06-novembro-2016-
Solenidade de Todos os Santos
A solenidade de Todos os Santos, costume que vem já
do séc. IX para toda a Igreja.
“Alegremo-nos todos no
Senhor e celebremos festivamente este dia em honra de Todos os Santos…”
É realmente uma festa de família para o Povo de Deus.
É a festa da esperança. O pensamento do céu, nossa verdadeira
pátria, (cfr. Heb 13, 14) dá mais seriedade aos nossos
pensamentos e traz mais calma para as nossas penas fazendo-nos viver na
intimidade dos que vivem no além a quem rezamos e que por nós oram.
Evangelho: São Mateus 5, 1-12ª
Reflexão:
As bem-aventuranças, expressas na terceira pessoa
do plural, têm em Mateus um caráter solene e universal, para todas as pessoas e
para todos os tempos. Elas condensam a grande novidade do Evangelho, em
contraste flagrante com o próprio pensamento religioso judaico então vigente,
para já não falarmos do espírito mundano, hedonista do paganismo de
então e do de agora. Elas não são expressão de uma «ética dos fracos», mas,
pelo contrário, de um ideal de vida para almas fortes e generosas. As
bem-aventuranças correspondem a uma ética que, quando vivida a sério, é capaz
de renovar as pessoas e a sociedade, como o demonstra a vida de todos os
santos.
«Bem-aventurados». Esta
tradução (em vez de «felizes») firma a ideia de que o Senhor promete a
felicidade na bem-aventurança eterna e, ao mesmo tempo, já nesta
vida, ao dizê-la do presente: «deles é»(não diz «deles será»). As
bem-aventuranças são o mais surpreendente código de felicidade, e não se trata
de uma felicidade qualquer: é uma felicidade incomparável, interior e profunda,
embora ainda não possuída de modo perfeito e completo na vida terrena.
«Os pobres em
espírito». «No Antigo Testamento, o pobre está já delineado não
só como uma situação econômico-social, mas como um valor religioso muito
elaborado: é pobre quem se apresenta diante de Deus com uma atitude
humilde, sem méritos pessoais, considerando a sua realidade de homem pecador,
necessitado do perdão divino, da misericórdia de Deus para ser salvo. Daí que,
além de viver com uma sobriedade e uma austeridade de vida reais, efetivas, ele
aceita e quer tais condições de pobreza não como algo imposto pela necessidade,
mas voluntariamente, com afeto (…). A “explicação” de Mateus, em
espírito, sublinha a exigência dessa mesma pobreza: não é pobre em
espírito quem só o é obrigado pela sua situação econômico-social, mas sim quem,
além disso, é pobre querendo essa pobreza de modo voluntário (…). Esta atitude
religiosa de pobreza está muito relacionada com a chamada infância espiritual.
O cristão considera-se diante de Deus como um filho pequeno que não tem nada
como propriedade; tudo é de Deus, o seu Pai, e a Ele lho deve. De qualquer
modo, a pobreza em espírito, isto é, a pobreza cristã, exige o desprendimento
dos bens materiais e uma austeridade no uso deles».
«Os humildes».
A tradução preferiu um termo mais suave do que «os mansos», que são os que
sofrem serenamente e sem ira, ódio ou abatimento, as perseguições injustas e as
contrariedades. De fato só os humildes são capazes da virtude da mansidão, pois
não dão muita importância a si próprios. A «terra» é a nova terra
prometida, isto é, o Céu.
«Os que
choram», isto é, os aflitos, e muito particularmente os que têm o
coração cheio de mágoa por terem ofendido a Deus e que, com vontade de
reparação, choram e deploram os seus pecados.
«Fome e sede
de justiça». A ideia de justiça na Sagrada Escritura é uma
ideia de natureza religiosa: justo é aquele que cumpre a vontade de Deus,
e justiça corresponde a santidade, vocação a que todos são chamados.
«Os puros de
coração» são, em geral, os que têm uma intenção reta, os que são
capazes de um amor puro, limpo e nobre, os que têm um olhar reto e são; está,
portanto, englobada a castidade, mas não é só ela a ser referida aqui.
«Os que promovem a
paz» (uma tradução mais expressiva do que os pacíficos) são
os que promovem a paz entre os homens e dos homens com Deus, fundamento sério
de toda a paz no mundo.
Santos Anônimos
São milhares e milhares de pessoas em múltiplas atividades
de voluntariado, nos hospitais, nas prisões, nos bairros degradados, junto dos
sem-teto, dos que vivem sós, em suas casas ou nos asilos.
Heróis anônimos são também as mães que se levantam muito
cedo para levar os filhos à creche e deixar as refeições preparadas em casa,
porque só vão regressar, à tardinha, depois de uma extenuante jornada de
trabalho. São os pais que se desdobram numa luta pelo emprego, que já não está
fácil, inventando, aqui e ali, alternativas para equilibrar os seus magros
orçamentos. São os jovens, que resistindo ao facilidades e à civilização
do prazer efêmero e do «deixa correr, que tudo isto é para gastar e gozar» se esforçam
por fazerem o que a consciência lhes dita, por ser fiéis aos valores familiares
e cristãos que os seus antepassados lhes legaram.
São os pescadores que todas as noites buscam no mar o pão
de cada dia, indiferentes aos perigos que os cercam. São os agricultores que
suportam as inclemências do tempo e tiram da terra, com suor e lágrimas, os
alimentos de que todos precisamos.
São os condutores de veículos coletivos que sem liberdade para as suas divagações, se
vergam com a responsabilidade de milhares de vidas nas suas costas. São os policiais
chamados a acudir a quem precisa, não sabendo que perigos escondem para si, a
escuridão e a maldade dos outros.
São os médicos e enfermeiros que velam no silêncio de um hospital
qualquer , à disposição de um pedido de ajuda. São também, milhares de homens e
mulheres, com nome e rosto, de carne e osso como nós, com um futuro material
risonho à sua frente, mas que, renunciam à família, ao dinheiro e ao
protagonismo social para serem servos de todos, impulsionados pela sua fé
sincera em Deus e em Jesus Cristo encarnado no outro, naquele que está ao nosso
lado e que se descobre sempre como um irmão que importa ajudar hoje, com atos
concretos de heroísmo, e não com piedosos sentimentos de compaixão.
Lembramos ainda,
com acentuado toque de gratidão, no rol dos heróis anônimos, os dedicados e
sacrificados professores, voltados à tarefa espinhosa (diríamos até de alto
risco) de educar crianças e jovens, com as suas travessuras e rebeldias, na rotina diária das nossas escolas;
os muitos clérigos e religiosos a trabalhar em Instituições da igreja, que
testemunham, com modelares obras de
solidariedade social, o verdadeiro humanismo cristão, acolhendo e tratando, com
muito amor, com dedicação extrema, aqueles que a família e a sociedade lhes
confiam, nos Asilos, nos Centros de Recuperação, nos Jardins de
Infância ou nos Hospitais.
Afinal, este nosso mundo, não é assim tão mau como, às
vezes o pintam. O mal, porque é uma anormalidade, vem mais vezes, nos
noticiários que nos entram em casa a toda a hora.
Mas o bem, desinteressado e heroico, praticado por gente
de todas as idades, em cada dia que passa, é igualmente uma consoladora
realidade, provando que Deus não
abandona as suas criaturas.
ORAÇÃO :
Deus eterno e onipotente, que nos concedeis a graça de
honrar numa única solenidade os méritos de Todos os
Santos, dignai-Vos derramar sobre nós, em atenção a tão numerosos
intercessores, a desejada abundância da vossa misericórdia. Por Nosso Senhor…
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