2 Novembro 2016 - Comemoração de Todos os fiéis Defuntos
A Igreja, acolhendo uma tradição monástica que vem do
século XI, dedica o dia 2 de Novembro à memória dos fiéis defuntos. Depois de
ter celebrado a glória e a felicidade dos Santos, no dia 1 de Novembro, a
Igreja dedica o dia 2 à oração de sufrágio pelos “irmãos que adormeceram na
esperança da ressurreição”. Assim fica perfeita a comunhão de todos os crentes
em Cristo.
Primeira leitura: Jó 19, 1.23-27ª ; Segunda leitura: Romanos 5, 5-11; Evangelho:
João 6, 37-40
Meditação:
O silêncio é a melhor atitude perante a morte.
Introduzindo-nos no diálogo da eternidade e nos revelando a linguagem do amor, nos
põe em comunhão profunda com esse mistério imperscrutável. Há um laço muito
forte entre os que deixaram de viver no espaço e no tempo e aqueles que ainda
vivem neles. É verdade que o desaparecimento físico dos nossos entes queridos
nos causa grande sofrimento, devido à intransponível distância que se
estabelece entre eles e nós. Mas, pela fé e pela oração, podemos experimentar
uma íntima comunhão com eles. Quando parece que nos deixam, é o momento em que
se instalam mais solidamente na nossa vida, permanecem presentes, fazem parte
da nossa interioridade. Encontramo-los na pátria que já levamos no coração, lá
onde habita a Santíssima Trindade. São Paulo nos encoraja a vivermos positivamente o
mistério da morte, confrontando-nos com ela todos os dias, aceitando-a como lei
de natureza e de graça, para sermos progressivamente despojados do que deve
perecer até nos vermos milagrosamente transformados no que devemos ser. Deste
modo, a “morte quotidiana” revela-se um nascimento: o lento declínio e o
pôr-do-sol tornam-se aurora luminosa. Todos os sofrimentos, canseiras e
tribulações da vida fazem parte desta “morte quotidiana” que nos levará à vida
imortal. Havemos de viver fixando os olhos na bem-aventurada esperança, confiando
na fidelidade do Senhor, que nos prometeu a eternidade. Vivendo assim, quando
chegar ao termo desta vida, não veremos descer as trevas da noite, mas veremos
erguer-se a aurora da eternidade, onde teremos a alegria de nos sentir uma só
coisa com o Senhor. Depois de muitas tribulações, seremos completamente seus, e
essa pertença será plena bem-aventurança na visão do seu rosto. Para o cristão, o sofrimento é um tempo de “disponibilidade pura”, de “pura
oblação” e, ao mesmo tempo, uma forma eminente de apostolado, em união a Cristo
vítima, na comunhão dos santos, para salvação do mundo. Vivendo assim,
prepara-se, assim, para o supremo ato de oblação, para o último apostolado, o
da morte: configurados “a Cristo na morte”.Se a morte de Cristo na Cruz é o ato
de apostolado mais eficaz, que remiu o mundo, o mesmo se pode dizer da morte do
cristão em união com a morte de Cristo. Não se quer com isto dizer que, sob o
ponto de vista humano, a morte do cristão deva ser uma “morte bonita”, tal como
não foi bonita, com certeza, a morte de Cristo aos olhos dos homens. Foi, pelo
contrário, uma “liturgia esquálida”, de abandono e de desolação. O importante é
que seja uma morte “para Cristo e em Cristo” (S. Inácio de Antioquia). Imolados
com Ele, com Ele ressuscitaremos.
Se, na humildade do dia a dia, vivemos a nossa oblação-imolação com Cristo,
oblato e imolado pela salvação do mundo, estamos preparados para o último
apostolado da nossa vida: a oblação-imolação da nossa morte, o extremo
sacrifício, consumado pelo fogo do Espírito, como aconteceu na morte de Cristo
na cruz: “Por um Espírito eterno ofereceu a Si mesmo sem mancha, a Deus”. A
morte é, então, a nossa última oferta, o momento da suprema, pura oblação: “Se
morrermos com Ele, com Ele viveremos”.
