No segundo Domingo da
Quaresma, a Palavra de Deus define o caminho que o verdadeiro discípulo deve
seguir: é o caminho da escuta atenta de Deus e dos seus projetos, da obediência
total e radical aos planos do Pai. O Evangelho relata a transfiguração de
Jesus. Recorrendo a elementos simbólicos do Antigo Testamento, o autor
apresenta-nos uma catequese sobre Jesus, o Filho amado de Deus, que vai
concretizar o seu projeto libertador em favor dos homens através do dom da
vida. Aos discípulos, desanimados e assustados, Jesus diz: o caminho do dom da
vida não conduz ao fracasso, mas à vida plena e definitiva. Segui-o, vós
também. Na primeira leitura apresenta-se a figura de Abraão. Abraão é o homem
de fé, que vive numa constante escuta de Deus, que sabe ler os seus sinais, que
aceita os apelos de Deus e que lhes responde com a obediência total e com a
entrega confiada. Nesta perspectiva, ele é o modelo do crente que percebe o
projeto de Deus e o segue de todo o coração. Na segunda leitura, há um apelo
aos seguidores de Jesus, no sentido de que sejam, de forma verdadeira,
empenhada e coerente, as testemunhas do projeto de Deus no mundo. Nada – muito
menos o medo, o comodismo e a instalação – pode distrair o discípulo dessa
responsabilidade.
Reflexão:
• A questão fundamental expressa no episódio da transfiguração está na
revelação de Jesus como o Filho amado de Deus, que vai concretizar o projeto
salvador e libertador do Pai em favor dos homens através da doação da vida, da
entrega total de si próprio por amor. Pela transfiguração de Jesus, Deus
demonstra aos crentes de todas as épocas e lugares, que uma existência feita doação
não é fracassada – mesmo se terminada na cruz. A vida plena e definitiva
espera, no final do caminho, todos aqueles que, como Jesus, forem capazes de
pôr a sua vida ao serviço dos irmãos.
• Na verdade, os homens do nosso tempo têm alguma dificuldade em perceber esta
lógica… Para muitos dos nossos irmãos, a vida plena não está no amor levado até
às últimas consequências (até a doação total da vida), mas sim na preocupação
egoísta com os seus interesses pessoais, com o seu orgulho, com o seu pequeno
mundo privado; não está no serviço simples e humilde em favor dos irmãos
(sobretudo dos mais débeis, dos mais marginalizados e dos mais infelizes), mas
no assegurar para si próprio uma dose generosa de poder, de influência, de
autoridade e de domínio, que dê a sensação de pertencer à categoria dos
vencedores; não está numa vida vivida como doação, com humildade e
simplicidade, mas numa vida feita um jogo complicado de conquista de honras, de
glórias e de êxitos.
Na verdade, onde é que
está a realização plena do homem?
Quem tem razão: Deus, ou os
esquemas humanos que hoje dominam o mundo e que nos impõem uma lógica diferente
da lógica do Evangelho?
• Por vezes somos tentados pelo desânimo, porque não percebemos o alcance dos
esquemas de Deus; ou então, parece que, seguindo a lógica de Deus, seremos
sempre perdedores e fracassados, que nunca integraremos a elite dos senhores do
mundo e que nunca chegaremos a conquistar o reconhecimento daqueles que
caminham ao nosso lado… A transfiguração de Jesus grita-nos, do alto daquele
monte: não desanimeis, pois a lógica de Deus não conduz ao fracasso, mas à
ressurreição, à vida definitiva, à felicidade sem fim.
• Os três discípulos, testemunhas da transfiguração, parecem não ter muita
vontade de “descer à terra” e enfrentar o mundo e os problemas dos homens.
Representam todos aqueles que vivem de olhos postos no céu, alienados da
realidade concreta do mundo, sem vontade de intervir para o renovar e
transformar. No entanto, ser seguidor de Jesus obriga a “regressar ao mundo”
para testemunhar aos homens – mesmo contra a corrente – que a realização
autêntica está na doação da vida; obriga a atolarmo-nos no mundo, nos seus
problemas e dramas, a fim de dar o nosso contributo para o aparecimento de um
mundo mais justo e mais feliz. A religião não é um ópio que nos adormece, mas
um compromisso com Deus, que se faz compromisso de amor com o mundo e com os
homens.
Meditação para a semana:
A vida é combate. O primeiro ato do ser humano no seu nascimento é um grito.
Ele deverá lutar para viver. Muitos doentes sabem que devem lutar contra o mal,
o sofrimento, o desencorajamento. Desistir de lutar é sintoma de uma doença que
se chama depressão. Podemos lutar para nos curarmos fisicamente. Podemos lutar
para nos mantermos de pé na provação. A vida espiritual também é um combate. O
Senhor é Alguém que se deixa procurar. Segui-lo supõe, por vezes, escolhas
radicais. Nesta semana, aceitemos conduzir um combate. Não para sermos os
melhores, nem para esmagar os outros, mas para viver e fazer viver. A vitória
neste combate nos é anunciada neste domingo, em que nos juntamos ao Senhor
transfigurado. Mas Ele diz-nos que, antes de ressuscitar, deve passar pelo
combate da Paixão. A ressurreição é a vitória do combate pela vida.
A aventura da fé… “deixa a
tua terra…”; “sofre comigo pelo Evangelho…”; “levou-os, em particular, a um
alto monte…” A aventura da fé não nos deixa repousar até ao dia em que toda a Criação se
prostrará diante do Filho Bem-Amado.
Cremos verdadeiramente que
a nossa pequena parte é indispensável?
fonte:
www.dehonianos.org
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