"Comunicar a família" é tema do Dia Mundial das Comunicações 2015
O
tema do Dia Mundial das Comunicações Sociais deste ano se insere em
continuidade com o precedente e ao mesmo tempo contextualiza-se com aquele que
será o tema central dos próximos dois Sínodos: a família. Os fatos diários nos dizem também sobre a fadiga da família. As mudanças culturais
muitas vezes não ajudam a entender o quanto a família seja um bem. “As relações entre os membros da comunidade familiar são inspiradas e guiadas
pela lei da «gratuidade» que, respeitando e favorecendo em todos e em cada um a
dignidade pessoal como único título de valor, se torna acolhimento cordial,
encontro e diálogo, disponibilidade desinteressada, serviço generoso,
solidariedade profunda”. (João
Paulo II, Familiaris Consortio, N. 43). “Como ainda dizer em nossos dias, ao homem ferido e desiludido, que o amor
entre um homem e uma mulher é uma coisa boa? Como fazer com que os filhos
experimentem que são um dom precioso? Como aquecer o coração da sociedade
ferida e provada por tantas desilusões de amor e dizer a ela: força,
recomecemos? Como dizer que a família é o primeiro e significativo ambiente no
qual se experimenta a beleza da vida, a alegria do amor, a gratuidade do dom, a
consolação do perdão oferecido e recebido, e onde se inicia a encontrar-se com
o outro”, “A Igreja hoje deve novamente aprender a dizer o quanto a família
seja um grande dom, bom e belo. É chamada a encontrar o modo para expressar que
a gratuidade do amor, que se oferece aos esposos, aproxima todos os homens a
Deus e esta é uma tarefa magnífica. Por que? Porque direciona o olhar a
verdadeira realidade do homem e abre as portas para o futuro, a vida.”
O Dia Mundial das Comunicações Sociais é o único dia estabelecido no Concílio
Vaticano II (Inter Mirifica, 1963). É celebrado em muitos países, com a
recomendação dos bispos de todo o mundo, no Domingo que antecede Pentecostes
(2015, 17 de maio).
A Mensagem do Santo Padre para o Dia Mundial das Comunicações Sociais é
tradicionalmente publicada em ocasião da festa de São Francisco de Sales,
padroeiro dos jornalistas (24 de janeiro).
Mensagem do Papa Francisco para o 49º Dia Mundial das Comunicações Sociais
Boletim da Santa Sé
«Comunicar a família: ambiente privilegiado do encontro na
gratuidade do amor»
O tema da família
encontra-se no centro duma profunda reflexão eclesial e dum processo sinodal
que prevê dois Sínodos, um extraordinário – acabado de celebrar – e outro
ordinário, convocado para o próximo mês de Outubro. Neste contexto, considerei
oportuno que o tema do próximo Dia Mundial das Comunicações Sociais tivesse
como ponto de referência a família. Aliás, a família é o primeiro lugar onde
aprendemos a comunicar. Voltar a este momento originário pode-nos ajudar quer a
tornar mais autêntica e humana a comunicação, quer a ver a família dum novo
ponto de vista. Podemos deixar-nos inspirar pelo ícone evangélico da visita de
Maria a Isabel (Lc 1, 39-56). «Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, o
menino saltou-lhe de alegria no seio e Isabel ficou cheia do Espírito Santo.
Então, erguendo a voz, exclamou: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o
fruto do teu ventre”» (vv. 41-42). Este episódio mostra-nos, antes de mais nada,
a comunicação como um diálogo que tece com a linguagem do corpo. Com efeito, a
primeira resposta à saudação de Maria é dada pelo menino, que salta de alegria
no ventre de Isabel. Exultar pela alegria do encontro é, em certo sentido, o
arquétipo e o símbolo de qualquer outra comunicação, que aprendemos ainda antes
de chegar ao mundo. O ventre que nos abriga é a primeira «escola» de
comunicação, feita de escuta e contacto corporal, onde começamos a
familiarizar-nos com o mundo exterior num ambiente protegido e ao som
tranquilizador do pulsar do coração da mãe. Este encontro entre dois seres
simultaneamente tão íntimos e ainda tão alheios um ao outro, um encontro cheio
de promessas, é a nossa primeira experiência de comunicação. E é uma
experiência que nos irmana a todos, pois cada um de nós nasceu de uma mãe.Mesmo depois de termos chegado ao mundo, em
certo sentido permanecemos num «ventre», que é a família. Um ventre feito de
pessoas diferentes, interrelacionando-se: a família é «o espaço onde se aprende
a conviver na diferença» (Exort. ap. Evangelii gaudium, 66). Diferenças de géneros
e de gerações, que comunicam, antes de mais nada, acolhendo-se mutuamente,
porque existe um vínculo entre elas. E quanto mais amplo for o leque destas
relações, tanto mais diversas são as idades e mais rico é o nosso ambiente de
vida. O vínculo está na base da palavra, e esta, por sua vez, revigora o
vínculo. Nós não inventamos as palavras: podemos usá-las, porque as recebemos.
