A liturgia deste 8º Domingo do Tempo Comum propõe-nos uma
reflexão sobre as nossas prioridades. Recomenda que dirijamos o nosso olhar
para o que é verdadeiramente importante e que libertemos o nosso coração da
tirania dos bens materiais. De resto, o cristão não vive obcecado com os bens
mais primários, pois tem absoluta confiança nesse Deus que cuida dos seus
filhos com a solicitude de um pai e o amor gratuito e incondicional de uma mãe.
O Evangelho convida-nos a buscar o essencial (o “Reino”) por entre a enorme
bateria de coisas secundárias que, dia a dia, ocupam o nosso interesse.
Garante-nos, igualmente, que escolher o essencial não é negligenciar o resto: o
nosso Deus é um pai cheio de solicitude pelos seus filhos, que provê com amor
às suas necessidades. A primeira leitura
sublinha a solicitude e o amor de Deus, desta vez recorrendo à imagem da
maternidade: a mãe ama o filho, com um amor instintivo, avassalador, eterno,
gratuito, incondicional; e o amor de Deus mantém as características do amor da
mãe pelo filho, mas em grau infinito. Por isso, temos a certeza de que Ele
nunca abandonará os homens e manterá para sempre a aliança que fez com o seu
Povo. Na segunda leitura, Paulo convida
os cristãos de Corinto a fixarem o seu olhar no essencial (a proposta de
salvação/libertação que, em Jesus, Deus fez aos homens) e não no acessório (os
veículos da mensagem).
REFLEXÃO:
• A primeira grande questão que, neste texto, Jesus nos
coloca é a questão das nossas prioridades. Dia a dia somos bombardeados com um
conjunto de propostas mais ou menos aliciantes, que nos oferecem a chave da
felicidade e da vida plena: o dinheiro, o êxito profissional, a progressão na
carreira, a beleza física, os aplausos das multidões, o poder… E estes ou
outros valores semelhantes – servidos por técnicas de publicidade enganosa –
tornam-se o “objetivo final” na vida de tantos dos nossos contemporâneos. No
entanto, Jesus garante-nos que a vida plena não está aqui e que, se estes
valores se tornam a nossa prioridade fundamental, a nossa vida terá sido um
tremendo equívoco. Para Jesus, é no “Reino” – isto é, na aposta incondicional
em Deus e no acolhimento do seu projeto de salvação/libertação – que está o
segredo da nossa realização plena.
• As propostas equívocas de felicidade criam, muitas
vezes, desorientação e confusão. Ao encherem o coração do homem de ídolos com
pés de barro, afastam o homem de Deus e deixam-no perdido e sem referências, só
diante de um mundo hostil – como criança perdida, indefesa, impotente. Jesus
lembra-nos, porém, que Deus é um Pai cheio de solicitude e de amor,
permanentemente atento às necessidades dos filhos (Ele até veste os lírios do
campo e alimenta as aves do céu…). Ele convida-nos a colocar a nossa confiança
e a nossa esperança nesse Pai que nos ama e a enfrentar o dia a dia com essa
serena confiança que nos vem da certeza de que Deus é nosso Pai, conhece as
nossas dores e necessidades e nos pega ao colo nos momentos mais dramáticos da
nossa caminhada.
• A referência à incompatibilidade entre Deus e o
dinheiro convida-nos a uma particular reflexão neste campo… O dinheiro é, hoje,
o verdadeiro centro do poder no mundo. Ele compra consciências, poder,
bem-estar, projeção social, reconhecimento e até compra amor. Por ele mata-se,
calcam-se aos pés os valores mais fundamentais, renuncia-se à própria
dignidade, envenena-se o ambiente (que interessa o buraco do ozônio, a poluição
dos rios, o desaparecimento das florestas, se isso fizer mais ricos os donos do
mundo…), escravizam-se os irmãos. Quando a lógica do “ter mais” entra no
coração do homem e o domina, o homem torna-se escravo e, por sua vez, leva a
escravidão aos outros homens. Torna-se injusto, prepotente e explorador, passa
indiferente ao lado dos irmãos que vivem abaixo do limiar da dignidade humana,
deixa de ter tempo para gastar com aqueles
que ama (o amor do dinheiro sobrepõe-se a todos os outros amores), relega Deus
para a lista dos valores secundários, acha o “Reino” proposto por Jesus “uma
absurda quimera”.
Meditação para a semana. . .
Como nos situamos face a tudo isto?
Quais são as minhas prioridades?
Em que é que eu tenho apostado incondicionalmente a minha
vida?
Se tivermos que optar (não em termos teóricos, mas nas
situações concretas da vida) entre o dinheiro e os valores do “Reino”, qual é
que escolhemos?
fonte:
www.denhonianos.org