A liturgia do 18º Domingo
do Tempo Comum apresenta-nos o convite que Deus nos faz para nos sentarmos à
mesa que Ele próprio preparou, e onde nos oferece gratuitamente o alimento que
sacia a nossa fome de vida, de felicidade, de eternidade. Na primeira leitura,
Deus convida o seu Povo a deixar a terra da escravidão e a dirigir-se ao
encontro da terra da liberdade – a nova Jerusalém, nova da justiça, do amor e
da paz. Aí, Deus saciará definitivamente a fome do seu Povo e oferecerá
gratuitamente a vida em abundância, a felicidade sem fim. O Evangelho nos apresenta Jesus, o novo Moisés, cuja missão é realizar a
libertação do seu Povo. No contexto de uma refeição, Jesus mostra aos seus
discípulos que é preciso acolher o pão que Deus oferece e reparti-lo com todos
os homens. É dessa forma que os membros da comunidade do Reino fugirão da
escravidão do egoísmo e alcançarão a liberdade do amor. A segunda leitura é um hino ao amor de Deus
pelos homens. É esse amor – do qual nenhum poder hostil pode nos afastar – que explica porque é que
Deus enviou ao mundo o seu próprio Filho, a fim de nos convidar para o banquete
da vida eterna.
Reflexão:
• A proposta contida nas leituras, nos revela o “coração” de Deus: o seu amor,
o seu cuidado, a sua preocupação com a situação de um Povo atolado na miséria,
no sofrimento, na desolação. Deus não fica, nunca, indiferente à sorte dos seus
filhos; mas está continuamente atento às suas necessidades, à sua fome de vida,
à sua sede de felicidade. Os crentes podem estar seguros de que, à mesa desse
banquete onde Deus os reúne, encontram o alimento que os sacia, a mão que os
apóia, a palavra que lhes dá ânimo, o coração que os ama. A reflexão do texto
nos convida, antes de mais nada, a descobrir este Deus providente, amoroso e
dedicado e propõe colocar toda a nossa
existência nas suas mãos. Nos convida também a sermos testemunhas deste Deus no
meio dos nossos irmãos: os pobres, os famintos, os desesperados têm que
encontrar nos nossos gestos e palavras esse “coração” amoroso de Deus que os
apóia, que lhes dá esperança, que os ajuda a recuperar a dignidade e o gosto
pela vida, que lhes mata a fome e a sede de justiça, de fraternidade, de amor e
de paz.
• Se é verdade que Deus não cessa de nos oferecer a salvação, também é verdade
que nós, os homens, nem sempre acolhemos a oferta que Deus nos faz. Muitas
vezes escolhemos caminhos de egoísmo e de auto-suficiência, à margem do
“banquete” de Deus.
Na leitura que nos é
proposta, há um apelo a não gastar o dinheiro naquilo que não alimenta e o
trabalho naquilo que não sacia. Corresponde a um convite a não nos deixarmos
seduzir por falsas miragens de felicidade (os bens materiais, a ilusão do
poder, os aplausos e a consideração dos outros homens) e a não gastarmos a vida
bebendo em fontes que não matam a nossa
sede de vida plena e verdadeira.
Como é que eu me situo
face a isto? De que é que eu sinto “fome”? Como é que eu procuro saciá-la? Eu
também sou dos que gastam o tempo, as forças e as oportunidades correndo atrás de ilusões, de valores
efêmeros, de miragens? Quais são as verdadeiras fontes de vida em que eu devo
apostar de forma incondicional?
• O texto do evangelho nos convida a refletir sobre a preocupação de Deus em
oferecer a todos os homens a vida em abundância. Ele convida todos os homens
para o “banquete” do Reino… Aos desclassificados e proscritos que vivem à
margem da vida e da história, aos que têm fome de amor e de justiça, aos que
vivem atolados no desespero, aos que têm permanentemente os olhos marejados por lágrimas de tristeza, aos que o mundo
condena e marginaliza, aos que não têm pão na mesa nem paz no coração, Deus
diz: “quero oferecer-te essa plenitude de vida que os homens teus irmãos te
negam. Tu também estás convidado para a mesa do Reino”.
