26-maio-2016 - Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de
Cristo
No centro desta Solenidade está a celebração de Deus que alimenta o seu povo e
que, no seu Filho, dá-lhe o alimento supremo e eterno, quer a grande Eucaristia
dos crentes.
Para exprimir esta oração de louvor e de agradecimento,
que dirigimos ao Senhor acolhendo o dom do seu amor, a Escritura emprega duas
palavras: a bênção (primeira leitura) e a ação de graças (segunda leitura). Estas
duas dimensões de oração estão intimamente ligadas e devem habitar a nossa vida
para além da missa, para testemunhar todo o amor com o qual Cristo ama os
homens (Evangelho).
A Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo é a
festa da Pessoa de Cristo. Ao levantarmos os olhos para o Pão e o Vinho
consagrados, só podemos dizer: «É mesmo Ele! Meu Senhor e meu Deus!»
Breve comentário do
Evangelho.
A refeição da fração do pão, que Jesus celebrou com os
seus discípulos, é destinada ao conjunto do seu povo. O próprio Jesus demonstrou
isso alimentando a multidão que O
seguia, como Deus o havia feito outrora no deserto. Para viver, é preciso
comer. E como Deus nos quer vivos, Ele próprio intervém. Como um Pai que cuida
dos seus filhos, quando estes não encontram o alimento necessário. A tradição
de Israel tinha guardado a memória de uma intervenção providencial, em que Deus
tinha alimentado o seu povo no deserto, depois da saída do Egito, com o maná e
as codornizes (Ex 16); era um pão vindo do céu, portanto, de Deus. Por outro lado, Jesus alimenta o povo que está
quase fracassando. Vários detalhes
anunciam a Eucaristia: Jesus parte os pães e o distribuiu aos seus discípulos,
como na comunhão: o povo está organizado, os Apóstolos fazem o serviço, é a
Igreja; no deserto, o maná era apenas suficiente, mas aqui, no banquete do
Senhor, restam cestos cheios, porque o pão de Jesus nos é oferecido
generosamente, para que tenhamos a vida em abundância (Jo 10,10). É impossível isolar a «ordem de reiteração»
da Eucaristia propriamente dita de outras ordens que Jesus nos deu: muito
próximo da Eucaristia, há o «exemplo» do lava-pés; há ainda o «mandamento do
amor» e a necessidade primordial de amar o nosso próximo; e hoje, o apelo a
darmos nós mesmos de comer àqueles que nada têm que comer. Significando já o
Reino onde todos os bens superabundam, Jesus recorda que Ele quer associar desde
já todos os batizados à sua construção, ao seu anúncio. E para isso, Ele nos santifica com a sua própria vida.
A fé da
Igreja na presença do seu Senhor ressuscitado no mistério da Eucaristia remonta
à origem da comunidade cristã. São Paulo transmite o que recebeu da tradição,
cerca de 25 anos depois da morte de Jesus. É a narração mais antiga da
Eucaristia. A Igreja nunca abandonou esta centralidade.
A Solenidade do Corpo e do Sangue de Cristo foi
instituída em meados do século XIII, numa época em que se comungava muito pouco
e onde se levantavam dúvidas sobre a «presença real» de Jesus na hóstia
consagrada depois da celebração da Eucaristia. A Igreja respondeu, não com
longos discursos, mas com um ato: Sim, Jesus está verdadeiramente presente
mesmo depois do fim da missa. E para provar esta fé, criou-se o hábito de
organizar procissões com a hóstia consagrada pelas ruas, fora das igrejas.
Hoje, não é raro encontrar católicos que põem em dúvida
esta permanência da presença Jesus no pão eucarístico. As palavras de Jesus nos
esclarecem: «Este é o meu Corpo… Este cálice é a nova Aliança no meu sangue».
Estas afirmações de Jesus, na noite de quinta-feira santa, não dependiam nem da
fé nem da compreensão dos apóstolos. É Jesus que se compromete, que dá o pão
como sendo o seu corpo, o cálice de vinho como sendo o cálice da nova Aliança
no seu sangue. Só Ele pode ter influência neste pão e neste vinho.
Hoje, é o sacerdote ordenado que pronuncia as palavras de
Jesus, mas não é ele que lhes dá sentido e realidade. É sempre Jesus
ressuscitado que se compromete, exatamente como na noite de quinta-feira santa.
