A Apresentação do Senhor é a festa de Cristo « luz dos
povos », e do encontro (« Ypapanti ») do Messias com o seu povo, no Templo de
Jerusalém.
A liturgia de hoje é o ponto culminante do natal do
Senhor, porque indica o modo como se deu a encarnação do Filho de Deus e a que
ela se destina. Cristo assumiu todos os condicionamentos da humanidade, até
mesmo se submeteu à lei de Moisés, pela qual era regido o povo ao qual
pertenceu. Além do contexto histórico, geográfico e econômico, o evangelho
mostra que a vida terrestre do “Filho do Altíssimo” (Lc 1,32) estava inserida
em um contexto cultural e religioso particular. Também o destaque dado ao tipo de
sacrifício realizado por sua família (Lv 5,6-7; 12,6) manifesta que ele não
somente assumiu nossa humanidade, mas se fez pobre entre os pobres.
Os primeiros versículos (22-24) do evangelho proclamado
na liturgia de hoje tratam especificamente da manifestação (epifania) do
messiado de Jesus a partir do cumprimento dos ritos de iniciação na religião da
sua família, o judaísmo. Jesus e Maria, recém-nascido e parturiente,
submeteram-se a tudo que a lei de Moisés indicava a respeito do nascimento de
um menino primogênito (Lv 12,1-8; Ex 13,2.12-13). Pela circuncisão (Lc 2,21), Jesus tinha sido oficialmente
marcado como membro de Israel, ingressando na aliança feita com os patriarcas e
com os descendentes deles desde Abraão até os escravos libertos do Egito. No
momento da circuncisão, de acordo com a lei dada por Deus a Moisés, foi imposto
o nome do menino: ele foi chamado Jesus, conforme o anjo havia orientado.
Naquela cultura, o nome designava a identidade e a missão da pessoa. Jesus quer
dizer “Deus salva”. Isso significa que Deus nunca desistiu de salvar o mundo
por meio de Israel e que cumpriu essa promessa mediante um israelita fiel,
Jesus de Nazaré. Ao se tornar oficialmente membro do povo da aliança, Jesus
realizou em sua vida, morte e ressurreição a vocação que Abraão e seus
descendentes haviam recebido.
Pelo rito de iniciação à religião judaica, ou seja, de
pertença à antiga aliança, Jesus não somente deveria ser circuncidado, mas
também resgatado. O primeiro rito remetia aos patriarcas e o segundo, à
libertação do Egito. O ritual do resgate estava vinculado à Páscoa, quando os
primogênitos dos hebreus tiveram a vida poupada e se tornaram consagrados a
Deus (Ex 13,11-15; Nm 18,15-16). O resgate significava que o primogênito era
trocado por uma quantia em dinheiro e, a partir de então, podia deixar o
santuário e voltar ao convívio familiar. Propositalmente, Lucas não menciona o resgate de Jesus,
que, à semelhança dos levitas (Nm 3,45), continuará sempre pertencendo a Deus.
Em vez do resgate do primogênito, Lucas narra a apresentação de Jesus, evocando
a entrada do Senhor no santuário para realizar uma grande purificação (Ml
3,1-4). Ao dizer que o menino foi purificado, o evangelho está afirmando que
Israel inteiro foi igualmente purificado por meio dele. Aqui cabe um esclarecimento sobre o significado de
purificação. Esse termo nem sempre denota algo negativo; nesse trecho do
evangelho, a impureza não é moral, mas ritual (Lv 12,2-4) e significa apenas
que, após aqueles ritos, as pessoas eram reinseridas na esfera da vida
comunitária, de forma análoga a uma âmbula que, após ser purificada, deixa o
sacrário e pode ser mantida junto com outros objetos. A segunda parte do evangelho de hoje (vv. 25-40) fala
sobre o reconhecimento do Cristo pelos representantes dos piedosos que
esperavam a vinda do Messias, ou seja, a consolação de Israel, a qual, conforme
Is 40,1, é sinônimo da salvação que vem de Deus. Os “pobres de Javé” reconhecem
o Messias libertador naquele frágil recém-nascido. Primeiramente, aparece Simeão. Seu hino de louvor é
também um discurso de despedida, como acontece no livro do Deuteronômio, que
fecha o Pentateuco (Torah) com longa despedida de Moisés. O velho Simeão
reconhece que a esperança de Israel converge para aquele menino, o qual
realizará a libertação de Jerusalém, a cidade santa, que no Antigo Testamento
representa todos os escolhidos de Deus. Além disso, o menino é uma luz que
parte de Israel para as nações pagãs e será um sinal de contradição, pois
diante dele todos terão de tomar uma decisão. Nesse sentido, ele será
soerguimento para alguns e queda para outros, pois diante dele se revelarão as
intenções dos corações.
Em seguida, Ana é mencionada. O nome dela significa
“graça”, “favor”. Ao fazer referência à família de Ana como pertencente ao clã
de Fanuel, Lucas alude a uma experiência mística do patriarca Jacó e a todos
aqueles que sempre desejaram ver Deus face a face (Gn 32,30). Também a menção à
tribo de Ana é algo bastante significativo, porque, no antigo Israel, a tribo
de Aser ficava ao norte (Js 17,10); isso mostra que Ana era uma profetisa da
Galileia e, portanto, seria considerada pelos legalistas de Jerusalém como
suspeita de heresia. No entanto, é ela, e não os líderes religiosos da época,
quem reconhece Jesus como Messias.
Reflexão para a semana. . .
A “apresentação do
Senhor” no Templo de Jerusalém revela que, desde o início da sua caminhada
entre os homens, Jesus escolheu um caminho de total fidelidade aos mandamentos
e aos projetos do Pai. Ao oferecer-Se a Deus em oblação, ao ser “consagrado” ao
Pai, Jesus manifesta a sua disponibilidade para cumprir fiel e
incondicionalmente o plano salvador do Pai até às últimas consequências, até ao
dom total da própria vida em favor dos homens.
Que valor e que importância tem em nossas vidas o projeto de Deus?
Procuramos identificar a vontade de Deus e com ela ajustarmos
a nossa vida, em total doação e entrega, ou deixamos que sejam os nossos projetos e esquemas
pessoais a ditar as opções e as coordenadas de nossa vida?
fontes:
www.dehonianos.org
www.vidapastoral.com.br
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