Oração
Senhor, quero hoje rezar por aqueles que desapareceram no
mistério da morte. Dá o descanso àqueles que expiam, luz aos que esperam, paz
aos que anseiam pelo teu infinito amor. Descansem em paz: na paz do porto
seguro, na paz da meta alcançada, na tua paz, Senhor. Vivam no teu amor aqueles
que amaste, aqueles que me amaram. Não esqueças o bem que me fizeram, o bem que
fizeram a outros. Esquece todo o mal que praticaram, risca-o do teu livro. Aos
que passaram pela dor, àqueles que parecem ter sido imolados por um iníquo
destino, revela, com o teu rosto, os segredos da tua justiça, os mistérios do
teu amor. Concede-me aquela vida interior que permite comunicar com o mundo
invisível em que se encontram os nossos defuntos: esse mundo fora do tempo e do
espaço, esse mundo que não é lugar, mas estado, e mundo que não está longe de
mim, mas à minha volta, esse mundo que não é de mortos, mas de vivos. Amém.
Contemplação
O amor ultrapassa o temor e a esperança. O amor não
destrói o temor nem a esperança, mas retira-lhes o que o amor-próprio lhe pode
misturar de visões mercenárias. O amor não conhece habitualmente outro temor
senão o temor filiar, isto é, o medo de desagradar a um Pai bem-amado. Sendo
filho do amor, este temor é de uma atenção e delicadeza totalmente diferentes
do medo da justiça divina e dos seus castigos. Leva a evitar as mínimas faltas,
as mais pequenas imperfeições
voluntárias. Em vez de comprimir e de gelar o coração, alarga-o e aquece-o. Não
causa nenhuma perturbação, nenhum alarme; e mesmo quando escapa alguma falta,
reconduz docemente a alma ao seu Deus através de um arrependimento tranquilo e
sincero. Procura acalmar-se e reparar abundantemente da mágoa que se lhe pôde
causar. De resto, não se inquieta nem perde a confiança. O amor tira também à
esperança o que ela tem de mais pessoal. Aquele que ama não sabe outra coisa
senão contar com Deus, nem fazer boas obras principalmente com o objetivo de
acumular méritos; e por este nobre desinteresse, merece incomparavelmente mais.
Esquecendo tudo o que fez por Deus, não pensa noutra coisa senão em fazer ainda
mais. Não se apoia sobre si mesmo; visa a recompensa celeste menos sob o título
de recompensa do que como uma garantia de amar o seu Deus com todas as suas
forças e de ser por Ele amado durante a eternidade. Sem excluir a esperança,
que lhe é natural, considera a felicidade mais do lado do bom agrado do seu
Deus e da sua glória que lhe pertence do que do lado do seu próprio interesse.
E quando o amor está no seu ponto mais elevado de perfeição, estaria disposto a
sacrificar a sua felicidade própria à vontade divina, se exigisse dele este
sacrifício. Coloca a sua felicidade no cumprimento desta vontade. O coração dos
Santos atingiu mesmo sobre a terra este grau de pureza. É a disposição dos
bem-aventurados no céu. É preciso, portanto, que o amor seja purificado a este
grau neste mundo, ou no outro pelas penas do purgatório. Há, portanto, que
deliberar sobre esta escolha? E quando a via do amor não tivesse outra vantagem
senão a de nos isentar do purgatório ou de lhe abreviar consideravelmente a
duração, poderíeis hesitar em abraçá-la? (Leão Dehon, OSP 2, p. 16s.).
Repete frequentemente e vive a palavra:
«Dai-lhes, Senhor, o eterno descanso, entres os esplendores da luz perpétua. Fazei que descansem em paz. Amém.»
«Dai-lhes, Senhor, o eterno descanso, entres os esplendores da luz perpétua. Fazei que descansem em paz. Amém.»
fonte:
www.dehonianos.org
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