24-abril-2016 - 05º Domingo do tempo Pascal – Jo 13,31-33a.34-35
O tema fundamental da
liturgia deste domingo é o do amor:
o que identifica os seguidores de Jesus é a capacidade
de amar até a doação total da vida. No Evangelho,
Jesus se despede dos seus discípulos e
deixa-lhes em testamento o “mandamento novo”: “amai-vos uns aos outros,
como Eu vos amei”. É nessa entrega radical da vida que se cumpre a vocação
cristã e que se dá testemunho no mundo do amor materno e paterno de Deus. Na primeira
leitura apresenta-se a vida dessas comunidades
cristãs chamadas a viver no amor. No meio das
vicissitudes e das crises, são comunidades fraternas, onde os irmãos se ajudam,
se fortalecem uns aos outros nas dificuldades, se amam e dão testemunho do amor
de Deus. É esse projeto que motiva Paulo e Barnabé e é essa proposta que
eles levam, com a generosidade de quem ama, aos confins
da Ásia Menor. A segunda leitura nos apresenta a meta
final para onde caminhamos: o novo céu e a nova terra, a realização da
utopia, o rosto final dessa comunidade de chamados a viver no amor.
Reflexão:
“Dou-vos um mandamento novo: que vos ameis uns
aos outros”. Que bela novidade! Como se fosse Jesus a inventar o amor! Os
homens e as mulheres não esperaram que Jesus viesse para saber um pouco o
sentido da palavra “amor” e do verbo “amar”! Aliás, o mandamento de “amar
o seu próximo como a si mesmo” encontra-se já no Livro do Levítico. Então,
como compreender esta “novidade”? O próprio Jesus nos dá a chave: “Como Eu vos
amei, amai-vos também uns aos outros”. Só olhando Jesus saberemos como Ele nos
amou. A sua própria vida é uma prática desta palavra. E isto vai para além
daquilo que, humanamente, podemos fazer. Ele nos diz para perdoar setenta vezes
sete, isto é, sem colocar qualquer limite ao perdão. “Amai os vossos
inimigos e rezai pelos vossos perseguidores”… “Pai, perdoai-lhes porque não
sabem o que fazem”… São João escreve que “tendo amado os seus que estavam no
mundo, amou-os até ao fim”, isto é, até à plenitude do amor cuja Fonte é o seu
Pai. Sim, a maneira de Jesus nos amar ultrapassa a nossa maneira de amar. Neste
sentido, o amor que Ele nos convida a viver entre nós é mesmo novo! Mas há
mais! Porque as exigências de um tal amor podem
parecer desmedidas, fora do nosso alcance,
e deixar-nos no desespero: nunca chegaremos aí! Ora, é preciso compreender
bem o “como Eu vos amei”. Jesus não nos diz: “Eu amei-vos. Agora, desembaraçai-vos,
esforçai-vos para Me imitar!” Ele nos diz: “Como Eu, que
vos amo e vos dou o amor infinito do Pai, deixai-vos amar, como uma criança que
se deixa tomar nos braços da sua mãe e do seu pai. Vinde até Mim. Àquele que
vem até Mim, não o abandonarei. Então, poderei derramar sobre vós a força
do próprio Amor que é Deus. Assim, encontrareis a força para ir para além das
capacidades humanas, podereis, dia após dia, aprender a amar-vos como Eu vos
amo”. Sim, Senhor, quero ir para junto de Ti, porque tens as palavras da vida
eterna!
♦ A proposta
cristã resume-se no amor. É o amor
que nos distingue, que nos identifica; quem não
aceita o amor, não pode ter qualquer pretensão de integrar a comunidade de
Jesus. O que é que está no centro da nossa experiência cristã? A nossa religião
é a religião do amor, ou é a religião das leis, das exigências, dos ritos
externos? Com que força nos impomos no mundo – a força do amor, ou a força da
autoridade prepotente e dos privilégios?
