02-julho-2017 - São Pedro e São Paulo
1) Pedro:
Simão responde pela fé dos seus irmãos (evangelho). Por isso, Jesus lhe dá o
nome de Pedro, que significa sua vocação de ser pedra, rocha, para que Jesus
edifique sobre ele a comunidade daqueles que aderem a ele na fé. Pedro deverá
dar firmeza aos seus irmãos. Esta “nomeação” vai acompanhada de uma promessa:
as “portas” (= cidade, reino) do inferno (o poder do mal, da morte) não poderão
nada contra a Igreja, que é uma realização do “Reino do Céu” (de Deus). A libertação da prisão ilustra esta promessa
(1ª leitura). Jesus lhe confia também “o poder das chaves”, isto é, o serviço
de “mordomo” ou administrador de sua casa, de sua família, de sua comunidade ou
“cidade”. Na medida em que a Igreja é realização (provisória, parcial) do Reino
de Deus, Pedro e seus sucessores, os Papas, são “administradores” dessa parcela
do Reino de Deus (dos “Céus” no sentido de “Deus”… nada a ver com a figura de
Pedro como porteiro do céu no sentido do “além”..). Eles têm a última
responsabilidade do serviço pastoral. Pedro, sendo aquele que “responde pelos
Doze”, administra ou governa as responsabilidades da evangelização (não a
administração material…). Quem exerce este serviço hoje é o Papa, sucessor de
Pedro e bispo de Roma (de Roma, por causa das circunstâncias históricas). Pedro
recebe também o poder de “ligar e desligar” – o poder da decisão, de obrigar ou
deixar livre -, exatamente como último responsável da comunidade (em Mt 18,18,
esse poder é dado à comunidade como tal, evidentemente sob a coordenação de
quem responde por ela). Não se trata de um poder ilimitado, mas da
responsabilidade pastoral, que concerne à orientação dos fiéis para a vida em
Deus, no caminho de Cristo.
2) Paulo: Se
Pedro aparece como fundamento institucional da Igreja, Paulo aparece mais na
qualidade de fundador carismático. Sua vocação se dá na visão do Cristo no
caminho de Damasco: de perseguidor, transforma-se em mensageiro de Cristo;
“apóstolo”. É ele que realiza, por excelência, a missão dos apóstolos, de serem
testemunhas de Cristo “até aos extremos da terra”. As cartas a Tímóteo, escritas da prisão em Roma, são a
prova disto, pois Roma é a capital do mundo, o trampolim para o Evangelho se
espalhar por todo o mundo civilizado daquele tempo. Ele é o “apóstolo das nações”.
No fim da sua vida, pode oferecer sua vida como “oferenda adequada” a Deus,
assim como ele ensinou . Como Pedro, ele experimenta Deus como um Deus que
liberta da tribulação (2ª leitura).
Reflexão:
Popularmente, a festa de hoje é chamada o Dia do Papa,
sucessor de Pedro. Mas não podemos esquecer que ao lado de Pedro é celebrado
também Paulo, o Apóstolo, ou seja, missionário, por excelência. No evangelho, o
apóstolo Simão responde pela fé de seus irmãos. Por isso, Jesus lhe dá o nome
de Pedro. Este nome é uma vocação: Simão deve ser a “pedra” (rocha) que deve
dar solidez à comunidade de Jesus (cf. Lc 22,32). Esta “nomeação”vai acompanhada
de uma promessa: as “portas” (cidade, reino) do inferno não poderão nada contra
a Igreja, que é uma realização do reino “dos Céus” (= de Deus). A 1ª leitura
ilustra essa promessa: Pedro é libertado da prisão pelo anjo do Senhor. Pedro
aparece, assim, como o fundamento institucional da Igreja.
Paulo aparece mais na qualidade de fundador carismático.
Sua vocação se dá na visão de Cristo no caminho de Damasco: de perseguidor, ele
se transforma em apóstolo e realiza, mais do que os outros apóstolos inclusive,
a missão que Cristo lhes deixou, de serem suas testemunhas até os extremos da
terra (At 1,8). Apóstolo dos pagãos, Paulo torna realidade a universalidade da
Igreja, da qual Pedro é o guardião. A 2ª leitura é o resumo de sua vida de
plena dedicação à evangelização entre os pagãos, nas circunstâncias mais
difíceis: a palavra tinha que ser ouvida por todas as nações (v. 17). Não
esconder a luz de Cristo para ninguém! O mundo em que Paulo se movimentava
estava dividido entre a religiosidade rígida dos judeus farisaicos e o mundo
pagão, cambaleando entre a dissolução moral e o fanatismo religioso. Neste
contexto, o apóstolo anunciou o Cristo Crucificado como sendo a salvação:
loucura para os gregos, escândalo para os judeus, mas alegria verdadeira para
quem nele crê. Missão difícil. No fim de sua vida, Paulo pode dizer que
“combateu o bom combate e conservou a fé/fidelidade”, a sua e a dos fiéis que
ele ganhou. Como Cristo – o bom pastor – não deixa as ovelhas se perderem,
assim também o apóstolo – o enviado de Cristo – conserva-lhes a fidelidade.
Pedro e Paulo representam duas dimensões da vocação
apostólica, diferentes mas complementares. As duas foram necessárias, para que
pudéssemos comemorar hoje os fundadores da Igreja universal. Esta
complementariedade dos carismas de Pedro e Paulo continua atual na Igreja hoje:
a responsabilidade institucional e a criatividade missionária. Pode até
provocar tensões, por exemplo, uma teologia “romana”versus uma teologia
latino-americana. Mas é uma tensão fecunda. Hoje, sabemos que o pastoreio dos
fiéis – a pastoral – não é monopólio dos “pastores constituídos”como tais, a
hierarquia. Todos fiéis são um pouco pastores uns para com os outros. Devemos
conservar a fidelidade a Cristo – a nossa e a dos nossos irmãos – na solidariedade
do “bom combate”.
Meditação para a semana. . .
E qual será, hoje, o bom combate? Como no tempo de Pedro
e Paulo, uma luta pela justiça e a verdade em meio a abusos, contradições e
deformações. Por um lado, a exploração desavergonhada, que até se serve dos
símbolos da nossa religião; por outro, a tentação de largar tudo e de dizer que
a religião é um obstáculo para a libertação. Nossa luta é, precisamente,
assumir a libertação em nome de Jesus, sendo fiéis a ele; pois, na sua morte,
ele realizou a solidariedade mais radical que podemos imaginar.
Fonte:
Do livro “Liturgia Dominical”, de Johan
Konings, SJ, Editora Vozes
www,franciscanos.org
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