17-julho-2016 - 16º Domingo do Tempo Comum - Lc
10,38-42
As leituras nos convidam a refletir o tema da
hospitalidade e do acolhimento. Sugerem, sobretudo, que a existência cristã é o
acolhimento de Deus e das suas propostas; e que a ação (ainda que em favor dos
irmãos) tem que partir de um verdadeiro encontro com Jesus e da escuta da
Palavra de Jesus. É isso que permite encontrar o sentido da nossa ação e da
nossa missão.
A primeira leitura nos propõe a figura patriarcal de Abraão. Nessa figura
apresenta-se o modelo do homem que está atento a quem passa, que partilha tudo
o que tem com o irmão que atravessa o
seu caminho e que encontra no hóspede que entra na sua tenda a figura do
próprio Deus. Sugere-se, em consequência, que Deus não pode deixar de
recompensar quem assim procede.
O Evangelho, apresenta um outro quadro de hospitalidade e de acolhimento de
Deus. Mas sugere-se que, para o cristão, acolher Deus na sua casa não é tanto
embarcar num ativismo desenfreado, mas sentar-se aos pés de Jesus, escutar as
propostas que, nele, o Pai nos faz e acolher a sua Palavra.
A segunda leitura nos apresenta a figura de um apóstolo (Paulo), para quem
Cristo, as suas palavras e as suas propostas são a referência fundamental, o
universo à volta do qual se constrói toda a vida. Para Paulo, o que é necessário
é “acolher Cristo” e construir toda a vida à volta dos seus valores. É isso que
é preponderante na experiência cristã.
Reflexão:
Esta página de Evangelho serviu, muitas vezes, para
distinguir a vida ativa, simbolizada por Marta, e a vida contemplativa,
simbolizada por Maria. Jesus rebaixaria a primeira para ressaltar a segunda…
Mas esta distinção não estava, certamente, nem no espírito de Jesus nem de São
Lucas! Como compreender a resposta de Jesus: “Marta, Marta, andas inquieta e
preocupada com muitas coisas, quando uma só é necessária. Maria escolheu a
melhor parte, que não lhe será tirada”? Em primeiro lugar, precisamos dizer que Jesus não despreza o trabalho de Marta.
Ele apreciou a refeição que ela tão bem preparou. Mas Ele quer chamar a atenção
para uma “hierarquia de valores”: “O homem não vive só de pão, mas de toda a
Palavra que sai da boca de Deus”. O pão para o corpo é indispensável, a Palavra
de Deus é ainda mais vital para aquele que quer encontrar o verdadeiro sentido
da sua vida. As grandes testemunhas do amor concreto, ao longo da história da
Igreja, compreenderam bem que a fecundidade da sua ação decorria, antes de mais
nada, da intimidade que tinham com o Senhor. A autenticidade da nossa contemplação
verifica-se pela qualidade do nosso empenho na construção de relações
fraternas, para amar como Deus nos ama. Colocar-nos na escuta da Palavra de
Deus, não quer nos fazer sair do mundo
real, mas nos reenvia à nossa vida quotidiana. É à luz de Jesus que poderemos
colocar-nos a escutar verdadeiramente os outros, a acolhê-los como Ele nos
acolhe. Em todos os seus encontros, Jesus manifesta total disponibilidade para
cada um, como se a pessoa encontrada fosse única no mundo. Ele quer dar-Se a Si
próprio, porque o seu Pai Se dá primeiro a Ele. Assim, reservar tempo para
escutar a Palavra, para nos retirarmos no segredo do nosso coração e para
rezar, não é perder tempo. É enraizar a nossa ação no único “terreno” capaz de
a vivificar verdadeiramente, para que ela dê fruto na vida eterna. Não é
preciso opor Marta e Maria, mas uni-las, vivificar o serviço de uma pela escuta
atenta da outra.
O que apreciamos numa refeição entre amigos não é, antes
de mais nada, que o molho esteja bom ou que a toalha esteja bem posta, mas a
qualidade da partilha, a escuta de cada um, a sinceridade dos sentimentos.
Marta, recebendo Jesus, parece pensar apenas no que pode fazer para bem O acolher.
Não arrisca, desse modo, esquecer o seu hóspede com tudo o que Ele é e tudo o
que tem para dizer? Muitas vezes, opôs-se a ação à contemplação. Marta é ativa,
mas não reserva o tempo para escutar. Maria escuta para poder pôr em prática a
Palavra de Deus proferida por Jesus: nisso é uma verdadeira discípula. Quando
agimos, não esqueçamos o essencial: o crescimento do nosso ser e o respeito do
ser dos outros.
