08-maio-2016 – Solenidade da Ascensão do Senhor - Lc
24,46-53
A Solenidade da Ascensão de Jesus que hoje celebramos
sugere que, no final de um caminho percorrido no amor e na doação, está a vida
definitiva, em comunhão com Deus. Sugere, também, que Jesus nos deixou o
testemunho e que somos agora nós, seus seguidores, que devemos continuar a
realizar o projeto libertador de Deus para os homens e para o mundo.
O Evangelho nos apresenta as palavras de despedida de Jesus que definem a
missão dos discípulos no mundo. Faz, também, referência à alegria dos
discípulos: essa alegria resulta do reconhecimento da presença no mundo do projeto
salvador de Deus e resulta do fato de a ascensão de Jesus ter acrescentado à
vida dos crentes um novo sentido. Na primeira leitura, repete-se a mensagem
essencial desta festa: Jesus, depois de ter apresentado ao mundo o projeto do
Pai, entrou na vida definitiva da comunhão com Deus – a mesma vida que espera
todos os que percorrem o mesmo caminho de Jesus. Quanto aos discípulos: eles
não podem ficar olhando para o céu, numa passividade alienante, mas têm de ir
para o meio dos homens continuar o projeto de Jesus. A segunda leitura convida os discípulos a
terem consciência da esperança a que foram
chamados (a vida plena de comunhão com Deus). Devem caminhar ao encontro dessa
esperança de mãos dadas com os irmãos – membros do mesmo “corpo” – e em comunhão
com Cristo, a “cabeça” desse “corpo”. Cristo reside nesse “corpo”.
Reflexão:
“Enquanto Jesus os abençoava, afastou-Se deles e foi
elevado ao Céu”. Mas é onde, o céu? Segundo o dicionário, é o espaço visível
acima das nossas cabeças, que limita o horizonte. Hoje, os homens são capazes
de ir ao espaço. O primeiro cosmonauta russo, em 1961, regressou à terra
declarando que não tinha encontrado Deus! Manifestamente, Lucas não fala desse
céu! Os astronautas vão para o espaço para melhor o explorar. Jesus, pela sua
ressurreição, foi para lá do espaço, saiu do nosso espaço-tempo. Mas o que pode
querer isso dizer? Reconheçamos que não temos qualquer experiência dessa
realidade, pela simples razão de que continuamos fechados neste espaço-tempo. O
que falamos, na Ascensão, tem a ver com a fé, com a confiança que podemos ter
em Cristo e nas testemunhas que O viram separar-Se deles. Não há qualquer prova
nem demonstração “científica” para esta subida ao céu de Jesus! Uma vez mais,
somos convidados a situar-nos num outro registro, o do amor. É a nossa própria
experiência: quando amamos, quando conhecemos momentos de intensa felicidade,
gostaríamos que o tempo parasse, não para que tudo se acabe mas, ao contrário,
para que esta felicidade que atinge todo o nosso ser seja como que eternizada.
Gostaríamos de poder parar o tempo. Mas é o tempo para o amor. Ora – aí está a
nossa fé – Jesus veio habitar este desejo de eternidade em nós, para o levar à
sua plena realização. Vivendo a sua vida de homem, imergiu no amor que preenche
os desejos humanos mais autênticos. Ressuscitando, fez entrar todos estes
desejos no mundo do amor infinito. É desse céu que se trata hoje, para lá de
tudo o que possamos imaginar ou desejar. Em cada Eucaristia, acolhemos em nós a
presença de Jesus ressuscitado que vem alimentar e fazer crescer o germe da
vida eterna. E, no dia da nossa morte, Jesus far-nos-á entrar no “além”, no
“céu”, no mundo do amor sem qualquer limite…
♦ A
ressurreição/ascensão de Jesus nos convida a ver a vida com outros olhos – os
olhos da esperança. Diz-nos que o sofrimento, a perseguição, o ódio, a morte,
não são a última palavra para definir o quadro do nosso caminho; nos diz que no final de um caminho percorrido na
doação, na entrega, no amor vivido até às últimas consequências, está a vida
definitiva, a vida de comunhão com Deus. Esta esperança nos permite enfrentar o
medo, os nossos limites humanos, o fanatismo, o egoísmo dos fazedores de pecado
e nos permite olhar com serenidade para
esse qualquer coisa de novo que nos espera, para esse futuro de vida plena que
é o nosso destino final.
