
profecia do santo velho Simeão, uma espada de dor lhe traspassou o coração,
junto da cruz do seu divino Filho e nosso Redentor. Com a Assunção, se crê que
o seu sagrado corpo não sofreu a corrupção do sepulcro, nem foi reduzido à
cinzas aquele tabernáculo do Verbo Divino. Pelo contrário, os fiéis iluminados
pela graça e abrasados de amor para com aquela que é Mãe de Deus e nossa Mãe
dulcíssima, compreenderam, cada vez com maior clareza, a maravilhosa harmonia
existente entre os privilégios concedidos por Deus àquela que o mesmo Deus quis
associar ao nosso Redentor. Esses privilégios elevaram-na a uma altura tão
grande que não foi atingida por nenhum ser criado, excetuada somente a natureza
humana de Cristo. São João Damasceno, que entre todos se distingue como
pregoeiro dessa grande tradição – que por motivações pastorais no Brasil é
transferida para o primeiro domingo após o dia 15 de agosto –, ao comparar a
assunção gloriosa da Mãe de Deus com as suas outras prerrogativas e
privilégios, exclama com veemente eloquência: "Convinha que aquela que no
parto manteve ilibada virgindade, conservasse o corpo incorrupto mesmo depois
da morte. Convinha que aquela que trouxe no seio o Criador encarnado, habitasse
entre os divinos tabernáculos. Convinha que morasse no tálamo celestial aquela
que o Eterno Pai desposara. Convinha que aquela que viu o seu Filho na cruz,
com o coração traspassado por uma espada de dor, de que tinha sido imune no
parto, contemplasse assentada à direita do Pai. Convinha que a Mãe de Deus
possuísse o que era do Filho, e que fosse venerada por todas as criaturas como
Mãe e Serva do mesmo Deus".O Catecismo da Igreja Católica explica que "a
Assunção da Santíssima Virgem constitui uma participação singular na
Ressurreição do seu Filho, e uma antecipação da Ressurreição dos demais
cristãos" (966).A Assunção de Maria ocorre imediatamente depois de
terminar a sua vida mortal e não pode ser situada no fim dos tempos, como
sucederá com todos os homens, mas tem de considerar-se como um evento que já
ocorreu. Ensina que a Virgem, ao terminar a sua vida nesse mundo, foi elevada
ao céu em corpo e alma, com todas as qualidades e dons próprios da alma dos
bem-aventurados, e com todas as qualidades e dotes próprios dos corpos
gloriosos. Trata-se, pois, da glorificação de Maria, na sua alma e no seu
corpo, quer a incorruptibilidade e a imortalidade lhe tenham sido concedidas
sem morte prévia, quer depois da morte, mediante a ressurreição. O dogma da Assunção nos dá uma certeza: Maria Santíssima
já alcançou a realização final. Tornou-se, assim, um sinal para a Igreja que,
olhando para ela, crê com renovada convicção nos cumprimentos das promessas de
Deus. Também nós somos chamados a estar, um dia, com a Santíssima Trindade.
Olhando para o que Deus já realizou em Maria, os cristãos animam-se a lutar
contra o pecado e a construir um mundo justo e solidário para participar, um
dia, do Reino definitivo.Uma mulher já participa da glória que está reservada à humanidade. Nasce, para
nós, um desafio: lutar em favor das mulheres que, humilhadas, não têm podido
deixar transparecer sua grande vocação. Em Maria, a dignidade da mulher é
reconhecida pelo Criador. Quanto nosso mundo precisa caminhar e progredir para
chegar a esse mesmo reconhecimento! A Solenidade da Assunção de Nossa Senhora demonstra a delicadeza de Deus em
preservar a Virgem Santíssima da corrupção do pecado original – seu corpo é
elevado ao céu! Daí vem a dignidade do corpo humano, da vida humana. É para o
cristão também um olhar para o seu destino final. Neste tempo de tantas mudanças é importante que nos
elevemos com Maria. Infelizmente, uma lei aprovada procurando coibir com toda a
justiça a violência contra a mulher trouxe consigo outra grande violência:
contra a vida. Nesse sentido, ao olhar para a Assunção de Maria nós pedimos a
Deus que nos faça testemunhas do Ressuscitado em meio a tantos e complexos
problemas que aparecem a cada momento. Urge nunca perder de vista a direção e
fazer de tudo para que hoje, escutando a voz do Senhor, caminhemos procurando
fazer Sua vontade.
Dom Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)
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