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04 novembro, 2017

05-novembro – 2017-  Solenidade de Todos os Santos
Somos santos já, na medida em que pertencemos a Deus no presente

A festa de todos os santos abrange os três momentos do tempo, além da dimensão universal do espaço. De fato, celebramos os justos do passado, celebramos a vocação à santidade futura (o “céu”), e celebramos a santidade como dom (graça) presente.  Como esta dimensão presente é a em que menos se pensa quando se fala de santidade, achamos que ela merece uma atenção especial: é a mensagem das Bem-Aventuranças, no evangelho (Mt 5,1-12, ). As Bem-Aventuranças devem ser entendidas como uma proclamação da chegada do Reino de Deus para as pessoas que vão ficar felizes com isso ( acrescenta também aqueles que vão ficar infelizes …). São, ao mesmo tempo, a proclamação da amizade de Deus para aqueles que participam do espírito que é evocado por oito exemplificações,  um programa de vida para todos os que escutam a palavra do Cristo.  Este programa de vida já entra em ação desde que alguém se toma discípulo de Jesus: os que estão realizando este programa já são “santos”. Por isso, este evangelho foi escolhido para a festa de hoje. Jesus proclama a bem-aventurança (a felicidade, o “bom encaminhamento”, a “boa ventura”) dos “pobres no espírito” ,porque deles é o Reino dos Céus, ele não quer dizer o além da morte – uma recompensa futura pela carência na terra – mas a realidade presente. “Reino dos Céus” é maneira semítica de dizer “Reino de Deus” (por respeito, Deus é chamado “os Céus”). E o Reino de Deus começa onde se faz a vontade de Deus, como aprendemos do Pai-nosso, que Jesus ensina em seguida.  Se entendêssemos as Bem-Aventuranças somente como uma compensação para depois da morte, elas seriam “ópio do povo”. Mas o contrário é verdade: elas são um incentivo para realizar, desde já, o novo espírito, que traz presente o Reino. O sentido das Bem-Aventuranças é, exatamente, relacionar o dom escatológico (expresso nos termos: “serão consolados, serão saciados” etc.) com a realidade de hoje. O dom escatológico não cai do céu, mediante a atuação de algum mágico, mas é o que, da parte de Deus, corresponde à atitude do justo, do servo, do “pobre do Senhor”. Corresponde à atitude de não procurar a mera afirmação pessoal no poder e na riqueza, mas de dispor-se inteiramente para a obra de Deus, pelo esvaziamento, a mansidão, a paciência no sofrer, a sede de justiça divina, o empenho pela paz … Em outros termos, somos santos já, na medida em que pertencemos a Deus no presente. Então, também o futuro de Deus nos pertence.  A mesma mensagem proclama a 2ª leitura (1Jo 3): nossa atual santidade, por sermos filhos de Deus, embora ainda não seja manifesto “o que seremos” (= a nossa glorificação). Portanto, quem é celebrado hoje é, em primeiro lugar, os “filhos de Deus” Santos neste mundo.  A isto se une a visão antecipada do autor do Apocalipse sobre a plenitude dos que aderiram a Cristo, seguiram o Cordeiro (1ª leitura). É o número perfeito das tribos (12 x 12.000), os eleitos de Israel (o autor é judeu-cristão), mas também um número inumerável de todas as nações (universalismo – mas ainda assim há quem ensine que no céu só tem 144.000 lugares … ).  Ora, tanto na mensagem das Bem-Aventuranças quanto na visão do Apocalipse ganham um destaque especial os mártires, os que são perseguidos por causa do evangelho, os que lavaram suas vestes no sangue do Cordeiro e vêm da grande tribulação. Testemunhar de Cristo com seu sangue é a marca mais segura da santidade. Mas, com ou sem sangue, todos deverão fazer de sua vida um pertencer a Cristo, para que possam ser chamados “santos”, isto é, consagrados a Deus.  As orações insistem muito na intercessão dos santos. É um aspecto deste dia, que atinge muito a sensibilidade popular. É preciso fazer aqui um delicado trabalho de interpretação. Confiar em alguém como intercessor supõe sentir-se solidário (familiar) com ele. Será que vivemos como familiares destes intercessores? Será que cabemos na sua companhia?
A comunhão dos Santos
Atualmente pouco se ouve falar na “comunhão dos santos”. Além disso, muitos fiéis talvez tenham uma idéia muito restrita a respeito de quem são os santos…   Nas suas cartas, Paulo chama os fiéis em geral de “santos”. Todos os que pertencem a Cristo e seu Reino constituem uma comunidade viva e real, a “Comunhão dos Santos”.   As bem-aventuranças (evangelho) proclamam a chegada do Reino de Deus e, por isso, a boa ventura daqueles que “combinam com ele”. Assim, caracterizam a comunidade dos “santos”, os “filhos do Reino”, e proclamando a sua felicidade  e salvação. Jesus felicita os “pobres de Deus”, os que confiam mais em Deus do que na prepotência, os que produzem paz, os que vêem o mundo com a clareza de um coração puro etc. Sobretudo os que sofrem por causa do Reino, pois sua recompensa é a comunhão no “céu”, isto é, em Deus. Dedicando sua vida à causa de Deus, eles “são dele”. É o que diz S. João (2ª leitura): já somos filhos de Deus, e nem imaginamos o que seremos! Mas uma coisa sabemos: seremos semelhantes a ele, realizaremos a vocação de nossa criação (Gn 1,26). O amor de Deus tomará totalmente conta de nosso ser, ao ponto de nos tornar iguais a ele.   A santidade não é o destino de uns poucos, mas de uma imensa multidão (1ª leitura): todos aqueles que, de alguma maneira, até sem o saber, aderiram e aderirão à causa de Cristo e do Reino: a comunhão ou comunidade dos santos.  Ser santo significa ser de Deus. Não é preciso ser anjo para isso. Santidade não é angelismo. Significa um cristianismo libertado e esperançoso, acolhedor para com todos os que “procuram Deus com um coração sincero” (Oração Eucarística IV). Mas significa também um cristianismo exigente. Devemos viver mais expressamente a santidade de nossas comunidades (a nossa pertença a Deus e a Jesus), por uma prática da caridade digna dos santos e por uma vida espiritual sólida e permanente.  Sobretudo: santidade não é beatice, não é medo de viver. É uma atitude dinâmica, uma busca de pertencer mais a Deus e assemelhar-se  sempre mais a Cristo. Não exige boa aparência!  Desprezar os pobres é desprezar os santos! Mas exige disponibilidade para se deixar atrair por Cristo e entrar na solidariedade dos fiéis de todos os tempos, santificados e unidos por ele.
Do livro “Liturgia Dominical”, de Johan Konings, SJ, Editora Vozes
fonte:
www.franciscanos.org.br

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