♦ Falar de
amor hoje pode ser equívoco… A palavra “amor” é, tantas vezes, usada para
definir comportamentos egoístas, interesseiros, que usam o outro, que fazem
mal, que limitam horizontes, que roubam a liberdade… Mas o amor de que Jesus
fala é o amor que acolhe, que se
faz serviço, que respeita a dignidade
e a liberdade do outro, que não discrimina nem marginaliza, que se
faz doação total (até à morte) para que o outro tenha mais vida. É este o amor
que vivemos e que partilhamos?
♦ Por um
lado, a comunidade de Jesus tem que testemunhar, com gestos concretos, o amor
de Deus; por outro, ela tem que demonstrar que a utopia é possível e que os
homens podem ser irmãos. É esse o nosso testemunho de comunidade cristã ou religiosa? Nos
nossos comportamentos e atitudes uns para
com os outros, os homens descobrem a presença do
amor de Deus no mundo? Amamos mais do que os outros e
interessamo-nos mais do que eles pelos
pobres e pelos que sofrem?
Antes de conhecer a humilhação da sua Paixão e da
sua morte, Jesus faz perceber aos seus discípulos o peso, a glória da sua vida.
Ele passou fazendo o bem, só pregou o Amor, fez milagres por amor, deu o
exemplo do amor dando-nos a maior prova. É tudo isso que tem peso aos olhos de
Deus, tal é a sua glória. E já durante a última ceia, Ele anuncia a sua
ressurreição predizendo que em breve Ele não estará mais
entre eles, do mesmo modo como está
no momento em que lhes fala, mas
tornar-Se-á presente através do amor que os seus discípulos terão uns para com
os outros: que eles se amem como Ele os amou! Este amor será o sinal pelo qual
serão reconhecidos como seus discípulos. Jesus não quer que tudo pare com a sua
partida, serão os seus discípulos que O tornarão presente se se amarem como Ele
os amou… se forem servos como Ele foi servo para lhes dar o exemplo… se
refizerem os gestos e disserem as palavras da última ceia… Isto para fazer
memória d’Ele, isto é, recordar- se, tornar presente, esperar o seu regresso…
se eles O reconhecem, a Ele o Senhor, sob os traços do mais pequeno entre os
irmãos. Jesus de Nazaré já não está entre nós, mas Cristo ressuscitado está bem
no meio de nós, hoje. Há que reconhecê-lo para O testemunhar pelo amor!
ORAÇÃO
Deus, Pai do teu novo Povo, nós Te bendizemos por
toda a obra que cumpriste com Paulo e Barnabé. Através deles, abriste às nações
pagãs, de quem descendemos, a porta da fé. Nós Te pedimos
pelos pastores das Igrejas, a fim de
que cheguem a designar
“anciãos” como guias em todas as tuas comunidades.
Deus que estás sentado no trono e que fazes novas
todas as coisas, Pai do teu Povo, nós Te louvamos pela nova Jerusalém, a tua
morada no meio dos homens, que se realiza cada vez que rezamos. Nós Te confiamos os nossos
irmãos e irmãs que estão em provação: que chegue o dia em que Tu lhes enxugarás
as lágrimas dos seus olhos dissipando toda a tristeza.
Guiados pelo teu Espírito, nós Te
glorificamos, Pai, com o teu Filho Jesus. Nós Te bendizemos pela glória, que é a tua presença vivificante, e na
qual Tu comunicas conosco pela Palavra e pelo Pão. Nós Te pedimos: que o teu Espírito nos
fortaleça, para que possamos viver segundo o mandamento novo que nos deste pela
palavra e pela vida do teu Filho Jesus.
Meditação para a semana...
«Como Eu vos amei”. Exigência deste “como”… porque
Jesus não fingiu nos amar! Ao longo desta semana, vamos encontrar homens, mulheres, jovens, crianças…
Como vamos amá-los “como Jesus”? Isto é, sem
fingimentos, gratuitamente, sinceramente, dando-nos a eles
com o melhor de nós mesmos… A nossa vida de batizados deve ser sinal no
meio da descrença e da indiferença do mundo. Segundo o amor que teremos uns
para com os outros… todos verão que somos discípulos de Cristo!
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