A liturgia nos garante que Deus tem um projeto de salvação
para que o homem possa chegar à vida plena e nos propõe uma reflexão sobre a
atitude que devemos assumir diante desse projeto. Na segunda leitura, Paulo apresenta o projeto
salvador de Deus (aquilo que ele chama “sabedoria de Deus” ou “o mistério”). É
um projeto que Deus preparou desde sempre “para aqueles que o amam”, que esteve
oculto aos olhos dos homens, mas que Jesus Cristo revelou com a sua pessoa, as
suas palavras, os seus gestos e, sobretudo, com a sua morte na cruz (pois aí, na
doação total da vida, revelou-se aos homens a medida do amor de Deus e
mostrou-se ao homem o caminho que leva à realização plena). A primeira leitura recorda, no entanto, que o
homem é livre de escolher entre a proposta de Deus (que conduz à vida e à
felicidade) e a auto-suficiência do próprio homem (que conduz, quase sempre, à
morte e à desgraça). Para ajudar o homem que escolhe a vida, Deus propõe
“mandamentos”: são os “sinais” com que Deus delimita o caminho que conduz à
salvação. O Evangelho completa a
reflexão, propondo a atitude de base com que o homem deve abordar esse caminho
balizado pelos “mandamentos”: não se trata apenas de cumprir regras externas,
no respeito estrito pela letra da lei; mas trata-se de assumir uma verdadeira
atitude interior de adesão a Deus e às suas propostas, que tenha, depois,
correspondência em todos os passos da vida.
Reflexão:
• Os discípulos de Jesus são convidados a viver na
dinâmica do “Reino”, isto é, a acolher com alegria e entusiasmo o projeto de
salvação que Deus quis oferecer aos homens e a percorrer, sem desfalecer, num
espírito de total adesão, o caminho que conduz à vida plena.
• Cumprir um conjunto de regras externas não assegura,
automaticamente, a salvação, nem garante o acesso à vida eterna; mas, o acesso
à vida em plenitude passa por uma adesão total (com a mente, com o coração, com
a vida) às propostas de Deus. Os nossos comportamentos externos têm de
resultar, não do medo ou do calculismo, mas de uma verdadeira atitude interior
de adesão a Deus e às suas propostas. É isso que se passa na minha vida? Os
“mandamentos” são, para mim, princípios sagrados que eu tenho de cumprir,
mecanicamente, sob pena de receber castigos (o maior dos quais será o
“inferno”), ou são indicações que me ajudam a potenciar a minha relação com
Deus e a não me desviar do caminho que conduz à vida? O cumprimento das leis
(de Deus ou da Igreja) é, para mim, uma obrigação que resulta do medo, ou o
resultado lógico da opção que eu fiz por Deus e pelo “Reino”?
• “Não matar”, é, segundo Jesus, evitar tudo aquilo que
cause dano ao meu irmão. Tenho consciência de que posso “matar” com certas
atitudes de egoísmo, de prepotência, de autoritarismo, de injustiça, de
indiferença, de intolerância, de calúnia e má língua que magoam o outro, que
destroem a sua dignidade, o seu bem estar, as suas relações, a sua paz? Tenho
consciência que brincar com a dignidade do meu irmão, ofendê-lo, inventar
caminhos tortuosos para o desacreditar ou desmoralizar é um crime contra o
irmão? Tenho consciência que ignorar o sofrimento de alguém, ficar indiferente
a quem necessita de um gesto de bondade, de misericórdia, de reconciliação, é
assassinar a vida?
• Não podemos deixar, nunca, que as leis (mesmo que sejam
leis muito “sagradas”) se transformem num absoluto ou que contribuam para
escravizar o homem. As leis, os “mandamentos”, devem ser apenas “sinais”
indicadores desse caminho que conduz à vida plena; mas o que é verdadeiramente
importante, é o homem que caminha na história, com os seus defeitos e
fracassos, em direção à felicidade e à vida definitiva.
fonte:
www.dehoninaos.org.
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