17-setembro-2017 -
24º Domingo do Tempo Comum - Mt 18,21-35
A Palavra de Deus que a liturgia do 24º Domingo do Tempo
Comum nos propõe fala do perdão. Apresenta-nos um Deus que ama sem cálculos,
sem limites e sem medida; e nos convida a assumir uma atitude semelhante para
com os irmãos que, dia a dia, caminham ao nosso lado. O Evangelho nos fala de um Deus cheio de
bondade e de misericórdia que derrama sobre os seus filhos – de forma total,
ilimitada e absoluta – o seu perdão. Os crentes são convidados a descobrir a
lógica de Deus e a deixarem que a mesma lógica de perdão e de misericórdia sem
limites e sem medida marque a sua relação com os irmãos. A primeira leitura deixa claro que a ira e o
rancor são sentimentos maus, que não convêm à felicidade e à realização do
homem. Mostra como é ilógico esperar o perdão de Deus e recusar-se a perdoar ao
irmão; e avisa que a nossa vida nesta terra não pode ser estragada com
sentimentos, que só geram infelicidade e sofrimento. Na segunda leitura Paulo sugere aos cristãos
de Roma que a comunidade cristã tem que ser o lugar do amor, do respeito pelo
outro, da aceitação das diferenças, do perdão. Ninguém deve desprezar, julgar ou condenar os irmãos que têm
perspectivas diferentes. Os seguidores de Jesus devem ter presente que há algo
de fundamental que os une a todos: Jesus Cristo, o Senhor. Tudo o resto não tem
grande importância.
Reflexão:
- O Evangelho
deste domingo é sobre a necessidade de perdoar sempre, de forma radical e
ilimitada. Trata-se – todos estamos conscientes do fato – de uma das exigências
mais difíceis que Jesus nos faz. No entanto não há, neste campo, meias palavras,
dúvidas, evasivas, desculpas: trata-se de um valor fundamental da proposta de
Jesus. Ele deu testemunho, em gestos concretos, do amor, da bondade e da
misericórdia do Pai. Na cruz, ele morreu pedindo perdão para os seus
assassinos… Ora o cristão é, antes de mais nada, um seguidor de Jesus.
Pessoalmente, como é que me situo face a isto?
- O perdão e a
misericórdia tornam-se ainda mais complicados à luz dos valores que presidem à
construção do nosso mundo. O “mundo” considera que perdoar é próprio dos
fracos, dos vencidos, dos que desistem de impor a sua personalidade e a sua
visão do mundo; Deus considera que perdoar é dos fortes, dos que sabem o que é
verdadeiramente importante, dos que estão dispostos a renunciar ao seu orgulho
e auto-suficiência para apostar num mundo novo, marcado por relações novas e
verdadeiras entre os homens. Na verdade, a lógica do mundo só tem aumentado a
espiral de violência, de injustiça, de morte; a lógica de Deus tem ajudado a
mudar os corações e frutificado em gestos de amor, de partilha, de diálogo e de
comunhão. Para mim, qual destas duas propostas faz mais sentido? Qual destes
dois caminhos pode ajudar a instaurar uma realidade mais humana, mais
harmoniosa, mais feliz?
- O que significa,
realmente, perdoar? Significa ceder sempre diante daqueles que nos magoam e nos
ofendem? Significa encolher os ombros e seguir adiante quando nos confrontamos
com uma situação que causa morte e sofrimento a nós ou a outros nossos irmãos?
Significa “deixar correr” enquanto forem coisas que não nos afetem diretamente?
Significa pactuar com a injustiça e a opressão? Significa tolerar tudo num
silêncio feito de covardia e de conformismo?
Não. O perdão não pode ser confundido com passividade,
com alienação, com conformismo, com covardia, com indiferença… O cristão,
diante da injustiça e da maldade, não esconde a cabeça na areia, fingindo que
não viu nada… O cristão não aceita o pecado e não se cala diante do que está
errado; mas não guarda rancor para com o irmão que falhou, nem permite que as
falhas derrubem as possibilidades de encontro, de comunhão, de diálogo, de
partilha… Perdoar não significa isolar-se num silêncio ofendido, ou demitir-se
das responsabilidades na construção de um mundo novo e melhor; mas significa
estar sempre disposto a ir ao encontro, a estender a mão, a recomeçar o
diálogo, a dar outra oportunidade.
Este Evangelho nos recorda – talvez ainda de forma mais
clara e concludente – aquilo que a primeira leitura já sugeria: quem faz a
experiência do perdão de Deus, envolve-se numa lógica de misericórdia que tem,
necessariamente, implicações na forma de abordar os irmãos que falharam. Não
podemos dizer que Deus não perdoa a quem é incapaz de perdoar aos irmãos; mas
podemos dizer que experimentar o amor de Deus e deixar-se transformar por Ele
significa assumir uma outra atitude para com os irmãos, uma atitude marcada
pela bondade, pela compreensão, pela misericórdia, pelo acolhimento, pelo amor.
Oração
Pai misericordioso, nós Te bendizemos pela longa aprendizagem ao perdão na qual
formaste o teu povo desde o tempo de Moisés. Nós Te louvamos pela pedagogia da
misericórdia e pelas mensagens de paz. Nós
Te pedimos por todas as populações ainda submetidas ao ciclo infernal do ódio,
do terrorismo, do rancor e da vingança cega.
Cristo ressuscitado, Senhor dos mortos e dos vivos,
bendito sejas pelo teu caminho de Páscoa: Tu conheceste a morte, para dela nos
libertares e nos fazeres partilhar a vida nova que manifestaste pela tua
ressurreição. Nós Te pedimos por todos os batizados: demos-Te a nossa fé,
aderimos a Ti. Que o teu Espírito nos faça viver para Ti.
Pai do céu, Deus de paciência, Tu que perdoaste a nossa
imensa dívida, bendito sejas pelo perdão que liberta das cadeias e livra do
desespero. Nós Te pedimos: que o teu Reino venha aos nossos corações, que todas
as nossas comunidades manifestem a presença do teu Reino na nossa terra, como
um reino de paz, em que o perdão é dado do fundo do coração.
Meditação para a semana. . .
«Senhor, quantas vezes devo perdoar?»
A resposta de Jesus não tem nada de matemática e o perdão
que Ele nos propõe para oferecer aos nossos irmãos é ilimitado – por vezes
também muito difícil. Nesta semana, poderíamos retomar o salmo 102 na oração e
nos deixarmos habitar – impregnar, modelar – pelos seus ensinamentos de ternura, de perdão, de amor, que nos
revelam o Coração d’Aquele que nos convida a perdoar como Ele nos perdoa.
fonte:
www:dehoianos.org
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