É em família que se aprende a falar na «língua materna», ou seja, a língua dos
nossos antepassados (cf. 2 Mac 7, 21.27). Em família, apercebemo-nos de que
outros nos precederam, nos colocaram em condições de poder existir e, por nossa
vez, gerar vida e fazer algo de bom e belo. Podemos dar, porque recebemos; e
este circuito virtuoso está no coração da capacidade da família de ser comunicada
e de comunicar; e, mais em geral, é o paradigma de toda a comunicação. A
experiência do vínculo que nos «precede» faz com que a família seja também o
contexto onde se transmite aquela forma fundamental de comunicação que é a
oração. Muitas vezes, ao adormecerem os filhos recém-nascidos, a mãe e o pai
entregam-nos a Deus, para que vele por eles; e, quando se tornam um pouco
maiores, põem-se a recitar juntamente com eles orações simples, recordando
carinhosamente outras pessoas: os avós, outros parentes, os doentes e
atribulados, todos aqueles que mais precisam da ajuda de Deus. Assim a maioria
de nós aprendeu, em família, a dimensão religiosa da comunicação, que, no
cristianismo, é toda impregnada de amor, o amor de Deus que se dá a nós e que
nós oferecemos aos outros. Na família, é sobretudo a capacidade de se abraçar,
apoiar, acompanhar, decifrar olhares e silêncios, rir e chorar juntos, entre
pessoas que não se escolheram e todavia são tão importantes uma para a outra… é
sobretudo esta capacidade que nos faz compreender o que é verdadeiramente a
comunicação enquanto descoberta e construção de proximidade. Reduzir as
distâncias, saindo mutuamente ao encontro e acolhendo-se, é motivo de gratidão
e alegria: da saudação de Maria e do saltar de alegria do menino deriva a
bênção de Isabel, seguida do belíssimo cântico do Magnificat, no qual Maria
louva o amoroso desígnio que Deus tem sobre Ela e o seu povo. De um «sim»
pronunciado com fé, derivam consequências que se estendem muito para além de
nós mesmos e se expandem no mundo. «Visitar» supõe abrir as portas, não
encerrar-se no próprio apartamento, sair, ir ter com o outro. A própria família
é viva, se respira abrindo-se para além de si mesma; e as famílias que
assim procedem, podem comunicar a sua mensagem de vida e comunhão, podem dar
conforto e esperança às famílias mais feridas, e fazer crescer a própria
Igreja, que é uma família de famílias . Mais do que em qualquer outro lugar, é
na família que, vivendo juntos no dia-a-dia, se experimentam as limitações
próprias e alheias, os pequenos e grandes problemas da coexistência e do pôr-se
de acordo. Não existe a família perfeita, mas não é preciso ter medo da
imperfeição, da fragilidade, nem mesmo dos conflitos; preciso é aprender a
enfrentá-los de forma construtiva. Por isso, a família onde as pessoas, apesar
das próprias limitações e pecados, se amam, torna-se uma escola de perdão. O
perdão é uma dinâmica de comunicação: uma comunicação que definha e se quebra,
mas, por meio do arrependimento expresso e acolhido, é possível reatá-la e
fazê-la crescer. Uma criança que aprende, em família, a ouvir os outros, a
falar de modo respeitoso, expressando o seu ponto de vista sem negar o dos
outros, será um construtor de diálogo e reconciliação na sociedade. Muito têm
para nos ensinar, a propósito de limitações e comunicação, as famílias com
filhos marcados por uma ou mais deficiências. A deficiência motora, sensorial
ou intelectual sempre constitui uma tentação a fechar-se; mas pode tornar-se,
graças ao amor dos pais, dos irmãos e doutras pessoas amigas, um estímulo para
se abrir, compartilhar, comunicar de modo inclusivo; e pode ajudar a escola, a
paróquia, as associações a tornarem-se mais acolhedoras para com todos, a não
excluírem ninguém. Além disso, num mundo
onde frequentemente se amaldiçoa, insulta, semeia discórdia, polui com as
murmurações o nosso ambiente humano, a família pode ser uma escola de comunicação
feita de bênção. E isto, mesmo nos lugares onde parecem prevalecer como
inevitáveis o ódio e a violência, quando as famílias estão separadas entre si
por muros de pedras ou pelos muros mais impenetráveis do preconceito e do
ressentimento, quando parece haver boas razões para dizer «agora basta»; na
realidade, abençoar em vez de amaldiçoar, visitar em vez de repelir, acolher em
vez de combater é a única forma de quebrar a espiral do mal, para testemunhar
que o bem é sempre possível, para educar os filhos na fraternidade. Os meios
mais modernos de hoje, irrenunciáveis sobretudo para os mais jovens, tanto
podem dificultar como ajudar a comunicação em família e entre as famílias.
