A liturgia deste Domingo nos convida a descobrir a
“loucura da cruz”: o acesso a essa vida verdadeira e plena que Deus quer nos oferecer
passa pelo caminho do amor e da doação da vida (cruz). Na primeira leitura, um profeta de Israel
(Jeremias) descreve a sua experiência de “cruz”. Seduzido por Jahwéh, Jeremias
colocou toda a sua vida ao serviço de Deus e dos seus projetos. Nesse
“caminho”, ele teve que enfrentar os poderosos e pôr em questão a lógica do
mundo; por isso, conheceu o sofrimento, a solidão, a perseguição… É essa a
experiência de todos aqueles que acolhem a Palavra de Jahwéh no seu coração e
vivem em coerência com os valores de Deus. A segunda leitura convida os
cristãos a oferecerem toda a sua existência de cada dia a Deus. Paulo garante
que é esse o sacrifício que Deus prefere. O que é que significa oferecer a Deus
toda a existência? Significa, de acordo com Paulo, não nos conformarmos com a
lógica do mundo, aprendermos a discernir os planos de Deus e a viver com coerência. No Evangelho, Jesus avisa os discípulos de que o caminho da vida verdadeira não
passa pelos triunfos e êxitos humanos, mas passa pelo amor e pela doação da
vida (até à morte, se for necessário). Jesus vai percorrer esse caminho; e quem
quiser ser seu discípulo tem de aceitar percorrer um caminho semelhante.
Reflexão:
• Frente a frente, o Evangelho deste domingo coloca a
lógica dos homens (Pedro) e a lógica de Deus (Jesus). A lógica dos homens
aposta no poder, no domínio, no triunfo, no êxito; nos garante que a vida só
tem sentido se estivermos do lado dos vencedores, se tivermos dinheiro em
abundância, se formos reconhecidos e incensados pelas multidões, se tivermos
acesso às festas onde se reúne a alta sociedade, se tivermos lugar no conselho
de administração da empresa, da paróquia. A lógica de Deus aposta na entrega da
vida a Deus e aos irmãos; nos garante que a vida só faz sentido se assumirmos
os valores do Reino e vivermos no amor, na partilha, no serviço, na
solidariedade, na humildade, na simplicidade. Na minha vida de cada dia, estas
duas perspectivas confrontam-se, a par e passo… Qual é a minha escolha? Na
minha perspectiva, qual destas duas propostas apresenta um caminho de
felicidade seguro e duradouro?
• Jesus tornou-Se um de nós para concretizar os planos do
Pai e propor aos homens – através do amor, do serviço, da doação da vida – o
caminho da salvação, da vida verdadeira. Neste texto (como, aliás, em muitos
outros), fica claramente expressa a fidelidade radical de Jesus a esse projeto.
Por isso, Ele não aceita que nada nem ninguém O afaste do caminho da doação da
vida: dar ouvidos à lógica do mundo e esquecer os planos de Deus é, para Jesus,
uma tentação diabólica que Ele rejeita duramente. Que significado e que lugar
ocupam na minha vida os projetos de Deus? Esforço-me por descobrir a vontade de
Deus a meu respeito e a respeito do mundo? Estou atento a esses “sinais dos
tempos” através dos quais Deus me questiona?
Sou capaz de acolher e de viver com fidelidade e radicalidade as propostas de
Deus, mesmo quando elas são exigentes e vão contra os meus interesses e projetos
pessoais?
• Quem são os verdadeiros discípulos de Jesus? Muitos de
nós receberam uma catequese que insistia em ritos, em fórmulas, em práticas de
piedade, em determinadas obrigações legais, mas que deixou para segundo plano o
essencial: o seguimento de Jesus. A identidade cristã constrói-se à volta de
Jesus e da sua proposta de vida. Que nenhum de nós tenha dúvidas: ser cristão é
bem mais do que ser batizado, ter casado na igreja, organizar a festa do santo
padroeiro da paróquia, ou dar-se bem com o padre… Ser cristão é,
essencialmente, seguir Jesus no caminho do amor e da doação da vida. O cristão
é aquele que faz de Jesus a referência fundamental à volta da qual constrói
toda a sua existência; e é aquele que renuncia a si mesmo e que toma a mesma
cruz de Jesus.
• O que é “renunciar a si mesmo”? É não deixar que o
egoísmo, o orgulho, o comodismo, a auto-suficiência dominem a vida. O seguidor
de Jesus não vive fechado no seu cantinho, olhando para si mesmo, indiferente aos dramas
que se passam à sua volta, insensível às necessidades dos irmãos, alienado das
lutas e reivindicações dos outros homens; mas vive para Deus e na
solidariedade, na partilha e no serviço aos irmãos.
• O que é “tomar a cruz”? É amar até às últimas
consequências, até à morte. O seguidor de Jesus é aquele que está disposto a
dar a vida para que os seus irmãos sejam mais livres e mais felizes. Por isso,
o cristão não tem medo de lutar contra a injustiça, a exploração, a miséria, o
pecado, mesmo que isso signifique enfrentar a morte, a tortura, as represálias
dos poderosos.
ORAÇÃO:
Senhor, nós Te louvamos pelo profeta Jeremias e pela disponibilidade que
manifestou nas missões que lhe confiaste. Nós Te louvamos pelo fogo devorador
do teu amor que nos seduz e nos prende a Ti. Nós Te pedimos pelos mensageiros
da tua Palavra e por nós, os teus fiéis, encarregados de testemunhar em toda a
nossa vida. Que o teu Espírito nos torne mais fortes.
Senhor, nós Te damos graças pela vontade de salvação que
nos manifestaste com perseverança desde os tempos antigos e pela adoração
verdadeira à qual o teu Filho nos associa, pelo sopro interior do teu Espírito. Nós Te pedimos: renova as nossas maneiras de
pensar, ensina-nos a reconhecer o que é bom, o que Te é agradável, para a
salvação do mundo.
Jesus, Messias, Filho do Deus vivo, nós Te damos graças
pela tua subida a Jerusalém, para a Paixão, que assumiste com coragem, por
nossa causa, e que mostraste que podia tornar-se um caminho de ressurreição. Quando Te fazemos obstáculo, retidos pela
fraqueza da carne, nós Te suplicamos: livra-nos de ceder à tentação.
Meditação para a semana. . .
Três perfis de discípulos… Através das leituras deste domingo, temos três
perfis de discípulos: PEDRO – que receia a cruz para Jesus mas também para si
mesmo;
PAULO – que nos convida a ultrapassar os modelos do mundo
para que as nossas vidas estejam de acordo com a vontade de Deus;
JEREMIAS – que, apesar de todas as dificuldades
encontradas, se deixa seduzir pelo amor do Senhor.
E nós? Que tipo de discípulos somos?
fonte:
www.dehonianos.org
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