23-julho-2017 - 16º Domingo do Tempo Comum-Mt 13,24-43
A liturgia nos convida a descobrir o Deus paciente e
cheio de misericórdia, a quem não interessa a marginalização do pecador, mas a
sua integração na comunidade do “Reino”; e nos convida, sobretudo, a
interiorizar essa “lógica” de Deus, deixando que ela marque o olhar que
lançamos sobre o mundo e sobre os homens.
A primeira leitura nos fala de um Deus que, apesar da sua força e onipotência,
é indulgente e misericordioso para com os homens – mesmo quando eles praticam o
mal. Agindo dessa forma, Deus convida os seus filhos a serem “humanos”, isto é,
a terem um coração tão misericordioso e tão indulgente como o coração de Deus. O Evangelho garante a presença irreversível
no mundo do “Reino de Deus”. Esse “Reino” não é um clube exclusivo de “bons” e
de “santos”: nele todos os homens – bons e maus – encontram a possibilidade de
crescer, de amadurecer as suas escolhas, de serem tocados pela graça, até ao
momento final da opção definitiva. A
segunda leitura sublinha, de outra forma, a bondade e a misericórdia de Deus.
Afirma que o Espírito Santo – dom de Deus – vem em auxílio da nossa
fragilidade, guiando-nos no caminho para a vida plena.
Reflexão:
• O Evangelho nos garante, antes de mais nada, que o “Reino” é
uma realidade irreversível, que está em processo de crescimento no mundo. É
verdade que é difícil perceber essa semente crescendo ou esse fermento levedando a massa, quando vemos
multiplicarem-se as violências, as injustiças, as prepotências, as escravidões…
É difícil acreditar que o “Reino” está em processo de construção, quando o
materialismo, a futilidade, o comodismo, a procura da facilidade, o efêmero
sobressaem, de forma tão marcada, na vida de grande parte dos homens e das mulheres
do nosso tempo… A Palavra de Deus nos convida, contudo, a não perder a
confiança e a esperança. Apesar das aparências, o dinamismo do “Reino” está
presente, minando positivamente a história e a vida dos homens.
• Na verdade, falar
do “Reino” não significa falarmos de um “condomínio fechado”, ao qual só tem
acesso um grupo privilegiado constituído pelos “bons”, pelos “puros”, pelos
perfeitos”, e de onde está ausente o mal, o egoísmo e o pecado… Falar do
“Reino” é falar de uma realidade em processo de construção, onde cada homem e
cada mulher têm o direito de crescer ao seu ritmo, de fazer as suas escolhas,
de acolher ou não o dom de Deus, até à opção final e definitiva. É falarmos de
uma realidade onde o amor de Deus, vivo e atuante, vai introduzindo no coração
do homem um dinamismo de conversão, de transformação, de renascimento, de vida
nova.
• No Evangelho
temos também uma lição muito sugestiva sobre a atitude de Deus face ao mal e
aos que fazem o mal. Na parábola do trigo e do joio, Jesus nos garante que os
esquemas de Deus não prevêem a destruição do pecador, a segregação dos maus, a
exclusão dos culpados. O Deus de Jesus Cristo é um Deus de amor e de
misericórdia, sem pressa para castigar, que dá ao homem “todo o tempo do mundo”
para crescer, para descobrir o dom de Deus e para fazer as suas escolhas. Não
percamos nunca de vista a “paciência” de Deus para com os pecadores: talvez
evitemos ter de carregar sentimentos de culpa que oprimem e amarguram a nossa
breve caminhada nesta terra.
• A “paciência de Deus” com o joio nos convida também a
rejeitarmos as atitudes de rigidez, de intolerância, de incompreensão, de
vingança, nas nossas relações com os nossos irmãos. O “senhor” da parábola não
aceita a intolerância, a impaciência, o radicalismo dos “servos” que pretendem
“cortar o mal pela raiz” e arrancar o mal (correndo o risco de serem injustos,
de se enganarem e de colocarem o mal e o
bem no mesmo saco). Às vezes, somos muito ligeiros em julgar e condenar, como se as
coisas fossem claras e tudo fosse, sem discussão, claro ou escuro… A Palavra de
Deus nos convida a moderar a nossa dureza, a nossa intolerância, a nossa
intransigência e a contemplar os irmãos (com as suas falhas, defeitos,
diferenças, comportamentos religiosa ou socialmente incorretos) com os olhos
benevolentes, compreensivos e pacientes de Deus.
• Convém, termos
sempre presente o seguinte: não há o mal quimicamente puro de um lado e o bem
quimicamente puro do outro… Mal e bem misturam-se no mundo, na vida e no
coração de cada um de nós. Dividir as nações em boas (as que têm uma política
que serve os nossos interesses) e más (as que têm uma política que prejudica os
nossos interesses), os grupos sociais em bons (os que defendem valores com os
quais concordamos) e maus (os que defendem valores que não são os nossos), os
indivíduos em bons (os amigos, aqueles que nos apóiam e que estão sempre de
acordo conosco) e maus (aqueles que nos fazem frente, que nos dizem verdades
que são difíceis de escutar, que não concordam conosco)… é uma atitude simplista,
que nos leva frequentemente a assumir atitudes injustas, que geram exclusão,
marginalização, sofrimento e morte. Mais uma vez: saibamos olhar para o mundo,
para os grupos, para as pessoas sem preconceitos, com a mesma bondade,
compreensão e tolerância que Deus manifesta face a cada homem e a cada mulher,
independentemente das suas escolhas e do seu ritmo de caminhada.
ORAÇÃO
Pai, nós Te louvamos com as palavras que confiaste aos teus profetas e que
lemos nas nossas assembléias: nós Te damos graças porque cuidas de cada um de
nós, és paciente e sempre pronto a nos ajudar.
Nós Te pedimos: torna-nos atentos à tua presença, que o teu Espírito nos
torne curiosos de Ti, receptivos e cheios de admiração por tudo aquilo que és.
Ó Deus, que vês o fundo dos corações, nós Te bendizemos
pelo teu Espírito, que é a tua presença em nós, o teu sopro de vida em nós. Nós
Te recomendamos todas as nossas assembléias de oração, nas nossas igrejas e nas
nossas casas: que o teu Espírito venha em socorro da nossa fraqueza e nos
inspire as palavras para Te cantar, Te louvar e Te rezar.
Bendito sejas, ó Pai, pelo Reino dos céus, que manifestas
no meio de nós e em nós. Ele é o bom grão que semeaste para renovar a nossa
terra, ele é a semente que cresce e o fermente que age. Nós Te pedimos: que o teu Espírito nos torne
pacientes. Diante do mal, mantém-nos confiantes na presença e na força do teu
Reino.
Meditação para a semana. . .
Sem alternativa! O bom grão semeado no nosso campo era promessa de uma boa colheita.
Mas eis que o joio veio poluir a lavoura. Que tipo de compromissos aceitamos na
nossa vida? Deus é paciente! Mas se temos ouvidos, é urgente escutar o seu
apelo à conversão. É urgente escolher o nosso campo: o do Senhor ou o do
Maligno. Não há alternativa!
fonte:
www.dehonianos.org.br
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