• A nossa responsabilidade de seguidores de Jesus nos compromete com a “fome”
do mundo. Nenhum cristão pode dizer que não tem culpa pelo fato de 80% da
humanidade ser obrigada a viver com 20% dos recursos disponíveis… Nenhum cristão pode
“lavar as mãos” quando se gastam em armas e extravagâncias recursos que deveriam
estar ao serviço da saúde, da educação, da habitação, da construção de redes de
saneamento básico… Nenhum cristão pode dormir tranquilo quando tantos homens e mulheres,
depois de uma vida de trabalho, recebem pensões miseráveis que mal dão para
pagar os medicamentos, enquanto se gastam quantias exorbitantes em obras de
fachada que só servem para satisfazer o ego dos donos do mundo… Nós temos
responsabilidades na forma como o mundo se constrói… Que podemos fazer para que
o nosso mundo seja alicerçado sobre outros valores?
• É preciso criarmos a consciência de que os bens criados por Deus pertencem a
todos os homens e não a um grupo restrito de privilegiados. O Vaticano II
afirma: “Deus destinou a terra com tudo o que ela contém para uso de todos os
povos; de modo que os bens criados devem chegar equitativamente às mãos de
todos (…). Sejam quais forem as formas de propriedade, conforme as legítimas
instituições dos povos e segundo as diferentes e mutáveis circunstâncias,
deve-se sempre atender a este destino universal dos bens. Por esta razão, quem
usa desses bens temporais, não deve considerar as coisas exteriores que
legitimamente possui só como próprias, mas também como comuns, no sentido
de que possam beneficiar não só a si, mas também os outros. De resto, todos têm
o direito de ter uma parte de bens suficientes para si e suas famílias”
(Gaudium et Spes, 69).
-Como me situo face aos
bens? Vejo os bens que Deus me concedeu como “meus, muito meus e só meus”, ou
como dons que Deus depositou nas minhas
mãos para eu administrar e partilhar, mas que pertencem a todos os homens?
• O problema da fome no mundo não se resolve recorrendo a programas de
assistência social, de “rendimento mínimo garantido” ou de outros esquemas de
“caridadezinha”; mas resolve-se recorrendo a uma verdadeira revolução das
mentalidades, que leve os homens a interiorizar a lógica de partilha. Os bens
que Deus colocou à disposição dos seus filhos não podem ser abraçados só por alguns; pertencem a todos os homens e
devem ser postos ao serviço de todos. É preciso quebrar a lógica do
capitalismo, a lógica egoísta do lucro (mesmo quando ela reparte alguns trocos
pelos miseráveis para aliviar a consciência dos exploradores), e substitui-la
pela lógica do dom, da partilha, do amor. Sem isto, nenhuma mudança social
criará, de verdade, um mundo mais justo e mais fraterno.
• A narração que nos é proposta tem um inegável contexto eucarístico (as
palavras “ergueu os olhos ao céu e recitou a bênção, partiu os pães e deu-os
aos discípulos” levam-nos à fórmula que usamos sempre que celebramos a
Eucaristia). Na verdade, sentar-se à mesa com Jesus e receber o pão que Ele
oferece (Eucaristia) é comprometer-se com a dinâmica do Reino e é assumir a
lógica da partilha, do amor, do serviço. Celebrar a Eucaristia obriga-nos a
lutar contra as desigualdades, os sistemas de exploração, os esquemas de acumulo
dos bens, os esbanjamentos, a procura de bens supérfluos… Quando celebramos a
Eucaristia e nos comprometemos com uma lógica de partilha e de doação, estamos tornando Jesus
presente no mundo e fazendo com que o Reino seja uma realidade viva na
história dos homens.
Meditação para a semana. .
.
Ousemos! Quantas sedes e fomes estão em nós e entre nós, para as quais gastamos
sem contar o nosso dinheiro e as nossas forças, sem nunca ficarmos saciados!
Ousemos… “ir a Ele… e
levemos-Lhe…” com toda a confiança o pouco que temos, seguros de que só Ele nos
pode satisfazer para além de qualquer desejo.
Para acolher os dons que
Deus oferece, é preciso desinstalar-se, abandonar os esquemas de comodismo e de
preguiça que impedem que no coração haja lugar para a novidade de Deus e para
os desafios que ele lança.
Estou disponível para
deixar cair os meus preconceitos, seguranças, esquemas organizados, egoísmos, e
para me deixar questionar por Deus e pelas suas propostas?
fonte:.
www.dehonianos.org.br
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