A liturgia
deste último domingo da Quaresma convida-nos a contemplar esse Deus que, por
amor, desceu ao nosso encontro, partilhou a nossa humanidade, fez-se servo dos homens, deixou-se matar para que o
egoísmo e o pecado fossem vencidos. A cruz (que a liturgia deste domingo coloca
no horizonte próximo de Jesus) nos apresenta a lição suprema, o último passo
desse caminho de vida nova que, em Jesus, Deus nos propõe: a doação da vida por amor. A
primeira leitura nos apresenta um profeta anônimo, chamado por Deus a
testemunhar no meio das nações a Palavra da salvação. Apesar do sofrimento e da
perseguição, o profeta confiou em Deus e concretizou, com teimosa fidelidade,
os projetos de Deus. Os primeiros cristãos viram neste “servo” a figura de
Jesus. A segunda leitura nos apresenta o exemplo de Cristo. Ele prescindiu do
orgulho e da arrogância, para escolher a obediência ao Pai e o serviço aos
homens, até ao dom da vida. É esse mesmo caminho de vida que a Palavra de Deus
nos propõe. O Evangelho nos convida a
contemplar a paixão e morte de Jesus: é o momento supremo de uma vida feita dom
e serviço, a fim de libertar os homens de tudo aquilo que gera egoísmo e
escravidão. Na cruz, revela-se o amor de Deus – esse amor que não guarda nada
para si, mas que se faz dom total.
REFLEXÃO:
•
Os valores que marcaram a existência de Cristo continuam não sendo muito apreciados no séc. XXI. De
acordo com os critérios que presidem à construção do nosso mundo, os grandes
“ganhadores” não são os que põem a sua vida ao serviço dos outros, com
humildade e simplicidade, mas são os que enfrentam o mundo com agressividade,
com auto-suficiência e fazem por ser os melhores, mesmo que isso signifique não
olhar a meios para passar à frente dos outros. Como pode um cristão (obrigado a
viver inserido neste mundo e a ser competitivo) conviver com estes valores?
• Paulo tem consciência de que está pedindo
aos cristãos algo realmente difícil; mas é algo que é fundamental, à luz do
exemplo de Cristo. Também a nós é
pedido, nestes últimos dias antes da Páscoa, um passo em frente neste difícil
caminho da humildade, do serviço, do amor: será possível que, sejamos as
testemunhas da lógica de Deus?
• Os acontecimentos que, nesta semana, vamos celebrar, garantem-nos que o
caminho do dom da vida não é um caminho de “perdedores” e fracassados: o caminho
do dom da vida conduz ao sepulcro vazio da manhã de Páscoa, à ressurreição. É
um caminho que garante a vitória e a vida plena.
• Celebrar a paixão e a morte de Jesus é aprofundar-se na contemplação de um
Deus a quem o amor tornou frágil… Por amor, Ele veio ao nosso encontro, assumiu
os nossos limites e fragilidades, experimentou a fome, o sono, o cansaço,
conheceu as tentações, tremeu perante a morte, suou sangue antes de aceitar a
vontade do Pai; e, estendido no chão, esmagado contra a terra, atraiçoado,
abandonado, incompreendido, continuou a amar. Desse amor resultou vida plena,
que Ele quis repartir conosco “até o fim dos tempos”: esta é a mais espantosa
história de amor que é possível contar; ela é a boa notícia que enche de
alegria o coração dos crentes.
• Contemplar a cruz, onde se manifesta o amor e a entrega de Jesus, significa
assumir a mesma atitude e solidarizar-se com aqueles que são crucificados neste
mundo: os que sofrem violência, os que são explorados, os que são excluídos, os
que são privados de direitos e de dignidade… Olhar a cruz de Jesus significa
denunciar tudo o que gera ódio, divisão, medo, em termos de estruturas,
valores, práticas, ideologias; significa evitar que os homens continuem a
crucificar outros homens; significa aprender com Jesus a entregar a vida por
amor… Viver deste jeito pode conduzir à morte; mas o cristão sabe que amar como
Jesus é viver a partir de uma dinâmica que a morte não pode vencer: o amor gera
vida nova e introduz na nossa carne os dinamismos da ressurreição.
A vida é paixão. Nunca ficamos insensíveis diante de um apaixonado: ou irrita
ou seduz… De qualquer modo, ele provoca. Jesus foi apaixonado por Deus seu Pai.
Uma só coisa bastava para Ele: fazer a sua vontade. Ora, a vontade de Deus não era que seu Filho morresse, mas que fosse até ao
fim do amor. Com o risco de dar a sua vida… e foi o que Ele fez. Jesus foi
um apaixonado pelos homens seus irmãos. Uma só coisa contava para Ele: salvar a
humanidade, arrancando-a do egoísmo, da violência, do orgulho, da riqueza, da
idolatria, de tudo o que leva à morte e à infelicidade… para lhe propor o
serviço, o acolhimento, o perdão, a pobreza, tudo o que leva à vida e à
felicidade, e que tem um nome: o Amor. Durante toda esta Semana Santa, ergamos
os olhos para Cristo na sua Paixão por Deus seu Pai, na paixão pelos homens
seus irmãos. Para que nós também sejamos apaixonados!
Meditação
para a semana...
Um Rei-Servidor… Mudança radical de
valores!
Numa sociedade que só acredita no seu poder,
no seu dinheiro, nas suas conquistas, eis o nosso Rei que vem até nós na
humildade, no serviço, no sofrimento, vulnerável até morrer.
Discípulos deste Messias-Servidor, onde se
situam os nossos valores de referência: do lado do Evangelho?
Do lado do mundo?
Não há meio termo…
fonte:
www.dehonianos.org.
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