20-novembro-2016 - Solenidade de Nosso Senhor Jesus
Cristo, Rei do Universo-Lc 23,35-43
A Palavra de Deus, neste último domingo do ano litúrgico,
nos convida a tomar consciência da realeza de Jesus. Deixa claro, no entanto,
que essa realeza não pode ser entendida à maneira dos reis deste mundo: é uma
realeza que se exerce no amor, no serviço, no perdão, na doação da vida. A primeira leitura nos apresenta o momento em
que David se tornou rei de todo o Israel. Com ele, iniciou-se um tempo de
felicidade, de abundância, de paz, que ficou na memória de todo o Povo de Deus.
Nos séculos seguintes, o Povo sonhava com o regresso a essa era de felicidade e
com a restauração do reino de David; e os profetas prometeram a chegada de um
descendente de David que iria realizar esse sonho. O Evangelho nos apresenta a realização dessa promessa: Jesus
é o Messias/Rei enviado por Deus, que veio tornar realidade o velho sonho do
Povo de Deus e apresentar aos homens o “Reino”; no entanto, o “Reino” que Jesus
propôs não é um Reino construído sobre a força, a violência, a imposição, mas
sobre o amor, o perdão, a doação da vida.
A segunda leitura apresenta um hino que celebra a realeza e a soberania
de Cristo sobre toda a criação; além disso, põe em relevo o seu papel
fundamental como fonte de vida para o homem.
Reflexão:
Na colina do Gólgota, os chefes zombam… os soldados
troçam… um soldado injuria Jesus… Até ao fim Jesus encontrará a oposição e a
incompreensão. A sua mensagem era perturbadora, o seu testemunho provocador, o
seu rosto desfigurado, mesmo Deus parecia tê-lo abandonado… É um malfeitor que
reconhece no seu companheiro de infelicidade, também perto de morrer, o Rei de
um outro Reino em que a única defesa é a do Amor. Então, vira-se para Jesus, de
quem deve ter ouvido falar do seu Reino, e pede-Lhe somente para Se recordar
dele quando vier inaugurar este Reino. Ora, a hora chegou, é hoje que estará
com Ele no Paraíso. Aquele que foi malfeitor sobre a terra torna-se benfeitor
no Reino, é isso a salvação. Isso se passou na colina do Gólgota, numa certa
sexta-feira da história…
• Celebrar a Festa de Cristo Rei do Universo não é
celebrar um Deus forte, dominador que Se impõe aos homens do alto da sua onipotência
e que os assusta com gestos espetáculares; mas é celebrar um Deus que serve,
que acolhe e que reina nos corações com a força desarmada do amor. A cruz –
ponto de chegada de uma vida gasta construindo o “Reino de Deus” – é o trono de
um Deus que recusa qualquer poder e escolhe reinar no coração dos homens
através do amor e da doação da vida.
• À Igreja de Jesus ainda falta alguma coisa para
interiorizar a lógica da realeza de Jesus. Depois dos exércitos para impor a
cruz, das conversões forçadas e das fogueiras para combater as heresias,
continuamos mantendo estruturas que nos
equiparam aos reinos deste mundo… A Igreja, corpo de Cristo e seu sinal no
mundo, necessita que o seu Estado com território (ainda que simbólico) seja
equiparado a outros Estados políticos? A Igreja, esposa de Cristo, necessita de
servidores que se comportam como se fossem funcionários superiores do império?
A Igreja, serva de Cristo e dos homens, necessita de estruturas que funcionam,
muitas vezes, apenas segundo a lógica do mercado e da política? Que sentido é
que tudo isto faz?
• Em termos pessoais, a Festa de Cristo Rei nos convida,
também, a repensar a nossa existência e os nossos valores. Diante deste “rei”
despojado de tudo e pregado numa cruz, não nos parecem completamente ridículas
as nossas pretensões de honras, de glórias, de títulos, de aplausos, de
reconhecimentos? Diante deste “rei” que dá a vida por amor, não nos parecem
completamente sem sentido as nossas manias de grandeza, as lutas para
conseguirmos mais poder, as invejas mesquinhas, as rivalidades que nos magoam e
separam dos irmãos? Diante deste “rei” que se dá sem guardar nada para si, não
nos sentimos convidados a fazer da vida uma doação?
Na oração do Pai Nosso, Jesus nos faz pedir, e reza conosco:
“Não nos deixeis cair em tentação”. De fato, Jesus foi submetido à tentação e
resistiu. A este propósito, Lucas dá uma estranha explicação, dizendo que o
diabo afastou-se de Jesus até ao momento fixado. Este momento é quando Jesus é
pregado na cruz. No deserto, o diabo tinha dito: “Se és o Filho de Deus…” Agora
Jesus ouve: “Não és Tu o Messias? Salva-Te a Ti mesmo e a nós também”. É a
mesma tentação: se Jesus é verdadeiramente o Messias, o Filho de Deus, deve
dispor de toda a onipotência de Deus. Então, que utilize este mesmo poder para
cumprir um último milagre e despegar-Se da cruz. Até os seus inimigos ficariam
confundidos. Mas Jesus resistiu. É porque algo de sumamente importante está em
jogo. Trata-se, uma vez mais, do verdadeiro rosto de Deus que Jesus veio
revelar. Não um Deus todo-poderoso à maneira dos homens, mas um Deus Pai que só
pode fazer uma coisa: amar, amar os seus inimigos, ainda e sempre, mesmo quando
eles O rejeitam e crucificam o seu Filho bem-amado. Ora, se esta tentação
acompanhou Jesus até à cruz, não é de admirar que ela acompanhe sempre os seus
discípulos, que a própria Igreja não lhe escape! Na cruz, Jesus, o Rei, exerce
outro poder, outra realeza. Não utiliza um poder à maneira do mundo. O segundo
malfeitor, que chamamos de “bom ladrão”, só pede uma coisa a Jesus: que Se
lembre dele no seu Reino. O que ele pede não é que o livre da morte iminente, a
mesma de Jesus! É que, depois da morte, Jesus Se lembre dele. Simplesmente,
diz: “Jesus, preciso de ti”. É um grito de pobreza. Então Jesus diz-lhe: “Em
verdade te digo: Hoje estarás comigo no Paraíso”. E o assassino tornou-se o
primeiro homem a entrar com Jesus no Reino do Pai. Aí está o verdadeiro, o
único poder de Jesus.
Meditação para a semana…
Levar a Palavra de Deus como luz para mais uma semana de trabalho, de estudo…
Ao longo dos dias da semana que se segue, procurar rezar e meditar algumas
frases da Palavra de Deus: “Vamos com alegria para a casa do Senhor”…;
“Deus Pai libertou-nos do poder das trevas…
transferiu-nos para o reino do seu Filho muito amado, no qual temos a redenção,
o perdão dos pecados”…;
“Jesus, lembra-Te de Mim, quando vieres com a tua
realeza”…
Procurar transformar as palavras de Deus em atitudes e em
gestos de verdadeiro encontro com Deus e com os próximos que formos encontrando
nos caminhos percorridos da vida…
fonte:
www.dehonianos.org
Nenhum comentário:
Postar um comentário