06-março-2016 - 4º Domingo da Quaresma- Lc
15,1-3.11-32
A liturgia nos convida à descoberta do Deus do amor,
empenhado em nos conduzir a uma vida de comunhão com Ele. O Evangelho nos apresenta o Deus/Pai que ama
de forma gratuita, com um amor fiel e eterno, apesar das escolhas erradas e da
irresponsabilidade do filho rebelde. E esse amor está lá, sempre à espera, sem condições, para
acolher e abraçar o filho que decide voltar. É um amor entendido na linha da
misericórdia e não na linha da justiça dos homens. A segunda leitura nos convida a acolher a
oferta de amor que Deus nos faz através de Jesus. Só reconciliados com Deus e
com os irmãos podemos ser criaturas novas, em quem se manifesta o homem Novo. A primeira leitura, a propósito da
circuncisão dos israelitas, nos convida à conversão, princípio de vida nova na
terra da felicidade, da liberdade e da paz. Essa vida nova do homem renovado é
um dom do Deus que nos ama e que nos convoca para a felicidade.
Reflexão:
Péguy dizia da parábola do filho pródigo: “Aquele que a
ouve pela centésima vez, é como se a ouvisse pela primeira vez”. Conhecemo-la
de cor… É preciso parar longamente, saboreá-la ainda e sempre. Podemos hoje
pensar na seguinte frase: “Bem desejava ele matar a fome com a comida que os
porcos comiam, mas ninguém lhas dava”. Parece que não diz nada de importante.
Mas pode ser a frase-chave da parábola. A verdadeira miséria do filho mais novo
é de não ter ninguém que esteja atento a ele, que o olhe. Para os seres
humanos, o olhar é vital. Quando o olhar não é transparente, acontecem desvios,
recusa do amor, os seres humanos tornam-se
inimigos em vez de serem irmãos e irmãs, acontece desconfiança, inveja,
indiferença. O filho mais novo morre da falta de um olhar de amor, sente fome
de amor. Jesus quer mudar esta situação, renovando relações em que o amor possa
circular de novo. Jesus lança o seu olhar de amor sobre nós, sobre cada um de
nós. Um olhar que é fonte de vida! Um olhar do qual não podemos fugir!
• A primeira chamada de atenção vai para o amor do Pai:
um amor que respeita absolutamente as decisões – mesmo absurdas – desse filho
que abandona a casa paterna; um amor que está sempre lá, fiel e inquebrável,
preparado para abraçar o filho que volta. Repare-se: mesmo antes do filho falar
e mostrar o seu arrependimento, o Pai manifesta-lhe o seu amor; é um amor que
precede a conversão e que se manifesta antes da conversão. É num Deus que nos
ama desta forma que somos chamados a confiar neste tempo de “mudança”.
• Esta parábola nos alerta também para o sem sentido e a
frustração de uma vida vivida longe do amor do “Pai”, no egoísmo, no
materialismo, na auto-suficiência. Convida-nos a reconhecer que não é nos bens
deste mundo, mas é na comunhão com o “Pai” que encontramos a felicidade, a
serenidade e a paz.
• Esta parábola nos convida, finalmente, a não nos deixarmos
dominar pela lógica do que é “justo” aos olhos do mundo, mas pela “justiça de
Deus”, que é misericórdia, compreensão, tolerância, amor. Com que critérios julgamos os nossos irmãos: com os critérios da
justiça do mundo, ou com os critérios da misericórdia de Deus? A nossa
comunidade é, verdadeiramente, o espaço onde se manifesta a misericórdia de
Deus?
Tal é a questão dos fariseus e dos escribas. Tal foi a
questão do filho mais velho da parábola, ao descobrir a festa organizada para o
regresso de seu irmão. Com efeito, Jesus aproximava-Se dos publicanos e dos
pecadores, chegando mesmo a fazer-Se convidar por eles, o que O tornava impuro
aos olhos daqueles que se julgavam puros. O Pai do pródigo vai atirar-se ao
pescoço do filho que julgava perdido e cobre-o de beijos. Por quê? Porque se
encheu de compaixão. Assim, este pai também se torna impuro tocando o filho que
regressa, depois de uma vida de desordem, de um país estrangeiro onde tinha
guardado porcos, tantas situações que o declaravam impuro…
Como os fariseus e os escribas, o filho mais velho recusa
entrar em casa, julga-se puro. A um como a outro, o pai continua a dizer “meu
filho”. A cada um de lhe responder “meu pai”. Este pai tinha feito a partilha
dos seus bens, respeitando a liberdade do filho que decide partir… Este mesmo
pai suplica ao filho mais velho para se juntar à festa, respeitando a sua
liberdade… Um dia, talvez, alegrar-se-á também com o seu regresso…
ORAÇÃO.
Deus fiel, nós Te damos graças pela terra prometida na qual nos acolheste desde
o nosso batismo; é o teu Povo, o Corpo eclesial de teu Filho, que Tu alimentas
com o sopro do teu Espírito Santo. Nesta
Quaresma, tempo de partilha, nós Te confiamos as nossas ações em favor do
desenvolvimento e de uma mais justa repartição dos bens da terra. Que o teu
Espírito nos guie e nos inspire.
Pai misericordioso e paciente, nós Te damos graças pela
reconciliação que nos concedeste por Cristo e pela missão de perdão e de
reconciliação que nos confias.Nós Te pedimos: pelo teu Espírito Santo, ilumina
os nossos pensamentos, muda os nossos corações, inspira-nos as iniciativas de
perdão e de paz que se impõem para o bem das nossas famílias e dos que estão ao
nosso lado.
Pai misericordioso, nós Te damos graças pela grande festa
dos reencontros de cada domingo. Preparas-nos a mesa para nos acolher, remindo
os nossos pecados e enchendo-nos com o teu Espírito. Com o filho perdido e
reencontrado nós Te pedimos: Pai, pecamos contra ti, cura os nossos espíritos e
os nossos corações, dá-nos o teu Espírito Santo.
Meditação para a semana…
A segunda parte da parábola deste domingo é uma crítica à conduta do filho mais
velho… uma crítica da nossa própria conduta, nós que estamos ao serviço de Deus
sem nunca ter desobedecido gravemente às suas leis. Somos observantes, fazemos
o que devemos fazer, mas depressa podemos nos mostrar duros e desprezíveis:
quando fechamos a porta ao nosso filho que desviado do bom caminho…, quando
cortamos as pontes com um parente…, quando olhamos de lado para os diferentes
de nós…
E, entretanto, Deus não nos julga!
Ele é paciente, suplica-nos para
compreender: “Tu, meu filho, estás sempre comigo…”
fonte:
www.dehonianos.org
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