♦ A
ascensão de Jesus e, sobretudo, as palavras finais de Jesus, que convocam os
discípulos para a missão, sugerem a nossa responsabilidade na construção desse
mundo novo onde habita a justiça e a paz; sugerem que a proposta libertadora
que Jesus fez a todos os homens está agora nas nossas mãos e que é nossa
responsabilidade torná-la realidade; sugerem que nós, os seguidores de Jesus,
temos de construir, com o esforço de todos os dias, o novo céu e a nova terra.
Sentimos, de fato, esta responsabilidade? Preocupamo-nos em tornar realidade no
mundo os gestos libertadores de Cristo? Procuramos construir, no dia a dia, esse
mundo novo de justiça, de fraternidade, de liberdade e de paz?
♦ A alegria
que brilha nos olhos e nos corações desses discípulos que testemunham a entrada
definitiva de Jesus na vida de Deus tem de ser uma realidade que transparece na
nossa vida. Os seguidores de Jesus, iluminados pela fé, têm de
testemunhar, com a sua alegria, a certeza de que os espera, no final do
caminho, a vida em plenitude; e têm de testemunhar, com a sua alegria, a
certeza de que o projeto salvador e libertador de Deus está atuando no mundo, está transformando os corações e as mentes, está fazendo nascer, dia a dia, o Homem Novo.
A tristeza torna o rosto sombrio e as lágrimas estorvam a
vista. Os discípulos conheceram a tristeza e a decepção, não podem reconhecer o
Ressuscitado que caminhava ao seu lado. Serão necessários os olhos da fé para
nomear Aquele que está vivo, para se alegrar nele, para anunciá-lo. A fé,
assim, não mergulha na nostalgia. Se ela se volta para o passado, é para fazer
memória. Orienta-se, sobretudo, para um futuro que já não será mais como antes.
Qual é, então, o segredo dos discípulos para que estejam alegres depois da
partida do seu Mestre? Muito simplesmente a sua presença, mas “de outro modo”.
Doravante, Ele está sempre com eles; receberam a força do Espírito Santo, atualizam
a sua mensagem, fazem memória dos seus gestos, tornando-O realmente presente no
meio deles. Eles vivem na alegria porque sabem que Ele está com eles até ao fim
dos tempos e que sem Ele nada podem fazer. Ele prometeu, Ele manterá as suas
promessas!
ORAÇÃO
Pai, que diriges o mundo na tua liberdade soberana, nós
Te bendizemos pela presença do teu Filho Jesus nas nossas assembléias e nas
nossas famílias, pelo ensinamento da tua Palavra, pelo banquete da Eucaristia e
pelo dom do teu Espírito. Nós Te pedimos por todas as comunidades cristãs: abre
os nossos corações ao teu Espírito, que os cristãos sejam testemunhas de Cristo
até aos confins da terra.
Cristo ressuscitado, nós Te aclamamos como o grande
sacerdote por excelência. Nós Te pedimos pelos corações feridos e os espíritos
abatidos pela culpabilidade e o remorso, que eles encontrem confiança no teu
perdão.
Pai, nós Te damos graças por toda a obra cumprida pelo
teu Filho Jesus no meio dos homens, segundo as Escrituras, a sua fé em Ti no
meio dos sofrimentos, a sua ressurreição e a conversão proclamada em seu nome
em todas as nações. Nós Te pedimos, ó Pai: envia sobre nós o teu Espírito
Santo, força do alto, que nos prometeste e o teu Filho nos revelou. Envia-nos a
testemunhar a tua obra de salvação.
Meditação para a semana. . .
Testemunhas de Cristo em 2016. “Homens da Galiléia, porque estais a olhar para
o Céu?” A mesma palavra vem mexer com as nossas inércias e nos empurra para
fora de nós mesmos nos caminhos deste mundo. Este Messias morto e ressuscitado…
vós sois suas testemunhas! Medimos o desafio e a força destas palavras? E como
tomamos parte na grande rede das testemunhas de Cristo em 2016?
fonte:
www.dehonianos.org.
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