O sacerdote e toda a comunidade com ele são convidados a aderir na fé a esta
ação de Jesus. Mas não têm o poder de retirar a eficácia das palavras que não
lhes pertencem. A Igreja tem razão em celebrar esta permanência da presença de
Jesus. Que esta seja para nós fonte de admiração e de ação de graças!
ORAÇÃO
O PÃO DA VIDA
O dia começava a declinar. Os Doze aproximaram-se de Jesus e
disseram-Lhe: Manda embora esta
multidão… Aqui estamos num local
deserto…
Manda embora esta multidão… Durante todo o dia, a multidão te escutou longamente.
Alimentou-se da tua Palavra a ponto de esquecer o alimento corporal… Felizmente que estamos aí, pensam talvez os
teus Apóstolos. Porque a noite chega: é
preciso encontrar uma solução! Eles têm
uma: Manda embora esta multidão… É a
solução humana bem indicada:
nas aldeias dos arredores, as pessoas poderão alojar-se e
alimentar-se.
É a solução de facilidade. Mas não é o teu ponto de
vista. Dai-lhes vós mesmos de comer!
É muito fácil dar
conselhos aos outros sem se comprometer
a si mesmo|
O teu discípulo Tiago retomará o teu pensamento, Senhor,
escrevendo:
«Se um irmão ou uma irmã estiverem nus e precisarem de
alimento quotidiano,
e um de vós lhes disser: “Ide em paz, tratai de vos
aquecer e de matar a fome”,
mas não lhes dais o que é necessário ao corpo, de que
lhes aproveitará?» (Tg 2,15-16) Tu nos pedes- para fazer qualquer coisa, para ir em ajuda aos outros. Por vezes a nossa ação não será muito grande, mas tu queres ter necessidade dela. A ação dos apóstolos, nesse dia, foi
simplesmente de Te trazer os cinco pães e
de convidar as pessoas a se instalarem no gramado.
Todos comeram… e
ainda recolheram doze cestos dos pedaços que sobraram.
Os apóstolos terão cada um, um cesto cheio dos «dons de Deus» para levar aos famintos o
alimento essencial, o Pão de vida… E
isso até o fim dos tempos, até ao teu regresso!
Pelo alimento eucarístico, obrigado, Senhor!
Os homens têm fome, sabes bem disso, e Tu queres que
ninguém caia no caminho…
Mas muitos já não sentem mais esta fome… Tem piedade
deles, Senhor!
Tu queres também ter necessidade de ajuda para partilhar
o teu Pão a todas as um ltidões de todos
os lugares…
Dá à tua Igreja, Senhor, os sacerdotes que continuarão a
missão e o trabalho dos Apóstolos em
favor dos famintos de hoje.
Meditação para a semana. . .
É a lei biológica da nossa condição humana: é preciso
comer para viver. A nossa vida espiritual exige também ser alimentada e
cuidada, para crescer e ser fecunda. Ao multiplicar os pães e os peixes para a
multidão que tinha vindo escutar o seu ensinamento, Jesus respondia, certamente,
a uma necessidade física imediata. Mas revelava já todo o seu amor pelos homens
e o seu desejo de os saciar com o verdadeiro alimento: a sua própria vida, o
seu corpo entregue como Pão da Vida, o seu sangue derramado como sangue da
Aliança.
Assim, comungar é ser alimentado pela vida de Jesus,
enriquecido pelas suas próprias forças, ser capaz do seu amor. Do mesmo modo
que comemos para viver, comungamos na Eucaristia para viver como discípulos de
Jesus… Que fazemos das nossas comunhões? Que vidas fazem elas crescer em nós?
Para meditar estas interrogações, perguntemo-nos
verdadeiramente sobre o que nos faltaria se não tivéssemos Eucaristia…
A Eucaristia é verdadeiramente «vital» para nós? Se assim
não for, um período de «jejum eucarístico», um tempo de retiro espiritual para
lhe descobrir o sentido, podem ajudar a reencontrar a grandeza deste
sacramento. Se assim for, procuremos rezar por aqueles que são privados da
Eucaristia e sofrem, e peçamos ao Senhor para lhes dar de novo a graça do seu
amor.
E como andamos de adoração? Com a Festa do Corpo de Deus
vem também a questão das procissões e da adoração eucarísticas. Se a ocasião se
proporcionar, vivamos este tempo de adoração em ligação com a própria
celebração, como prolongamento desta e para melhor nos prepararmos ao serviço
dos nossos irmãos.
fonte:
www.dehonianos.org