09-janeiro-2017 - O Batismo do Senhor
A Festa do Batismo do Senhor será celebrada nesse ano na
primeira segunda-feira após o Domingo da Epifania. Com o Batismo do Senhor,
encerra-se o ciclo das Festas da Manifestação do Senhor – o ciclo de Natal. Na
terça-feira após esta festa, iniciaremos a Primeira Semana do Tempo Comum, que,
nesse início de ano, irá até a Terça-feira antes da Quaresma.
Comemoramos nesta festa a manifestação de Jesus como o
Filho Amado, cheio do Espírito Santo, que veio para salvar a todos, e o início
de sua vida pública. Isso acontece logo após o Batismo de Jesus por São João
Batista nas águas do rio Jordão. Sem ter mancha alguma que purificar, Jesus
quis submeter-se a esse rito, tal como se submetera às demais observâncias
legais que também não O obrigavam. João chamava as pessoas à penitência para
preparar a vinda do Messias. Ele foi o precursor.
O Senhor desejou ser batizado, diz Santo Agostinho, “para
proclamar com a sua humildade o que para nós era uma necessidade”. Com o
batismo de Jesus, ficou preparado o Batismo cristão, diretamente instituído por
Jesus Cristo e imposto por Ele como lei universal no dia da sua Ascensão: Todo
poder me foi dado no Céu e na Terra, dirá o Senhor; ide, pois, ensinai a todos
os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo (Mt 28,
18-19).
Por isso, junto com a bela manifestação da Trindade e da
Missão de Jesus, esta festa nos faz refletir sobre a nossa vida batismal. A
partir do Batismo, o cristão passa a fazer parte de um povo, e a Igreja
apresenta-se como a verdadeira família dos filhos de Deus. O Batismo é a porta
por onde se entra na Igreja. Em virtude do Batismo, somos chamados a ser
discípulos e missionários de Jesus Cristo. Como diz o Documento de Aparecida nº
209: “Os fiéis leigos são os cristãos que estão incorporados a Cristo pelo
batismo que formam o povo de Deus e participam das funções de Cristo:
sacerdote, profeta e rei. Realizam, segundo a sua condição, a missão de todo o
povo cristão na Igreja e no mundo. São homens da Igreja no coração do mundo e
homens do mundo no coração da Igreja”.
Às margens do Jordão, Jesus foi ungido com o Espírito
Santo como o Messias, o Cristo, Aquele que as Escrituras prometiam e Israel
esperava. Agora, Ele irá começar publicamente a missão de anunciar e inaugurar
o Reino de Deus. Esta missão ele começou desde que Se fez homem por nós; agora,
no entanto, vai manifestar-Se publicamente a Israel e a toda a humanidade. É na
força do Espírito Santo que Ele pregará, fará seus milagres, expulsará Satanás
e inaugurará o Reino; é na força do Espírito que Ele viverá uma vida de total e
amorosa obediência ao Pai e doação aos irmãos até a morte, e morte de cruz.
Podemos fazer um paralelo de Isaías 42, do Servo sofredor
com Jesus. Jesus, que é o Filho, é também o Servo sofredor anunciado por Isaías.
Hoje, o Pai revela a Jesus qual o modo, qual o caminho que Ele deve seguir para
ser o Messias como Deus quer: na pobreza, na humildade, no despojamento, no
serviço! É assim que o Reino de Deus será anunciado no mundo. Jesus deverá ser
manso: “Ele não clama nem levanta a voz, nem se faz ouvir pelas
ruas”. Deve ser cheio de misericórdia para com os pecadores, os fracos, os
pobres, os sem esperança: “Não quebra a cana rachada nem apaga um pavio
que ainda fumega”. Ele irá sofrer, será tentado ao desânimo, mas colocará
no seu Deus e Pai toda a sua esperança, toda a sua confiança: “Não
esmorecerá nem se deixará abater, enquanto não estabelecer a justiça na Terra”.
O Senhor Deus estará sempre com Ele e Ele veio não somente para Israel, mas
para todas as nações da Terra: “Eu, o Senhor, te chamei para a justiça e
te tomei pela mão; eu te formei e te constituí como aliança do povo, luz das
nações, para abrires os olhos aos cegos, tirar os cativos da prisão, livrar do
cárcere os que vivem nas trevas”.
O batismo de João não é o Sacramento do Batismo: era
somente um sinal exterior de que alguém se reconhecia pecador e queria
preparar-se para receber o Messias. Ao ser batizado no Jordão, Jesus é ungido
com o Espírito Santo para a missão. Esta unção será plena na ressurreição,
quando o Pai derramará sobre Ele o Espírito como vida da sua vida. Então Ele,
pleno do Espírito Santo que O ressuscitou, derramará este Espírito, que será
também seu Espírito, sobre nós, dando-nos uma nova vida! Os cristãos são
batizados na água e no Espírito (cf. Jo 3,5; 7,37-39). Ao sermos batizados,
recebemos o Espírito Santo de Jesus e, por isso, somos participantes de Sua
missão de viver, testemunhar e anunciar o Reino de Deus, a Vida eterna, a Vida
no amor a Deus e aos irmãos, que Jesus veio anunciar ao Se fazer homem igual a
nós! O testemunho é dado na simplicidade, na pobreza e na humildade do dia a
dia!
Portanto, no Batismo está em jogo um bem infinitamente
maior do que qualquer outro: a Graça e a Fé; a salvação eterna! Só por
ignorância e por uma fé adormecida se pode explicar que muitas crianças sejam
privadas pelos seus próprios pais, já cristãos, do maior dom da sua vida.
Recordemos também a importância da Iniciação Cristã em nossas comunidades.
Fazendo um itinerário batismal, teremos pessoas mais conscientes de sua missão
e identidade. Esse caminho trilhado pela Igreja, e agora mais incrementado,
deve ser uma oportunidade de, aproveitando a conclusão do Tempo do Natal,
darmos passos em nossos trabalhos paroquiais para que a iniciação cristã seja
uma realidade que nos ajude a encontrar o Senhor Jesus, tornarmo-nos seus
discípulos e, consequentemente, anunciá-Lo ao mundo pela vida, testemunho e
palavra.
Cardeal Orani João
Tempesta
fonte:
www.arqrio.org
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