05-abril-2015 - Domingo de
Páscoa - Jo 20,1-9
A liturgia deste domingo celebra a ressurreição e nos garante que a vida em
plenitude resulta de uma existência feita doação e serviço em favor dos irmãos.
A ressurreição de Cristo é o exemplo concreto que confirma tudo isto. A
primeira leitura apresenta o exemplo de Cristo que “passou pelo mundo fazendo o
bem” e que, por amor, se deu até à morte; por isso, Deus o ressuscitou. Os
discípulos, testemunhas desta dinâmica, devem anunciar este “caminho” a todos
os homens. O Evangelho nos coloca diante de duas atitudes face à ressurreição:
a do discípulo obstinado, que se recusa a aceitá-la porque, na sua lógica, o
amor total e a doação da vida não podem, nunca, ser geradores de vida nova; e a
do discípulo ideal, que ama Jesus e que, por isso, entende o seu caminho e a
sua proposta (a esse não o escandaliza nem o espanta que da cruz tenha nascido
a vida plena, a vida verdadeira). A segunda leitura convida os cristãos,
revestidos de Cristo pelo batismo, a continuarem a sua caminhada de vida nova,
até à transformação plena (que acontecerá quando, pela morte, tivermos
ultrapassado a última barreira da nossa finitude.
Reflexão:
Entregamos a morte àquele que, com um olhar,
dava dignidade aos feridos da vida, então Maria Madalena o reconhece quando Ele
a chama pelo seu nome. Entregamos a morte àquele que tinha falado do amor como
de um dom, então Tomé o reconhece nas suas feridas, provas do dom da sua vida. Entregamos
a morte àquele que tinha declarado “felizes os construtores de paz”, então os
discípulos o reconhecem na sua saudação: “A paz esteja convosco!” Entregamos a
morte àquele que tinha partilhado o pão, então dois dos seus discípulos o reconhecem
no gesto da fração do pão a caminho de Emaús. A morte não teve a última
palavra. Doravante, quem terá a última palavra é a Vida, o Amor, a Paz, a Fé. Essa
é na nossa esperança.
• Também aqui – como em várias outras passagens do Evangelho – Pedro desempenha
um papel estranho e infeliz: é o papel de um discípulo que continua não sintonizado com Jesus e com a sua lógica.
No entanto, não podemos ser muito duros com Pedro: ele é, apenas, o paradigma
de uma figura de discípulo que conhecemos bem: o discípulo que tem dificuldade
em perceber Jesus e os seus valores, pois está habituado a funcionar de acordo
com outros valores e padrões – os valores e padrões dos homens. A lógica humana
nos ensina que o amor partilhado até à morte, o serviço simples e sem
pretensões, a doação e a entrega da vida, só conduzem ao fracasso e não são um
caminho sólido e consistente para chegar ao êxito, ao triunfo, à glória; da
cruz, do amor radical, da doação de si, não pode resultar realização,
felicidade, vida plena, êxito profissional ou social. Como nos situamos face a
esta lógica?
• O “discípulo predileto” de que fala o texto é o discípulo que vive em
comunhão com Jesus, que se identifica com Jesus e com os seus valores, que
interiorizou e absorveu a lógica da entrega incondicional, do dom da vida, do
amor total. Modelo do verdadeiro discípulo, ele nos convida à identificação com
Jesus, à escuta atenta e comprometida dos valores de Jesus, ao seguimento de
Jesus. Propõe-nos uma renúncia firme a esquemas de egoísmo, de injustiça, de
orgulho, de prepotência e a realizar gestos que sejam sinais do amor, da
bondade, da misericórdia e da ternura de Deus.
• A ressurreição de Jesus prova, precisamente, que a vida plena, a vida total,
a transfiguração total da nossa realidade finita e das nossas capacidades
limitadas, passa pelo amor que se dá, com radicalidade, até às últimas
consequências. Garante-nos que a vida que se gasta amando não é perdida nem fracassada, mas
é o caminho para a vida plena e verdadeira, para a felicidade sem fim. Temos
consciência disso? É nessa direção que conduzimos a caminhada da nossa vida?
• Pela fé, pela esperança, pelo seguimento de Cristo e pelos sacramentos, a semente
da ressurreição (o próprio Jesus) é depositada na realidade do homem/corpo.
Revestidos de Cristo, somos nova criatura: estamos, portanto, ressuscitando, até atingirmos a plenitude, a
maturação plena, a vida total (quando ultrapassarmos a barreira da morte
física). Aqui começa, pois, a nova humanidade.
• A figura de Pedro pode também representar, aqui, essa velha prudência dos
responsáveis institucionais da Igreja, que os impede de ir à frente da
caminhada do Povo de Deus, de arriscar, de aceitar os desafios, de aderir ao
novo, ao desconcertante, ao incompreensível. O Evangelho de hoje sugere que é,
precisamente nesse novo, desconcertante, incompreensível à luz da lógica humana
que, tantas vezes, se revela o mistério de Deus e se encontram ecos de ressurreição
e de vida nova.
Entregamos a morte àquele que, com um olhar, dava dignidade aos feridos da
vida, então Maria Madalena o reconhece quando Ele a chama pelo seu nome. Entregamos
a morte àquele que tinha falado do amor como de um dom, então Tomé o reconhece
nas suas feridas, provas do dom da sua vida. Entregamos a morte àquele que
tinha declarado “felizes os construtores de paz”, então os discípulos o reconhecem
na sua saudação: “A paz esteja convosco!” Entregamos a morte àquele que tinha
partilhado o pão, então dois dos seus discípulos o reconhecem no gesto da fração
do pão a caminho de Emaús. A morte não teve a última palavra. Doravante, quem
terá a última palavra é a Vida, o Amor, a Paz, a Fé. Essa é na nossa esperança.
Meditação. . .
“Ele viu e acreditou”. O discípulo que Jesus amava viu aquilo que Simão Pedro
via: um túmulo vazio, com as ligaduras e o sudário… Mas João crê. Porquê esta
diferença na atitude dos dois discípulos? O amor de Pedro por Jesus era grande.
Mas com a tríplice negação, o seu amor tinha necessidade de ser confirmado,
purificado, perdoado. João, ele, o único entre os apóstolos, ficou até ao fim.
Deixou-se invadir por um amor sem falhas. Na última Ceia, tinha sentido bater
mais perto o coração do Senhor. Diante do túmulo vazio, ele sabe que se trata
de algo de infinitamente mais misterioso, mais decisivo. Muitos homens não
tiveram fé no testemunho dos apóstolos. É este amor que nos faz ver para além
das aparências e que queimava o coração de João.
“Para vós, sempre nos pergunta Jesus: quem sou Eu?”
fonte:
www.dehonianos.org
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