08-janeiro-2017 - Solenidade da Epifania do Senhor
1ª Leitura: Is 60, 1-6; 2ª Leitura: Ef 3, 2-3ª.5-6; Evangelho: Mt 2, 1-12
Onde a Estrela
parou
A Epifania marca a fase final do ciclo natalino
[Historicamente, a festa da Epifania (6 de janeiro) é a data do
Natal no Oriente. Mas a Igreja ocidental (latina), que celebrava o
Natal no dia 25 de dezembro, conservou a data de hoje com o nome
de Epifania, tornando-se um sinal de unidade entre a Igreja oriental
e a ocidental.]. Celebra a manifestação (epifania, em grego) de
Deus ao mundo, na figura dos reis magos que, representando o mundo
inteiro, vão adorar o menino Jesus em Belém. A liturgia retoma o tema da luz - luz
que brilha não só para o povo oprimido de Israel (como na 1ª leitura da noite
de Natal), mas para todos os povos, segundo a visão do profeta universalista
que escreveu o fim do livro de Isaías (1ª leitura). Jerusalém, restaurada
depois do exílio babilônico, é vista como o centro para o qual convergem as
caravanas do mundo inteiro. Essa visão recebe um sentido pleno quando reis
astrólogos do oriente procuram o messias nascido de Davi – nos arredores de
Jerusalém, em Belém, cidade de Davi (evangelho). A 2ª leitura comenta, mediante
o texto de Ef 3, 2-6, esse fato como revelação do mistério de Deus também para
os pagãos.
Toda a liturgia de hoje é permeada pelo sentido universal
da obra de Cristo. Mas para não cairmos no universalismo abstrato e global das
grandes declarações internacionais, que nunca chegam até o chão, encontramos
aqui, como na festa da Mãe de Deus, a inserção bem concreta de Jesus num ponto
“parcial” da humanidade. Mesmo não sendo a menor das principais cidade de Judá
(Mt 2,6), Belém não passa de um povoado que os magos nem sequer encontram no
mapa. E, contudo, nesse momento, é o centro do inundo, assim como Ezequiel, por
volta de 580 a.C., chama a aparentemente insignificante terra de Israel de
“umbigo da terra” (Ez 38,12). O ponto por onde passa a salvação não precisa ser
grandioso.
Belém representa a comunidade-testemunha, não o império
oficial do poderoso Herodes. É centro do mundo, não para si mesma, mas para
quem procura o agir de Deus. Não em Roma, nem na Jerusalém de Herodes, mas na
Belém do presépio é que a estrela parou. Para mostrar que não depende do poder
humano, Deus se manifesta no meio dos pobres, no Jesus pobre.
Adorar Deus no
Menino Jesus
Quando celebramos, no dia 6 de janeiro ou no domingo
seguinte, a festa dos Reis Magos, as ocupações do turismo impedem muitos de
contemplar o sentido desta festa. Mesmo assim, vale a pena
dedicar-lhe nossa atenção, pois não é uma festa meramente folclórica.
O nome oficial da festa dos Reis Magos, “Epifania”,
significa manifestação ou revelação. Contemplamos o paradoxo da grandeza divina
e da fragilidade da criança no menino Jesus. Pensamos nos milhões de crianças
abandonadas nas ruas de nossas cidades, destinadas à droga, à prostituição.
Outras milhões mortais pela fome, doença, guerra,
aborto. Órgãos extraídos, fetos usados para produzir células que devem
rejuvenecer velhos ricaços… Qual é o valor de uma criança? Os “magos” – astrólogos vindos do Oriente –
seguiram o caminho da estrela para adorar um menino do qual não sabiam nome nem
paradeiro (evangelho). Como os reis anunciados pelo “terceiro Isaías” (1ª
leitura), trazem de longe suas riquezas, para apresenta-las ao menino Jesus.
Essa narração quer nos ensinar que Jesus é aquele que merece adoração
universal, o Messias. E acena também à missão da Igreja, de anunciar a salvação
universal (2ª leitura). A estrela
conduziu os magos a uma criança pobre, que não tinha nada de sensacional. Mas o
rei Herodes, cioso de seu poder, pensou que Jesus fosse poderoso e, portanto,
perigoso. Esse rei, que tinha mandado matar seus próprios filhos e sua mulher
Mariamne, mandou, para que Jesus não lhe escapasse, matar todos os meninos de
Belém. Deus se manifesta ao mundo numa
criança, e nós somos capazes de mata-la, em vez de reconhecer nela a luz de Deus.
Por que Deus se manifestou numa criança? Esquisitice, para nos enganar? Nada
disso. Salvação significa ser libertado dos poderes tirânicos que nos
escravizam, para realizar a liberdade que nos permite amar. Pois para amar é
preciso ser livre, agir de graça, não por obrigação nem por cálculo. Por isso,
a salvação que vem de Deus não se apresenta como poder opressor, como o de
Herodes. Apresenta-se como antipoder, como uma criança aparentemente sem valor. Aqui, no início do evangelho de Mateus, a salvação
universal manifesta-se numa criança; no fim dos ensinamentos de Jesus, o
critério do juízo final será a caridade gratuita realizado ao pequenino (Mt 25,
31-46). O pequenino de Belém é venerado como rei, e no fim do evangelho, esse
“rei” (25,34) julgará o universo, identificando-o com os mais pequeninos: “O
que fizestes a um desses mais pequenos, que são meus irmãos, a mim o fizestes”
(25,40). Quanta lógica em tudo isso! Deus
não precisa de nos esmagar com seu poder para se manifestar. Nem precisa do
palco de uma TV mundial para se dar a conhecer. Para ser universal, prefere o
pequeno, pois só quem vai até os pequenos e os últimos é realmente universal.
Falta-nos a capacidade de reconhecer no frágil, naquele que o mundo procura
excluir, o absoluto de nossa vida – Deus. Eis a lição que os reis magos nos
ensinam.
fonte:
www.franciscanos.org
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