A liturgia nos diz,
de forma clara e inquestionável, que o amor está no centro da experiência
cristã. O que Deus pede – ou antes, o que Deus exige – a cada cristão, é que
deixe o seu coração ser submergido pelo amor.
O Evangelho nos diz, de forma clara e inquestionável, que toda a
revelação de Deus se resume no amor – amor a Deus e amor aos irmãos. Os dois
mandamentos não podem separar-se: “amar a Deus” é cumprir a sua vontade e
estabelecer com os irmãos relações de amor, de solidariedade, de partilha, de
serviço, até a doação total da vida. Tudo o resto é explicação,
desenvolvimento, aplicação à vida prática dessas duas coordenadas fundamentais
da vida cristã. A primeira leitura nos garante que Deus não aceita a perpetuação de
situações intoleráveis de injustiça, de arbitrariedade, de opressão, de
desrespeito pelos direitos e pela dignidade dos mais pobres e dos mais fracos.
A título de exemplo, a leitura fala da situação dos estrangeiros, dos órfãos,
das viúvas e dos pobres vítimas da especulação dos usurários: qualquer
injustiça ou arbitrariedade praticada contra um irmão mais pobre ou mais fraco
é um crime grave contra Deus, que nos afasta da comunhão com Deus e nos coloca
fora da órbita da Aliança. A segunda
leitura nos apresenta o exemplo de uma comunidade cristã (da cidade grega de
Tessalônica) que, apesar da hostilidade e da perseguição, aprendeu a percorrer,
com Cristo e com Paulo, o caminho do amor e da doação da vida; e esse percurso
– cumprido na alegria e na dor – tornou-se semente de fé e de amor, que deu
frutos em outras comunidades cristãs do mundo grego. Dessa experiência comum,
nasceu uma imensa família de irmãos, unida à volta do Evangelho e espalhada por
todo o mundo grego
Reflexão:
• Mais de dois mil anos de cristianismo criaram uma
pesada herança de mandamentos, de leis, de preceitos, de proibições, de
exigências, de opiniões, de pecados e de virtudes, que arrastamos pesadamente
pela história. Em algum lugar, durante o caminho, deixamos que o inevitável pó
dos séculos cobrisse o essencial e o acessório; depois, misturamos tudo, arrumamos
tudo sem grande rigor de organização e de catalogação e perdemos a noção do que
é verdadeiramente importante. Hoje, gastamos tempo e energias discutindo certas
questões que são importantes (o casamento dos padres, o sacerdócio das
mulheres, o uso dos meios anticonceptivos, as questões acerca do que é ou não
litúrgico, aos problemas do poder e da autoridade, os pormenores legais da
organização eclesial…) mas continuamos a ter dificuldade em discernir o
essencial da proposta de Jesus. O Evangelho deste domingo põe as coisas de
forma totalmente clara: o essencial é o amor a Deus e o amor aos irmãos. Nisto
se resume toda a revelação de Deus e a sua proposta de vida plena e definitiva
para os homens. Precisamos rever tudo,
de forma a que o lixo acumulado não nos impeça de compreender, de viver, de
anunciar e de testemunhar o cerne da proposta de Jesus.
• O que é “amar a Deus”? De acordo com o exemplo e o
testemunho de Jesus, o amor a Deus passa, antes de mais nada, pela escuta da
sua Palavra, pelo acolhimento das suas propostas e pela obediência total aos
seus projetos – para mim próprio, para a Igreja, para a minha comunidade e para
o mundo. Esforço-me, verdadeiramente, por tentar escutar as propostas de Deus,
mantendo um diálogo pessoal com Ele, procurando refletir e interiorizar a sua
Palavra, tentando interpretar os sinais com que Ele me interpela na vida de
cada dia? Tenho o coração aberto às suas propostas, ou fecho-me no meu egoísmo,
nos meus preconceitos e na minha auto-suficiência, procurando construir uma
vida à margem de Deus ou contra Deus? Procuro ser, em nome de Deus e dos seus
planos, uma testemunha profética que interpela o mundo, ou instalo-me no meu
cantinho cômodo e renuncio ao compromisso com Deus e com o Reino?
• O que é “amar os irmãos”? De acordo com o exemplo e o
testemunho de Jesus, o amor aos irmãos passa por prestar atenção a cada homem
ou mulher com quem cruzo pelos caminhos da vida (seja ele branco ou negro, rico
ou pobre, nacional ou estrangeiro, amigo ou inimigo), por sentir-me solidário
com as alegrias e sofrimentos de cada pessoa, por partilhar as desilusões e
esperanças do meu próximo, por fazer da minha vida uma doação total a todos. O
mundo em que vivemos precisa redescobrir o amor, a solidariedade, o
serviço, a partilha, o a doação da vida…
Na realidade, a minha vida é posta ao serviço dos meus irmãos, sem distinção de
raça, de cor, de estatuto social? Os pobres, os necessitados, os
marginalizados, os que alguma vez me magoaram e ofenderam, encontram em mim um
irmão que os ama, sem condições?
Eram numerosas as prescrições na Lei, o que levava talvez
a esquecer o essencial. Jesus, posto à prova por um doutor da Lei, resume os
preceitos num só mandamento, o do Amor, tendo como sujeitos a amar: Deus e o
próximo. Nenhuma concorrência entre si. Se amar a Deus é o primeiro mandamento
e amar o próximo o segundo, Jesus afirma que os dois são “semelhantes”. São
João, o discípulo que Jesus amava, chega a afirmar: “Aquele que diz «amo a
Deus» e não ama o seu irmão é um mentiroso”.
Meditação para a semana. . .
Comprometer-se com uma pessoa particular… Quem é este “próximo” que tenho
dificuldade em amar? O Evangelho deste domingo nos compromete com uma pessoa
particular: através de uma palavra, de um gesto, de um caminho, de uma visita
que traduzirá o amor que temos para com ele.
fonte:
wwwdehonianos.org