• Em nosso tempo se vive a uma velocidade
estonteante… Para ganhar uns minutos, arriscamos a vida porque “tempo é
dinheiro” e perder um segundo é ficar para trás ou deixar acumular trabalho que
depois não conseguimos “digerir”. Mudamos de fila no trânsito incontáveis vezes para ganhar uns metros, passamos
semáforos vermelhos, comemos de pé ao lado de pessoas para quem nem olhamos,
chegamos em casa exaustos, enervados, vencidos pelo cansaço e pelo stress, sem
tempo e sem vontade de brincar com os filhos ou de lhes ler uma história e
dormimos algumas horas com a consciência de que amanhã tudo vai ser igual…
Claro que estas são as exigências da vida moderna; mas, como é possível, neste
ritmo, guardar tempo para as coisas essenciais? Como é possível encontrar
espaço para nos sentarmos aos pés de Jesus e escutarmos o que Ele tem para nos
propor?
• Nas nossas comunidades cristãs e religiosas,
encontramos pessoas que fazem muitas coisas, que se dão completamente à missão
e ao serviço dos irmãos, que não param um instante… É ótimo que exista esta
capacidade de doação, de entrega, de serviço; mas não podemos nos esquecer que o ativismo
desenfreado nos aliena, nos massacra e asfixia. É preciso encontrar tempo para
escutar Jesus, para acolher e “ruminar” a Palavra, para nos encontrarmos com
Deus e conosco mesmos, para perceber os desafios que Deus nos lança. Sem isso,
facilmente perdemos o sentido das coisas e o sentido da missão que nos é
proposta; sem isso, facilmente passamos a agir por nossa conta, passando longe
do que Deus quer de nós.
• Esta época do ano – tempo de férias escolares, de
evasão, de descanso – é um tempo privilegiado para invertermos a marcha
alienante que nos massacra. Que este tempo não seja mais uma corrida
desenfreada para lugar nenhum, mas um tempo de reencontro conosco, com a nossa
família, com os nossos amigos, com Deus e com as nossas prioridades. A oração e
a escuta da Palavra podem nos ajudar a repensar a nossa vida e a redescobrir o
sentido da nossa existência.
• Qual é a nossa perspectiva da hospitalidade e do
acolhimento? Esta leitura sugere que o verdadeiro acolhimento não se limita a
abrir a porta, a sentar a pessoa no sofá, a ligar a televisão para que ela se
entretenha sozinha, e a correr para a cozinha para lhe preparar um banquete magnífico;
mas o verdadeiro acolhimento é dar atenção àquele que veio ao nosso encontro,
escutá-lo, partilhar com ele, a fazê-lo sentir o quanto nos preocupamos com
aquilo que ele sente…
• A atitude de Jesus – que, contra os costumes da
época, aceita Maria como discípula – faz-nos, mais uma vez, pensar nas
discriminações que, na Igreja e fora dela, existem, nomeadamente em relação às
mulheres. Fará algum sentido qualquer tipo de discriminação, à luz das atitudes
que Jesus sempre tomou?
ORAÇÃO
“Deus, que nenhuma inteligência pode atingir, fazes-nos ver o mistério da tua
personalidade nos três mensageiros que enviaste a Abraão e que falam a uma só
voz. Proclamamos a tua glória. Nós Te recomendamos todos os profissionais e os
voluntários da hospitalidade, nos seus trabalhos da saúde, da entreajuda e da
hotelaria. Torna-nos receptivos à tua vinda na pessoa do próximo”.
“Pai, bendito sejas, porque nos fizeste conhecer o
mistério escondido desde as origens, mas revelado em Jesus, teu Filho, presente
no meio de nós; nós Te damos graças pelos apóstolos, que puseram completamente
ao teu serviço. Nós Te pedimos pelos teus mensageiros, que revelam ao nosso
mundo o mistério da tua presença e do teu amor. Que a esperança da tua glória
os apoie nas suas dificuldades”.
“Cristo Jesus, Palavra de vida, luz do mundo, sabedoria
eterna, Tu nos ofereces a melhor parte, que ninguém nos pode tirar; bendito
sejas pela tua vinda e pela tua presença nos nossos bairros, nas nossas casas e
nas nossas vidas. Nós Te confiamos as nossas assembléias e as nossas reuniões:
que o teu Espírito nos torne sem cessar atentos ao único necessário, a tua
presença”.
Meditação para a
semana…
O acolhimento de Marta ou o de Maria? Qual será o nosso acolhimento nesta
semana, para aqueles que vamos encontrar e que são Cristo no nosso caminho?
Deixarmo-nos absorver, como Marta, por tudo aquilo que vamos fazer para eles?
Ou antes, ao jeito de Maria, procurar partilhar um tempo gratuito com eles,
sentarmo-nos, parar um pouco para os escutar?…
fonte:
www.dehonianos.org
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