12-março-2017 - 2º Domingo da Quaresma - Mt 17,1-9
No segundo Domingo da Quaresma, a Palavra de Deus define
o caminho que o verdadeiro discípulo deve seguir: é o caminho da escuta atenta
de Deus e dos seus projetos, da obediência total e radical aos planos do Pai. O Evangelho relata a transfiguração de Jesus.
Recorrendo a elementos simbólicos do Antigo Testamento, o autor nos apresenta
uma catequese sobre Jesus, o Filho amado de Deus, que vai concretizar o seu
projeto libertador em favor dos homens através do dom da vida. Aos discípulos,
desanimados e assustados, Jesus diz: o caminho da doação da vida não conduz ao
fracasso, mas à vida plena e definitiva. Segui-o, vós também. Na primeira leitura apresenta-se a figura de
Abraão. Abraão é o homem de fé, que vive numa constante escuta de Deus, que
sabe ler os seus sinais, que aceita os apelos de Deus e que lhes responde com a
obediência total e com a entrega confiada. Nesta perspectiva, ele é o modelo do
crente que percebe o projeto de Deus e o segue de todo o coração. Na segunda
leitura, há um apelo aos seguidores de Jesus, no sentido de que sejam, de forma
verdadeira, empenhada e coerente, as testemunhas do projeto de Deus no mundo.
Nada – muito menos o medo, o comodismo e a instalação – pode distrair o
discípulo dessa responsabilidade.
Reflexão:
• A questão fundamental expressa no episódio da
transfiguração está na revelação de Jesus como o Filho amado de Deus, que vai
concretizar o projeto salvador e libertador do Pai em favor dos homens através
da doação da vida, da entrega total de si próprio por amor. Pela transfiguração
de Jesus, Deus demonstra aos crentes de todas as épocas e lugares que uma
existência feita doação não é fracassada – mesmo se termina na cruz. A vida
plena e definitiva espera, no final do caminho, todos aqueles que, como Jesus,
forem capazes de pôr a sua vida ao serviço dos irmãos.
• Na verdade, os homens do nosso tempo têm alguma
dificuldade em perceber esta lógica… Para muitos dos nossos irmãos, a vida
plena não está no amor levado até às últimas consequências (até a doação total
da vida), mas sim na preocupação egoísta com os seus interesses pessoais, com o
seu orgulho, com o seu pequeno mundo particular; não está no serviço simples e humilde em favor
dos irmãos (sobretudo dos mais fracos, dos marginalizados e dos mais
infelizes), mas no assegurar para si próprio uma dose generosa de poder, de
influência, de autoridade e de domínio, que dê a sensação de pertencer à
categoria dos vencedores; não está numa vida vivida como dom, com humildade e
simplicidade, mas numa vida feita um jogo complicado de conquista de honras, de
glórias e de êxitos. Na verdade, onde é que está a realização plena do homem?
Quem tem razão: Deus, ou os esquemas humanos que hoje dominam o mundo e que nos
impõem uma lógica diferente da lógica do Evangelho?
• Por vezes somos tentados pelo desânimo, porque não
percebemos o alcance dos esquemas de Deus; ou então, parece que, seguindo a
lógica de Deus, seremos sempre perdedores e fracassados, que nunca integraremos
a elite dos senhores do mundo e que nunca chegaremos a conquistar o
reconhecimento daqueles que caminham ao nosso lado… A transfiguração de Jesus nos
grita, do alto daquele monte: não desanimeis, pois a lógica de Deus não conduz
ao fracasso, mas à ressurreição, à vida definitiva, à felicidade sem fim.
• Os três discípulos, testemunhas da transfiguração,
parecem não ter muita vontade de “descer à terra” e enfrentar o mundo e os
problemas dos homens. Representam todos aqueles que vivem de olhos postos no
céu, alienados da realidade concreta do mundo, sem vontade de intervir para o
renovar e transformar. No entanto, ser seguidor de Jesus obriga a “regressar ao
mundo” para testemunhar aos homens – mesmo contra a corrente – que a realização
autêntica está na doação da vida; obriga a nos atolarmos no mundo, nos seus
problemas e dramas, a fim de dar o nosso contributo para o aparecimento de um
mundo mais justo e mais feliz. A religião não é um ópio que nos adormece, mas
um compromisso com Deus, que se faz compromisso de amor com o mundo e com os
homens.
A vida é combate. O primeiro ato do ser humano no seu
nascimento é um grito. Ele deverá lutar para viver. Muitos doentes sabem que
devem lutar contra o mal, o sofrimento, o desencorajamento, a lassidão.
Desistir de lutar é sintoma de uma doença que se chama depressão. Podemos lutar
para nos curarmos fisicamente. Podemos lutar para nos mantermos de pé na
provação. A vida espiritual também é um combate. O Senhor é Alguém que se deixa
procurar. Segui-lo supõe, por vezes,
escolhas radicais. Nesta semana, aceitemos conduzir um combate. Não para sermos
os melhores, nem para esmagar os outros, mas para viver e fazer viver. A
vitória neste combate nos é anunciada neste
domingo, em que nos juntamos ao Senhor transfigurado. Mas Ele nos diz que,
antes de ressuscitar, deve passar pelo combate da Paixão. A ressurreição é a
vitória do combate pela vida.
ORAÇÃO
Pai de todos os homens, nós Te damos graças por Abraão, que escolheste e
chamaste para constituir um povo de amigos.
Nós Te suplicamos por todas as famílias da terra: envia-lhes os teus
mensageiros, para que sejam um dia abençoadas no teu Filho.
Deus de vida, nós Te bendizemos pelo teu projeto e pela
tua graça, porque fizeste resplandecer a vida e a imortalidade pelo anúncio do
Evangelho. Tu nos salvaste e nos deste uma vocação santa, apesar da nossa
indignidade. Nós Te pedimos pelos teus servidores que sofrem no anúncio e no
testemunho do Evangelho. Sustenta-os com a força do teu Espírito.
Deus de luz, nós Te damos graças pela transfiguração do
teu Filho, pela alegria e pela felicidade que nos dá a sua presença radiosa. Nós Te pedimos pelo teu povo e pelos teus
fiéis: levanta-nos quando estamos paralisados pelo medo; cura os nossos
corações e os nossos espíritos, para os tornar atentos a escutar o teu Filho.
Estabelece a tua tenda nas nossas casas e nas nossas comunidades, não te
afastes de nós.
Meditação para a
semana. . .
A aventura da fé… “deixa a tua terra…”; “sofre comigo pelo Evangelho…”;
“levou-os, em particular, a um alto monte…” A aventura da fé não nos deixa
qualquer repouso até ao dia em que toda a Criação se prostrará diante do Filho
Bem-Amado.
Cremos verdadeiramente que a nossa pequena parte é
indispensável?
E como fazemos isso?
fonte:
www.dehonianos.org
Nenhum comentário:
Postar um comentário