21-fevereiro-2016- 2º
Domingo da Quaresma - Lc 9,28b-36
As leituras deste domingo nos
convidam a refletir sobre a nossa “transfiguração”, a nossa conversão à vida
nova de Deus; nesse sentido, nos são apresentadas algumas pistas. A primeira
leitura nos apresenta Abraão, o modelo do crente. Com Abraão, somos convidados
a “acreditar”, isto é, a uma atitude de confiança total, de aceitação radical,
de entrega plena aos desígnios desse Deus que não falha e é sempre fiel às
promessas.A segunda leitura nos convida a renunciar a essa atitude de orgulho,
de auto-suficiência e de triunfalismo, resultantes do cumprimento de ritos
externos; a nossa transfiguração resulta de uma verdadeira conversão do
coração, construída dia a dia sob o signo da cruz, isto é, do amor e da entrega
da vida. O Evangelho nos apresenta Jesus, o Filho amado do Pai, cujo êxodo (a
morte na cruz) concretiza a nossa libertação. O projeto libertador de Deus em
Jesus não se realiza através de esquemas de poder e de triunfo, mas através da
entrega da vida e do amor que se dá até à morte. É esse o caminho que nos
conduz, a nós também, à transfiguração em Homens Novos.
Reflexão:
“Este é o meu Filho, o meu
Eleito: escutai-O”. A voz vinda da nuvem pede-nos para escutar Jesus. Prestar
atenção ao que o outro diz… Isso nem sempre é fácil, é necessário estar
interiormente disponível ao outro, fazer um tempo de paragem interior, um tempo
de silêncio para poder dar ao outro espaço para que possa se exprimir. É
preciso acolher o que o outro quer nos dizer, sem quaisquer preconceitos ou
filtros… Todo o diálogo verdadeiro implica tal escuta, exige uma lenta e
paciente aprendizagem do silêncio exterior, mas sobretudo, o que é ainda mais
difícil, do silêncio interior. Hoje, trata-se se escutar o Filho que Deus
escolheu. Ora, Jesus nada diz aos três discípulos. Entretém-se com Moisés e
Elias, que simbolizam a Lei e os Profetas, isto é, toda a Escritura, toda a
Palavra que Deus dirigiu ao seu Povo. A sua única presença torna-se, de fato,
uma palavra em ato. Eles manifestam que toda a Revelação tem o seu cumprimento
em Jesus. É preciso, pois, “escutar o Filho” porque nele encontramos tudo o que
Jesus quer nos dizer, hoje. Não precisamos procurar novas luzes noutros
lugares, nas visões ou revelações de várias espécies… Tudo nos é dado em Jesus.
Eis porque nos colocarmos na escuta da Palavra que é Jesus é de uma importância
capital, se queremos ser verdadeiramente discípulos de Cristo. É uma das
grandes graças do Concílio Vaticano II haver dado todo o seu lugar à Palavra de
Deus, na liturgia e na vida dos cristãos, uma Palavra recebida pessoalmente e ouvida
na Igreja. O tempo da Quaresma nos é oferecido, precisamente, como uma ocasião
para nos colocarmos mais na escuta da Palavra de Deus que Se fez carne. Oxalá
possamos aproveitar para aprofundar o nosso silêncio interior, tornando-nos
mais atentos ao que Jesus quer dizer, a
cada um e a cada uma de entre nós e à nossa comunidade.
• O fato fundamental deste
episódio reside na revelação de Jesus como o Filho amado de Deus, que vai
concretizar o plano salvador e libertador do Pai em favor dos homens através da
doação da vida, da entrega total de Si próprio por amor. É dessa forma que se
realiza a nossa passagem da escravidão do egoísmo para a liberdade do amor. A
“transfiguração” anuncia a vida nova que daí nasce, a ressurreição.
• Os três discípulos que
partilham a experiência da transfiguração recusam-se a aceitar que o triunfo do
projeto libertador do Pai passe pelo sofrimento e pela cruz. Eles só concebem
um Deus que Se manifesta no poder, nas honras, nos triunfos; e não entendem um
Deus que Se manifesta no serviço, no amor que se dá. Qual é o caminho da Igreja
de Jesus (e de cada um de nós, em particular): um caminho de busca de honras,
de busca de influências, de promiscuidade com o poder, ou um caminho de serviço
aos mais pobres, de luta pela justiça e pela verdade, de amor que se faz doação?
É no amor e no dom da vida que buscamos a vida nova aqui anunciada?
• Os discípulos,
testemunhas da transfiguração, parecem também não ter muita vontade de “descer
à terra” e enfrentar o mundo e os problemas dos homens. Representam todos
aqueles que vivem de olhos postos no céu, mas alienados da realidade concreta
do mundo, sem vontade de intervir para o renovar e transformar. No entanto, a
experiência de Jesus obriga a continuar a obra que Ele começou e a “regressar
ao mundo” para fazer da vida uma doação e uma entrega aos homens nossos irmãos.
A religião não é um “ópio” que nos adormece, mas um compromisso com Deus que Se
faz compromisso de amor com o mundo e com os homens.
ORAÇÃO:
“Deus de Abraão, Deus de nossos pais na fé, nós Te reconhecemos como o Pai do
Povo inumerável dos crentes, que Tu multiplicaste como as estrelas do céu e a
areia do deserto. Nós Te bendizemos. Nós Te pedimos por todos os crentes que se
reconhecem filhos de Abraão em diferentes confissões. Que o teu Espírito nos
guie para a unidade”.
Pai, nós Te damos graças,
porque nos nomeaste cidadãos dos céus e nos deste os modelos de Jesus e dos
Apóstolos para nos guiar.Que o teu Espírito, pelo seu poder, transforme os
nossos pobres corpos à imagem do corpo glorioso de teu Filho, que esperamos
como Salvador. Confirma a nossa esperança”.
“Deus de luz, bendito
sejas por estes momentos de oração em cada domingo. Tu nos transportas sobre a
montanha, com Jesus e os discípulos. É bom estarmos aqui, na tua presença. Nós
Te pedimos: abre o coração e o espírito de todos os fiéis cristãos à Palavra
viva do teu Filho bem-amado, para que o escutemos”.
Meditação para a semana. .
.
«Este é o meu Filho, o meu
Eleito: escutai-O»… O catecismo de muitos de entre nós está bem distante, a
nossa bagagem religiosa talvez esteja leve: eis a Quaresma, a ocasião para
recuperar energias. Como? Trata-se de ir às fontes, às raízes, aos fundamentos!
Esta fonte é Jesus Cristo. “Escutai-O”, diz a voz que se faz ouvir das nuvens:
vinde beber a sua Palavra! Abrimos o Livro onde corre esta fonte de água viva?
Será que ao lermos os
Evangelhos – este ano o Evangelho de Lucas – abrimos os ouvidos e deixamo-nos
pôr em questão pelo Mestre?
fonte:
www.dehonianos.org
Nenhum comentário:
Postar um comentário