Podem-na dificultar, se se tornam uma forma de se subtrair à escuta, de se
isolar apesar da presença física, de saturar todo o momento de silêncio e de
espera, ignorando que «o silêncio é parte integrante da comunicação e, sem ele,
não há palavras ricas de conteúdo» (BENTO XVI, Mensagem do XLVI Dia Mundial das
Comunicações Sociais, 24/1/2012); e podem-na favorecer, se ajudam a narrar e
compartilhar, a permanecer em contacto com os de longe, a agradecer e pedir
perdão, a tornar possível sem cessar o encontro. Descobrindo diariamente este
centro vital que é o encontro, este «início vivo», saberemos orientar o nosso
relacionamento com as tecnologias, em vez de nos deixarmos arrastar por elas.
Também neste campo, os primeiros educadores são os pais. Mas não devem ser
deixados sozinhos; a comunidade cristã é chamada a colocar-se ao seu lado, para
que saibam ensinar os filhos a viver, no ambiente da comunicação, segundo os
critérios da dignidade da pessoa humana e do bem comum. Assim o desafio que
hoje se nos apresenta, é aprender de novo a narrar, não nos limitando a
produzir e consumir informação, embora esta seja a direção para a qual nos
impelem os potentes e preciosos meios da comunicação contemporânea. A
informação é importante, mas não é suficiente, porque muitas vezes simplifica,
contrapõe as diferenças e as visões diversas, solicitando a tomar partido por
uma ou pela outra, em vez de fornecer um olhar de conjunto. No fim de contas, a
própria família não é um objeto acerca do qual se comunicam opiniões nem um
terreno onde se combatem batalhas ideológicas, mas um ambiente onde se aprende
a comunicar na proximidade e um sujeito que comunica, uma «comunidade
comunicadora». Uma comunidade que sabe acompanhar, festejar e frutificar. Neste
sentido, é possível recuperar um olhar capaz de reconhecer que a família
continua a ser um grande recurso, e não apenas um problema ou uma instituição
em crise. Às vezes os meios de comunicação social tendem a apresentar a família
como se fosse um modelo abstrato que se há de aceitar ou rejeitar, defender ou
atacar, em vez duma realidade concreta que se há de viver; ou como se fosse uma
ideologia de alguém contra outro, em vez de ser o lugar onde todos aprendemos o
que significa comunicar no amor recebido e dado. Ao contrário, narrar significa
compreender que as nossas vidas estão entrelaçadas numa trama unitária, que as
vozes são múltiplas e cada uma é insubstituível. A família mais bela, protagonista e não
problema, é aquela que, partindo do testemunho, sabe comunicar a beleza e a
riqueza do relacionamento entre o homem e a mulher, entre pais e filhos. Não
lutemos para defender o passado, mas trabalhemos com paciência e confiança, em
todos os ambientes onde diariamente nos encontramos, para construir o futuro.
Vaticano, 23 de Janeiro – Vigília da Festa de
São Francisco de Sales – de 2015.
fontes:
www.cnbb.org.br
www.vatican.va
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